É antibíblico o bordão: “Deus ama o pecador, mas odeia o pecado”?

Um dos assuntos do momento nas redes sociais e blogs evangélicos dos Estados Unidos gira em torno da possibilidade de Deus odiar os pecadores. De um lado, alguns citam o clichê: “Deus ama o pecador, mas odeia o pecado”. De outro, há os que defendem a ideia de que o Senhor odeia, sim, pessoas pecadoras, e não apenas os seus pecados.

Faço algumas perguntas aos queridos leitores: O ódio pode ser considerado um dos atributos do amoroso Salvador? O fato de Deus ser justo e santo implica que condenará pessoas ao Inferno por ódio, como um justiceiro que quer ver o pecador impenitente sofrer por toda a eternidade? Sinceramente, vejo — tanto no Antigo como no Novo Testamentos — que o Senhor castiga e condena pessoas, mas não faz isso por ódio.

Alguém argumentará: “Deus se vinga dos pecadores. Ele mesmo afirmou: ‘Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o SENHOR’ (Rm 12.20)”. Mas isso não significa que essa recompensa ao pecador seja uma vingança cheia de ódio. Afinal, o Senhor afirma, em sua Palavra: “não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva” (Ez 33.11).

Não nego a verdade bíblica de que o Justo Juiz, além de aborrecer as obras dos ímpios (Sl 1; 11; Pv 6), os condenará ao Inferno (Ap 20.11-15). Mas Ele os condenará porque é justo e santo, e não por ódio ou sentimento de vingança. Deus é amor, e não ódio. Ele ama de modo incondicional. Seu amor é imensurável. Ele é justo, e não um justiceiro.

Deus não condenará o pecador contumaz ao Inferno por ódio. Mesmo conhecendo de antemão os nomes de todos os condenados, Ele não os odeia, mas os ama. Muita gente acredita que Judas era um vaso da ira, uma “figurinha carimbada”, “escolhido de antemão” para trair o Salvador. Mesmo que eu acreditasse nisso, não há como provar que o Senhor Jesus odiava o Iscariotes, ao qual dirigiu as seguintes palavras de misericórdia: “Amigo, a que vieste?” (Mt 26.50).

Observe o tratamento que o Senhor Jesus — o Deus encarnado — dispensou aos seus inimigos. Segundo a Palavra do Senhor, “quando o injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pe 2.23).

Sem perder de vista, também, o que está escrito em Romanos 5.8: “Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”, olhemos para a vida do Deus-Homem, o nosso paradigma (1 Co 11.1; 1 Jo 2.6). A qual pecador o Senhor Jesus odiou, ao andar na terra? Pergunto isso, pois, se Deus odeia o pecador, o seu Filho, como a expressa imagem de sua Pessoa (Hb 1.3), devia ter odiado os pecadores impenitentes.

Quando Jesus entrou no Templo e expulsou os que o profanavam, fez isso com ódio em seu coração? Ele bateu em alguém? Não! Apenas mostrou que aborrecia as obras daqueles pecadores. Fez o que fez por amor, e não por ódio. Na cruz, pediu ao Pai: “perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Em que momento Ele demonstrou ter ódio dos seus algozes?

Lembra-se da lamentação do Senhor Jesus contida em Lucas 13.34? “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?” Estava o Salvador com o coração repleto de ódio, naquela ocasião? Não! Seu coração estava cheio de misericórdia por um povo que não merecia seu amor!

“Ah, mas Jesus demonstrou que odiava os fariseus! Ele os chamou de hipócritas, condutores cegos, etc., em Mateus 23. Isso não é uma demonstração de que Ele os odiava?” — alguém poderá perguntar. Não, não é. Se verberar contra pessoas usando adjetivos pesados denota ódio, então o Senhor odiava o pastor de Laodicéia, haja vista tê-lo chamado de desgraçado, miserável, pobre, cego e nu (Ap 3.17,18). Aliás, Ele disse àquele obreiro, depois de tal verberação: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo” (v.19).

Evoco, finalmente, Mateus 9.36: “E, vendo a multidão, teve grande compaixão deles, porque andavam desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor”. Se a tese do ódio de Deus aos pecadores fosse verdadeira, o Senhor teria sentido compaixão apenas dos pecadores pretensamente eleitos para a vida eterna. Mas Ele teve compaixão da multidão pecadora, desgarrada e errante.

Na verdade, Deus é amor e ama até os pecadores condenados, que, um dia, Ele mesmo terá de lançar no Inferno por causa de suas santidade e justiça.

Ciro Sanches Zibordi

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