8. A Terceira Visão: O Cordeiro e
seus Seguidores (14:1-5)
Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o
monte sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil tendo nas frontes escrito o
seu nome e o nome do seu Pai. 2Ouvi uma voz do céu como voz de
muitas águas, como voz de grande trovão; também a voz que ouvi era como de
harpistas quando tangem as suas harpas. 3Entoavam novo cântico
diante do trono, diante dos quatro seres viventes, e dos anciãos. E ninguém pôde
aprender o cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados
da terra. 4São estes os que não se macularam com mulheres, porque
são castos. São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. São os que
foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro; 5e
não se achou mentira na sua boca; não têm mácula.
O cenário da terceira
visão leva-nos de volta ao Salmo 2. O "enfurecimento" dos gentios, e
sua vã tentativa de derrubar a soberania divina foi amplamente demonstrada;
agora é tempo de nos lembrarmos que "eu, porém, constituí o meu rei sobre
o meu santo monte sião". É aqui, no Monte sião, que ele está e o seu povo
encontra-se ao seu redor.18 Os cento e quarenta e quatro mil são a
igreja de Cristo, todos são o povo de Deus.19 No contexto da visão
geral que estamos tendo do Apocalipse, não há nada, nesta passagem, que possa
levar-nos a qualquer outra conclusão. Eles são chamados pelos nomes de Deus e
de Jesus Cristo; eles são os remidos, e sabem a canção dos remidos; castidade,
verdade e pureza caracterizam-nos como santos do Altíssimo. São os seguidores,
ou discípulos de Cristo, e os primeiros frutos da sua colheita. Os que seguem
o Cordeiro formam a civitas Dei, a cidade (ou o estado de Deus, em
oposição àqueles que adoram a besta que procede do mar, que formam o estado
pervertido de Satanás. Também nestes versículos nada existe que indique que os
144.000 representam somente a igreja triunfante, e que estejamos olhando para o
mundo daqueles que já partiram, ou para o futuro. As duas primeiras visões
descrevem este mundo e o tempo presente, e a não ser que tenhamos razões para
supor o contrário, devemos aceitar que a terceira visão faz o mesmo. Está de
acordo com as Escrituras falar da igreja toda, dos mortos e dos vivos, que
estão com Deus no Monte sião, que apesar de não ser uma localização terrestre,
é uma realidade espiritual (Hb 12:22; Ef 2:6; Jo 4:20-24).
A castidade dos 144.000
tem causado discussões desnecessárias. Como tudo mais, no Apocalipse, é
simbólica, especialmente se levarmos em conta que a Bíblia não atribui nenhum
valor específico ao celibato e, constantemente, recomenda a instituição do
casamento. 20 Em um paradoxo similar, Cristo endossa o que a lei diz
acerca do cuidado que uma pessoa deve ter para com seus pais, mas ele também
diz que nós devemos odiá-los se queremos segui-lo.21 Porém nós sabemos
o que ele quer dizer. O amor aos pais deve ser de tal forma ultrapassado pelo
amor por ele que, comparando-se os dois, o primeiro parecerá ódio. Da mesma forma,
Jesus defende a idéia de que é parte essencial do matrimônio a consagração
total dos cônjuges, um ao outro (Mt 19:3,6);então ele diz aqui, no versículo
4, que seguir o Cordeiro significa uma consagração tão completa no plano
espiritual que, comparada com quaisquer outras vinculações, estas últimas
seriam como que inexistentes.
9. A Quarta Visão: Os Anjos da Graça,
da Destruição e da Advertência (14:6-13)
Vi outro anjo voando pelo meio do
céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e
a cada nação, e tribo, e língua e povo, 7dizendo, em grande voz:
Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai
aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. 8Seguiu-se
outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a
beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição. 9Seguiu-se
a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta
e a sua imagem, e recebe a sua marca na fronte, ou sobre a mão, 10também
esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da
sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na
presença do Cordeiro. 11A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos
dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores
da besta e da sua imagem, e quem quer que receba a marca do seu nome. 12Aqui
está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé
em Jesus. 13Então ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve:
Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. sim, diz o
Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os
acompanham.
A visão de abertura mostrou a parte
do mundo controlada por Satanás; o sistema social surgiu na primeira visão e o
aspecto religioso na segunda. A terceira, o reverso da primeira, mostrou os
membros da sociedade divina, para que esperássemos que a quarta (correspondente
à segunda) mostrasse a mensagem dessa mesma sociedade. E isto é exatamente o
que encontramos. A palavra "anjo" significa mensageiro, e ele traz
uma tríplice mensagem.
O primeiro
anjo fala sobre a graça. Ele tem um evangelho para proclamar: boas novas de
como relacionar-se de modo correto com Deus. É o evangelho básico, mais básico
até do que aquele que foi pregado por Paulo aos pagãos que se encontravam em
Listra ou em Atenas22; é o evangelho que foi pregado a Adão no Éden,
antes que a relação entre ele e Deus fosse arruinada; é o evangelho hipotético
com o qual Cristo desafiou o intérprete da lei em Lucas 10:28, quando disse:
"Faze isto, e viverás". A primeira parte da mensagem é: "Reconhecei
Deus como Criador e Juiz, como o Princípio e o Fim da vossa existência e tudo
vos irá bem".
Mas nem tudo
vai bem, e o segundo anjo vai dizer por que. A Babilônia a que o anjo se
refere tem toda uma cena dedicada a si mesma mais adiante, e por isso vamos
discuti-la de modo mais completo no futuro. Por hora é suficiente dizer que a
Babilônia nada mais é do que outra figura da besta que emerge do mar, o sistema
mundial que está em constante rebelião contra Deus. A mensagem deste anjo é que
o espírito da Babilônia contaminou todas as nações e, como resultado, os
homens tornaram-se incapazes de responder ao evangelho pregado pelo primeiro
anjo; mas apesar de todo o poder que ela tem, ainda assim ela está condenada à
completa destruição.
