Lição 2: Oséias - A Fidelidade no Relacionamento com Deus 1

PALAVRAS-CHAVE

- Prostituição (hb. zenunim): adultério, prostituição, devassidão, luxúria, fornicação. No sentido figurado é usada para a prática da idolatria.
- Adultério (hb. na’aph): cometer adultério.
- Fidelidade (hb.’emunah): substantivo utilizado para descrever o caráter verdadeiro e firme de Deus.
- Conhecimento (hb. da‘ath): compreensão, saber, discernimento, percepção e noção (cf. Os 4.1 e 6).
- Conhecer (hb. yadha‘): saber, conhecer de maneira relacional e experimental, conhecer no nível interpessoal (cf. Os 6.3; Gn 29.5; Jó 19.13).


INTRODUÇÃO


Oseias iniciou seu ministério profético no final de um período de grande prosperidade material, durante o reinado de Jeroboão II, rei de Israel (2Rs 14.23-27). No campo espiritual as coisas não iam tão bem, contando com a conivência da liderança da nação (2 Cr 27.2; 2 Rs 15.35), que tolerava e apoiava a idolatria, e com isso a prostituição espiritual era fortalecida e perpetuada.[1]

Para se ter uma ideia da gravidade dos pecados da nação, os termos prostituição, adultério e seus derivados aparecem cerca de 23 vezes no livro com conotação espiritual.

No livro do profeta Oseias estão presentes a denúncia dos pecados da nação, a sentença dos juízos de Deus por causa desses pecados, e a promessa de um tempo de restauração por causa da fidelidade do Senhor.

Os juízos de Deus podem ser conferidos conforme os textos de Oseias 1.4-9; 2.9-13; 3.4; 4.3; 4.7-10; 5.1-15; 7.12-14; 8.5-9; 10.5; 12.14; 13.1-3, 12-16. As promessas de restauração são citadas em Oseias 1.1; 2.14-23; 3.5; 6.1-3; 10.12; 14.4-9.

OS PECADOS DE ISRAEL DENUNCIADOS POR OSEIAS

Nos estudos sobre os Doze Profetas Menores será de fundamental importância detectar os erros ou pecados de Israel, e perceber como os tais se reproduzem na vida da Igreja, para que dessa maneira não incorramos na repetição e na insistência tola dos mesmos. Passemos então a uma breve descrição e análise dos fatos:

- Falta de reconhecimento de que foi o Senhor quem fez Israel prosperar (2.5; 13.6). A soberba pode fazer com que creditemos a nossa prosperidade material aos nossos próprios esforços, ou a ajuda de terceiros (namorados), fazendo com que esqueçamos de que o Senhor é a verdadeira fonte de bênção e riquezas materiais e espirituais. Reconheçamos que tudo vem dele, por sua graça e para a sua glória!

- Olhares lascivos para outros deuses (3.1). Dentro da metáfora da prostituição espiritual, que desencadeou a decadência moral e a crise social em Israel, é preciso ter cuidado para o que se olha, para quem se olha e como se olha. Somos diariamente seduzidos espiritualmente e moralmente, e se não vigiarmos poderemos ser atraídos para “outros deuses”, ou seja, para coisas que ocuparão o lugar do Senhor em nosso coração, assumindo a condição de “deus”, dentre as quais podemos citar os bens materiais, a riqueza, a fama, o poder, a imoralidade sexual e outros males. Como diz a canção evangélica infantil: “Cuidado no olhinho no que vê, cuidado no olhinho no que vê, o Salvador do céu está olhando pra você, cuidado no olhinho no que vê”. É preciso voltar o olhar para o Senhor (4.10; Is 45.22, Hb 12.1-2).

- A multiplicação dos pecados morais e sociais (4.2, 10-14). Perjúrios, mentiras, enganos, homicídios, adultérios, prostituição, luxúria, glutonarias, incontinência, bebedices, desobediência, corrupção, etc. A lista aqui se assemelha muito com as obras da carne de Gálatas 5.19-21. Como se pode ver, os tempos mudam, mas os pecados do povo de Deus permanecem os mesmos.A multiplicação dos pecados morais e sociais tem relação direta com o pecado espiritual de rebeldia e insubmissão a Deus (4.12).Os pecados morais e sociais que hoje se avolumam na Igreja são decorrentes do baixo padrão de vida espiritual dos líderes e do povo em geral.

