Há pouco tempo atrás, chamou-me muito a atenção a breve história de um conselheiro real da época de Davi chamado Aitofel (II Samuel 16:15 – 17: 23). Analisando seus sinais, características e reações percebi que muitos de nós também sofremos do mesmo padrão de comportamento. Em homenagem ao nosso personagem, batizei esse mal de Síndrome de Aitofel. Vejamos as características dessa síndrome:
Discernimento avantajado. A primeira característica que percebi foi que essa pessoa possui um discernimento muito acima da média. Aitofel era o conselheiro do Rei Davi e após a rebelião de Absalão tornou-se conselheiro do novo rei (II Samuel 16:20,23). Um bom conselheiro consegue perceber situações que os outros não conseguem. Assim como a coruja, enxerga na escuridão e, por isso, é tido por sábio entre os demais.
Conhecimento bíblico. Outra característica dessa pessoa é que, pelo fato de ter um conhecimento maior das escrituras o seu conselho geralmente é recebido como se fosse uma instrução direta de Deus. “O conselho que Aitofel dava naqueles dias era como resposta de Deus a uma consulta” (II Sm 16:23). Com isso grande respeito e autoridade Aitofel conquistou no meio do povo.
Orgulho Espiritual. Porém, essa síndrome traz uma característica mortal; o orgulho. Aitofel não suportou quando o rei preferiu o conselho de Husai ao seu conselho. Ele se sentiu tão humilhado que se enforcou! (II Sm 17:23). Somente uma pessoa com tamanho orgulho poderia chegar a tal extremo. Naquele momento, era Aitofel que necessitava receber conselhos. O orgulho de Aitofel cegou seu entendimento e o impossibilitou de perceber a ação de Deus uma vez que Bíblia nos diz que foi o próprio Senhor que fez dissipar o bom conselho de Aitofel (II Sm 17:14). Essa síndrome produz esse estranho paradoxo: conseguimos enxergar muito bem para os outros sem dar-mos conta que estamos cegos.
Talvez essa história de Aitofel tenha me chamado tanta a atenção porque me identifiquei com ele. Que vergonha reconhecer que tenho essa síndrome latente dentro de minha alma. Tenho uma resistência interna em valorizar o conselho dos outros quando é oposta à minha opinião. Tenho dificuldade em apreciar ao meu próximo e considerar os outros superiores a mim mesmo (Fp 2:3). Infelizmente, também vejo ao meu redor muitas outras pessoas que possuem essa mesma síndrome. Assim como aconteceu com Aitofel, o efeito dela é mortal. Porque ela trabalha contra a paz, a alegria e o amor. A comunhão genuína e sadia desaparece dando lugar a amargura, desconfiança e divisão. A síndrome de Aitofel trabalha contra a vontade de Deus e impede o quebrantamento do cristão. Enquanto estamos sendo ouvidos e respeitados perdura uma delicada comunhão mútua. Mas quando somos confrontados ou ignorados tomamos atitudes estranhas que, muitas vezes, trazem morte.
O apostolo Paulo tinha todas as credenciais para desenvolver tal síndrome. Devido ao seu grande zelo e fervor era referência para os judeus e, após sua conversão, rapidamente tornou-se referência para os cristãos. Ele literalmente apanhou muito até ser curado. Ele diz: “para que não me ensoberbecesse foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (II Co 12:7). A palavra “esbofetear” significa “dar bofetada após bofetada”. Ao longo da historia de Paulo não tem como não perceber o quanto ele sofreu fisicamente: cinco vezes recebeu uma quarentena de açoites menos um, três vezes fustigado com varas, apedrejado e outros tantos infortúnios (II Co 11: 24-27). Paulo sentiu-se fraco. Sentiu-se impotente diante de tanto sofrimento, mas, ao invés de se enforcar ele correu para Deus. E, ao buscar a Deus descobriu que o poder se aperfeiçoa na fraqueza. Após o seu diagnóstico, a síndrome de Aitofel só pode ser curada pelo uso constante da abundante graça de Deus através da vida de Cristo.
Apesar de conhecer bem a teoria, tenho dificuldade de colocá-la em pratica. Quando sou “esbofeteado” tento me defender, quando sou desprezado me refugio na minha auto-compaixão. Perco a santa oportunidade de correr para Deus e encontrar n’Ele consolo e graça. Ao enxergarmos a soberana mão de Deus em todas as coisas iniciamos o nosso tratamento. Ao sermos esbofeteados, entramos no processo de cura. O sabor do remédio pode ser um pouco amargo, mas santifica a nossa alma e fortalece o nosso espírito.
“Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injurias, nas necessidades, nas perseguições, nas angustias por amor de Cristo. Porque quando sou fraco, então é que sou forte.” (II Co 12:10)
http://pensamentosdeumperegrino.blogspot.com
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