Disse o SENHOR: Ocultarei a Abraão o que estou para fazer, visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra? Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito. Disse mais o SENHOR: Com efeito, o clamor de Sodoma e Gomorra tem-se multiplicado, e o seu pecado se tem agravado muito. Descerei e verei se, de fato, o que têm praticado corresponde a esse clamor que é vindo até mim; e, se assim não é, sabê-lo-ei. Então, partiram dali aqueles homens e foram para Sodoma; porém Abraão permaneceu ainda na presença do SENHOR. (Gn 18.17-22, ARA)
Nenhuma outra instituição social é tão relevante na preservação e transmissão dos princípios e valores bíblicos e cristãos do que a família.
A família cristã é nuclear (formada por pais e filhos), patriarcal (a autoridade maior é a do marido que conta com a cooperação da esposa na liderança do lar) e nasce de uma união (casamento) entre homem e mulher (heterossexual), biologicamente assim definidos.
Em nossa sociedade a rede oficial de ensino (municipal, estadual e federal) é laica, ou seja, não defende nenhuma bandeira religiosa, respeitando todas as manifestações de credos religiosos. Sendo assim, o sistema educacional não tem compromisso com a preservação e perpetuação dos princípios e fundamentos norteadores da fé cristã, trabalhando na grande maioria dos casos, através de educadores também descompromissados, contra a própria fé, mediante a disseminação dos ideais pós-modernos e pós-cristãos, dentre os quais o relativismo moral, o niilismos, o pluralismo religioso e outros.
Com o sistema educacional oficial de fora, restam apenas a igreja e a família na condição de agentes que podem cooperar com a valorização da fé cristã.
Um grande equívoco nos dias atuais é conferir à igreja a maior responsabilidade nesse processo, isentando a família de seu papel fundamental e primordial na educação espiritual, moral e social de seus membros. Cada vez menos se fala ou se trata de questões relacionadas à fé nos ambientes familiares, nos lares cristãos. Exatamente onde mais é necessário menos se trata do assunto, e em alguns casos, menos se vive a fé em sua expressão concreta, através de obras e testemunho pessoal.
“Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele”
Observamos que Deus escolhera Abraão, que na condição de patriarca e líder de sua família, deveria cuidar da ordem em seu lar. Seus filhos, e também as futuras gerações de sua família deveriam ser alcançadas.
“a fim de que guardem o caminho do SENHOR”
A ordenação de seus filhos e das futuras gerações implicava na preservação do “caminho do Senhor”. É interessante destacar o fato de que na época de Abraão não havia ainda Escritura Sagrada, lembrando aqui que os cinco primeiros livros do Antigo Testamento foram escritos por Moisés muitos anos após a geração de Abraão.
No tempo de Abraão o “caminho do Senhor” era transmitido oralmente de geração para geração, através das famílias. Abraão era descendente de Sem, um dos filhos de Noé (Gn 11.11-26), e possivelmente as histórias da criação, do dilúvio e de Babel lhe foram transmitidas.
Apesar de não haver Escritura, além dos feitos passados de Deus, o “caminho do Senhor” consistia nos planos do altíssimo para o presente e o futuro de Abraão e de sua descendência, manifestos pelo próprio Senhor:
“E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12.2-3)
Era em família que a fé em Deus era compartilhada, e onde a sua vontade era buscada. Nos lares cristãos essa realidade precisar ser resgatada.
“e pratiquem a justiça e o juízo;”
A educação promovida em família por Abraão não deveria apenas contemplar a relação com Deus, mas deveria avançar na direção de melhorar as relações entre os indivíduos, promovendo os ideais de justiça através do reto julgar e agir. A justiça é uma realidade vivenciada nas relações sociais, na convivência entre o “eu” e o “tu”.
A educação em família que a Bíblia incentiva tem por objetivo o homem integral. É uma educação completa para o homem completo. É uma educação para o Espírito, alma e corpo. É uma educação que contempla o ser, o saber, o fazer, o cuidar-se e o relacionar-se.
A educação em família deve assim primar pela preservação, fortalecimento e transmissão da fé, e também pela vivência prática e plena dessa fé, manifesta na relação entre os familiares, e na relação dessa família com as demais famílias que formam a sociedade.
“para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito”
As promessas do Senhor feitas em graça para Abraão foram condicionadas ao ensino do “caminho do Senhor” para seus filhos e para as gerações futuras. Era preciso aprender e submeter-se para alcançar a plenitude das bênçãos de Deus. Nossa vida, família e futuras gerações serão abençoadas na medida em que o ensino da fé for fortalecido em família, espaço de convivência e das experiências mais marcantes de nossa existência.
TV, internet, estudos, atividades profissionais e outras distrações estão ocupando todo o tempo da família, comprometendo a comunicação no lar, a qualidade de vida, e com isso, o compartilhamento da fé, o culto doméstico, a oração, a leitura bíblica e a adoração. Nossa casa precisa ser um espaço onde o Senhor tenha a primazia, onde a sua Palavra e a sua vontade seja o fundamento de tudo.
Em meio a uma cultura pervertida ou sodomizada, como aquela dos dias de Abraão, é possível além de um intercessor, ser também um agente de preservação e transmissão da fé e dos valores bíblicos e cristãos na vida em família, para que a bênção do Senhor continue sobre nossos filhos, sobre as futuras gerações, e para a glória de Deus.
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