- A soberba e a autoconfiança (7.10; 10.13). Soberba e autoconfiança caminham de mãos dadas. Dos dois sentimentos nasce o autoengano. Quando associamos tudo isso, o que temos são pessoas que resolvem trilhar os próprios caminhos e confiar nas próprias forças. Igrejas, ministérios, pastores, líderes em geral, membros e congregados caíram nos laços da soberba, da autoconfiança e do autoengano, pensando ser quem não são, pensando ter o que não possuem, pensando fazer o que não podem. Fizeram-se deuses, tornaram-se senhores de si mesmos, estabeleceram o próprio caminho a seguir, a própria vontade a obedecer. O juízo de Deus virá sobre os que não se arrependerem dos seus pecados.

- As alianças reprováveis (7.11). A falta de entendimento faz com que se busque na força do poder temporal o apoio aos projetos institucionais e a proteção da nação (povo de Deus). Precisamos discernir e perceber os limites da relação entre a igreja e o Estado, e entre a igreja e as instituições privadas. Em nome do benefício à “obra”, e em nome da preservação do direito do crente enquanto cidadão, nada justifica a negociação de princípios e de valores cristãos.Nada abona a compra e venda de privilégios ou influências com políticos ou empresários. O Senhor é o nosso provedor e protetor, e duvidar disso é duvidar de seu caráter, verdade, bondade e santidade (7.15).

- O problema com uma liderança não estabelecida por Deus e corrompida (8.4; 9.8-9). A declaração é de que “Eles fizeram reis, mas não por mim; constituíram príncipes, mas eu não o soube;” é grave. Nos dias atuais vivemos a mesma realidade. O povo está fazendo líderes para si, desejando com isso que os tais aprovem e apoiem os seus pecados. Os referidos líderes não possuem nenhuma autoridade espiritual, pois não foram estabelecidos pelo Senhor. São líderes que vivem ou apoiam o pecado do adultério, da união homossexual, do divórcio, da injustiça social, da pluralidade religiosa, do liberalismo teológico e outros. Há líderes e igrejas para todos os gostos e desgostos. E o que falar dos profetas na atualidade (Ef 4.11)? Assim como nos dias de Oseias, muitos já perderam a autoridade profética por se venderem por tão pouco, por estarem a serviço de lideranças corruptas e corruptíveis. Há profetas mercenários, que recebem dinheiro ou privilégios para profetizar conforme a conveniência daqueles que pagam os seus salários ou cachês. Dessa forma: “o profeta é como um laço de caçador de aves em todos os seus caminhos, um inimigo na casa do seu Deus”.

- A edificação de palácios e fortalezas (8.14). A segurança de uma instituição cristã não repousa na riqueza e no valor do seu patrimônio físico e material. Chamo mais uma vez a atenção para toda a sorte de abuso e desperdício dos recursos financeiros da igreja na construção de megas catedrais e de outras imponentes edificações. Sem generalismo ou denuncismo algum, com temor e tremor, pergunto aos nossos amados líderes e companheiros: Não estaríamos cedendo às pressões do “mercado” evangélico, onde o esplendor arquitetônico vale mais do que o próprio culto, e o luxo mais do que a simplicidade e a praticidade? Não estamos cedendo à tentação de “eternizar” os nossos nomes através da construção de obras faraônicas, nabucodonosorianas e constantinianas? Não estamos tentando dar demonstrações de força ministerial, mediante uma competição onde quem faz um templo maior e mais luxuoso é quem parece ter e poder mais? Não poderíamos estar canalizando mais recursos financeiros da igreja para a obra missionária e social? Estamos de fato construindo, edificando “palácios e cidades fortes” para a glória de Deus? Que cada líder e igreja faça uso de sua consciência cristã para responder a tais questões.

Não me coloco aqui na condição de juiz, mas na posição de atalaia do altíssimo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na base de todos os problemas e dos pecados da nação estava o descaso, a negligência, a falta de conhecimento de Deus (hb.da‘ath), ou seja, do discernimento e da percepção de sua ação e vontade. O conhecimento (hb. yadha‘) no sentido de relação pessoal, amizade e intimidade com o Criador estava também comprometido:

Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus na terra. (4.1)

O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. (4.6)

Diante da clareza dos fatos, entendo que a melhor maneira de concluir o presente texto é com a própria exortação do profeta Oseias, e com uma mensagem de esperança:

Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR: como a alva, será a sua saída; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. (6.3)

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