O terceiro
anjo traz, portanto, um desafio pessoal. Todo aquele que se identificar com o
sistema caracterizado pela besta, Babilônia, partilhará do seu destino e ainda
terá que beber "do vinho da cólera de Deus" (vs. 9 a 11); todo o que
se identificar com Cristo também compartilhará o futuro do Senhor,
experimentando a vida eterna (vs. 12 a 13).
Este é o
contra-ataque de Deus a todas as mentiras da besta que emerge da terra, uma
mensagem acerca do "pecado, da justiça, e do juízo" (Jo 16:8). É mais
razoável supor, neste contexto, que a quarta visão, como as outras três,
descreve o que está acontecendo através da história do cristianismo; as duas
frases, que parecem indicar alguma data futura, podem ser perfeitamente
entendidas como verdades do tempo presente.23
Durante todo o período
daqueles "três anos e meio" estes quatro poderes estarão em
permanente conflito. No livro Who Moved the Stone? (Quem Moveu a Pedra?)
de Frank Morison, há um capítulo intitulado "Um Paralelograma Psicológico
de Forças". E o padrão que encontramos aqui no Apocalipse reflete bem
isso. De um lado, o estado, ou melhor, o sistema — a raça humana
organizada social e politicamente como o dragão a deseja, com as estruturas de
poder dispostas de tal forma que os propósitos do dragão sejam sempre alcançados.
Depois encontramos, do mesmo lado, as ideologias que existem para justificar o
sistema e dar-lhe um aspecto quase religioso, e características místicas. Na
posição contrária às nações (o mundo que jaz sobre o poder do dragão),
encontramos a nação santa, uma nação distinta (1 Pe 2:9): a igreja, a
sociedade que foi redimida por Deus. No último canto, em oposição às ideologias
que formam a força do mundo controlado pelo dragão, encontramos o evangelho da
verdade que dá forças à igreja de Deus. Todos os eventos da História podem
ser considerados parte do conflito que existe entre essas quatro forças, duas
de um lado, e duas do outro; a oposição é real em termos da mensagem e em
termos das diferenças que existem entre as sociedades das quais os grupos
emanam e nos quais se manifestam.
10. A Quinta Visão: A Última Ceifa
(14:14-20)
Olhei, e eis uma nuvem branca, e
sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma
coroa de ouro, e na mão uma foice afiada. 15Outro anjo saiu do
santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a
nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a
seara da terra já secou. 16E aquele que estava sentado sobre a nuvem
passou a sua foice sobre a terra e a terra foi ceifada. 17Então saiu
do santuário, que se encontra no céu, outro anjo, tendo ele mesmo também uma
foice afiada. 18Saiu ainda do altar outro anjo, aquele que tem a autoridade
sobre o fogo, e falou em grande voz ao que tem a foice afiada, dizendo: Toma a
tua foice afiada, e ajunta os cachos da videira da terra, porquanto as suas
uvas estão amadurecidas. 19Então o anjo passou a sua foice na terra
e vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus. 10E
o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos
cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios.
"A ceifa
é a consumação dos séculos" quando os anjos serão enviados para colher
tanto os perversos como os justos (Mt 13:30,39). Em contraste com a primeira
visão, onde as quatro bestas de Daniel 7 foram fundidas em uma, a quinta visão
distribui a ceifa entre quatro personagens distintos: dois para executarem a
ceifa e dois para dizerem quando ceifar. A vindima, que se destina ao lagar da
cólera de Deus, e produz grande corrente de sangue, é a ceifa dos perversos; a
terra será banhada de sangue, de uma até a outra extremidade (talvez a
distância de 1600 estádios refira-se ao comprimento da terra de Canaã,
aos 360 Km que vão de Dã a Berseba), mas a cidade de Jerusalém será poupada,
pois dentro dela não há lugar para tal tipo de imundície (Hb 13:11,12). De
acordo com os textos paralelos encontrados nos evangelhos, a outra ceifa,
presumivelmente de trigo, é a ceifa dos justos; embora no Antigo Testamento a
ceifa seja geralmente um símbolo de julgamento trazido somente sobre os
perversos, Cristo falou do ajustamento tanto das sementes boas como das ervas
daninhas, e da pesca de peixes bons e ruins (Mt 13:24ss; 47ss).Cada um dos
ceifeiros, mesmo aquele "semelhante ao filho do homem" (que aceitamos
ser o Senhor Jesus Cristo, apesar de muitos comentaristas discordarem), tem
que aguardar a palavra de autoridade vinda de Deus para começar o trabalho,
pois "a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no
céu, nem o Filho, senão somente o Pai" (Mc 13:32).
Da
mesma forma que em Daniel 7, "um semelhante ao filho do homem" veio
nas nuvens do céu para pôr fim ao domínio das bestas; aqui o seu aparecimento é
o fato decisivo neste conflito cósmico. Durante toda a duração dos três
anos e meio a tensão continuará a existir entre as duas sociedades, entre
os seguidores da besta e os seguidores do Cordeiro, e entre as respectivas
ideologias. A questão terminará somente com a ceifa final, quando em uma das
mãos (para usar uma figura do Antigo Testamento) a iniqüidade dos amorreus
estará completa e, por outro lado, todo Israel estará pronto para ser salvo (Gn
15:16; Rm 11:26).
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