Se, por um lado, há heresias e modismos pseudopentecostais na igreja brasileira, observo que, por outro, existe o antipentecostalismo, cujos proponentes verberaram impiedosamente contra os cristãos pentecostais, a ponto de os tacharem — com “ch” mesmo! — de ignorantes, analfabetos e hereges.
Todos sabem que sou pentecostal. Pertenço à Assembleia de Deus desde os meus 15 anos. Creio na atualidade da manifestação multiforme do Espírito Santo, conforme 1 Coríntios 12.4-6, passagem que menciona a diversidade de dons, ministérios e operações do Consolador. E, por isso, neste quarto artigo, quero mostrar o outro lado da moeda: o antipentecostalismo.
Nos artigos anteriores, mostrei que o pseudopentecostalismo é uma aberração. Mas abraçar o antipentecostalismo é outro grande erro. Respeito os irmãos cessacionistas. Tenho amigos que pertencem a igrejas que não aceitam o culto pentecostal, convivemos pacificamente e até participamos de eventos evangelísticos, literários, etc. O que é inaceitável é ver uma parte dos cessacionistas — pequena, na verdade — verberarem contra a centenária Assembleia de Deus e outras igrejas pentecostais, associando-as ao pseudocristianismo.
Os antipentecostais, sem fazer nenhuma distinção, dizem que os pentecostais não obedecem às Escrituras. Asseveram que a promessa do revestimento de poder do Espírito foi apenas para os dias dos apóstolos. Mas, não estão eles ignorando passagens claras da Palavra de Deus, como Joel 2.28,29, Lucas 24.49, Atos 2.39, 1 Coríntios 12-14, 1 Tessalonicenses 5, etc.?
Não devemos abrir mão da sobrenaturalidade do verdadeiro Evangelho, expressa mediante dons, ministérios e operações que se manifestam na Igreja (e não apenas no culto), os quais são descritos com muita clareza no Novo Testamento. Por que os antipentecostais insistem em afirmar que as línguas e a profecia cessaram? É pecado falar em línguas? Pecado é zombar, escarnecer do que a Palavra do Senhor apresenta como manifestação proveniente do Espírito, desprezá-la ou fazer mau uso dela (1 Co 14; 1 Ts 5.19-21).
Citando Paulo, os antipentecostais asseveram que “havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas cessarão” (1 Co 13.8). Ora, esse apóstolo disse isso depois de enfatizar que nada teria valor sem o amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5.5). Línguas, profecias, ciência e fé perdem o sentido sem o amor (vv.1,2). Se não tivermos o amor de Deus, “havendo ciência, desaparecerá” (v.8), isto é, ela não terá valor algum. Mas nenhum dos opositores do Movimento Pentecostal afirma que a ciência desapareceu...
E, quanto à fé? Caso não haja o amor, com certeza ela “desaparecerá”, posto que o fruto do Espírito gerado em nós molda o nosso caráter, fazendo com que virtudes eficazes se manifestem com o amor, primeiro elemento desse fruto (Gl 5.22; 1 Co 12.31; 13.1). Todos os outros “gomos” são diferentes expressões dessa preciosa virtude: gozo é o amor regozijando-se; bondade, o amor em ação; fé, o amor crendo; e assim por diante (Ef 5.9; 2 Pe 1.5-9; Cl 3.12-16).
Quanto ao batismo com o Espírito — que é diferente de ser batizado no Corpo de Cristo pelo Espírito (cf. 1 Co 12.13) —, trata-se de um revestimento de poder para o cristão (Lc 24.49; At 1.8). E a promessa desse poder diz respeito “a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.39). Um revestimento se aplica a quem já está vestido, não é mesmo?
Eu sei que, para os antipentecostais, é difícil abrir mão da interpretação — equivocada — de que as línguas mencionadas em 1 Coríntios 14.18 eram idiomas aprendidos neste mundo, como hebraico ou grego. Mas, em 1 Coríntios 14.2, está escrito: “Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios”. Se as línguas estranhas são idiomas aprendidos, por que ninguém as entende?
Se as línguas mencionadas por Paulo são deste mundo, por que ele disse que é preciso orar para interpretá-las? Observe: “ore para que a possa interpretar” (1 Co 14.13). Além disso, o termo “mais” (gr. mallon) indica que Paulo falava em línguas mais frequentemente (e não em mais idiomas) que os crentes de Corinto.
Sabemos que há falsificadores da Palavra (2 Co 2.17), mas abrir mão do poder do alto por causa dos falsos profetas é privar-se das armas da nossa milícia, que não são deste mundo (Lc 10.19; 2 Co 10.4). Lembremo-nos de que, no Novo Testamento, há três nãos que não podemos ignorar: “não proibais falar línguas” (1 Co 14.39); “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias” (1 Ts 5.19,20).
Definitivamente, não é um bom caminho fazer pouco caso dos sinais, prodígios e maravilhas que o próprio Senhor Jesus apresentou como o efeito da pregação do Evangelho (Mc 16.15-20; At 4.30,31; 8.13).
Ciro Sanches Zibordi
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