Profetas Menores: Jonas
Jonas, o profeta universal
O livro de Jonas é quase totalmente biográfico, havendo, à parte de sua oração no capítulo 2, apenas uma declaração que se possa chamar de profecia (Jonas 3:4). As experiências pessoais dos outros profetas são, às vezes, narradas em seus livros (Comparar com Oséias 1:3;
Amós 7:10-15 e Jeremias 1:25-29; 36-38), mas nenhum como em Jonas.
Amós 7:10-15 e Jeremias 1:25-29; 36-38), mas nenhum como em Jonas.
I - O homem e sua história - Jonas é identificado por quase todos os eruditos como “Jonas, filho de Amitai”, o qual profetizou a Jeroboão a restauração de Israel aos seus antigos limites (2 Reis 14:25). Sellin declara, sem hesitação nem modificação: “o herói da narrativa é um personagem histórico, que viveu no tempo de Jeroboão II, pouco antes de Amós”. Sua identificação parece estar assegurada, visto que, tanto o nome de Jonas como o de seu pai, não são mencionados em outra parte do Velho Testamento. Ele era natural de Gate-Hefer, na Galiléia, que distava 7 Km. de Nazaré, conhecida pelos árabes modernos como el Meshed (2 Reis 14:25).
Quando Jonas foi chamado por Javé para ir a Nínive, a fim de ali pregar, essa tarefa foi-lhe tão repugnante que ele fugiu “da presença do Senhor” (Jonas 1:3,10), indo para Tarsis, ao sudoeste da Espanha, abandonando sua obra profética. Acredita-se a que Jonas, nesse tempo, já era avançado em idade quando teve o chamado à Nínive.
Mais adiante, na história, é dito francamente o motivo de Jonas para viajar até o Ocidente, aventurando-se no mar, o que era evitado pelos hebreus, em vez de ir para o Oriente: “E orou ao SENHOR, e disse: Ah! SENHOR! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal” (Jonas 4:2). Sem dúvida ele havia ido a Nínive para certificar-se de que Deus iria realmente destruir aquela cidade. Jonas não podia entender porque Deus desejava que ele pregasse a um povo que queria devorar Israel.
Indo a Jope, o principal porto de mar da Terra Santa, ali encontrou um navio que se fazia ao mar, rumo ao Ocidente. Pagou a passagem e embarcou, descendo até o porão, onde foi dormir. Sua consciência também ficou adormecida porque Jonas se enganava, achando que logo estaria longe de Deus.
O mar se enfureceu. Cada marinheiro orava ao seu próprio deus, mas a tempestade continuava. Concluíram, então, que algum deus devia estar ofendido. O piloto do navio foi até Jonas e ordenou-lhe que clamasse ao seu Deus. Os marinheiros, convencidos da existência de algum culpado a bordo, lançaram sortes e esta recaiu sobre Jonas. Perguntaram-lhe ansiosamente de onde ele era natural, qual era a sua ocupação, qual era o seu povo e Jonas confessou francamente que estava fugindo “da presença do Senhor”. Naquele momento ele era apenas um pagão naquele navio. Contudo, redimiu-se ao dizer, voluntariamente, que deveriam lançá-lo ao mar, para conseguirem ser salvos: “Então clamaram ao SENHOR, e disseram: Ah, SENHOR! Nós te rogamos, que não pereçamos por causa da alma deste homem, e que não ponhas sobre nós o sangue inocente; porque tu, SENHOR, fizeste como te aprouve. E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria” (Jonas 1:14-15). Vendo isso, os marinheiros ficaram tão impressionados que “ofereceram sacrifício ao Senhor e fizeram votos” (v. 16).
Dois pequenos versos resumem a história do resgate de Jonas (Jonas 1:17; 2:10). O Senhor preparou um grande peixe para engolir Jonas e nas entranhas deste ele ficou “três dias e três noites”. Duas colunas perto de Alexandria, ao norte de Antioquia, na costa Síria, assinalam o local onde, segundo a tradição, Jonas foi vomitado à terra seca. Contudo Josefo diz que isso aconteceu às margens do Mar Egeu.
Ao chegar em Nínive, entrando nas ruas de Nínive, Jonas começou a clamar: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jonas 3:4).
Só podemos imaginar com que prazer o vingativo profeta anunciou essa admoestação. Claro que alguém poderia imaginar que Jonas pronunciou essas palavras solenes como um austero pregador. Jonas falou apenas cinco palavras . Contudo essas eram palavras de condenação, tendo causado grande impacto, a ponto dos ninivitas se arrependerem e em conseqüência proclamarem um jejum e se cobrirem de sacos, em sinal de arrependimento, o que levou Deus a se arrepender do mal que lhes tinha anunciado, não o tendo feito (Jonas 3:5-10).
Jonas se irritou com a protelação do Senhor em executar juízo contra aquela cidade má. Ficou revoltado, não por sentir-se desacreditado aos olhos humanos dos ninivitas, nem porque sua posição de profeta fosse arruinada pelo fracasso de sua pregação, mas pela clemência Divina em favor de Nínive. Por que continuaria Deus perdoando uma cidade que vivia prejudicando Israel através da guerra e da exigência de tributos cada vez mais pesados?
Por sentir que Deus havia perdido a oportunidade de destruir Nínive e que, por causa disso, o seu próprio povo, mais cedo ou mais tarde, seria condenado à destruição. Melhor seria morrer, diz ele, do que viver mais tempo neste mundo governado por um Deus assim. Em seu desgosto Jonas se assemelha a Elias (1 Reis 19:1-18).
Jonas esperava ver Nínive destruída, aguardando o desfecho lá de cima de um monte, a leste de Nínive, onde fazia muito calor. O Senhor admoestou-o contra a sua ira, mas em vão. Para se proteger do cansaço do calor, Deus fez crescer sobre a cabeça de Jonas, com extrema rapidez, uma aboboreira , com o que Jonas muito se alegrou. Porém, com a mesma rapidez, Deus enviou um verme, o qual feriu a aboboreira e esta se secou (Jonas 4:7). Por causa dessa fatal calamidade Jonas se irou novamente e desmaiou, desejando a própria morte (v. 8). Ele havia se irado porque Nínive fora perdoada e agora se irava porque a aboboreira não fora perdoada. O Senhor lhe responde, comparando a aboboreira à cidade e comparando a compaixão e solidariedade de cada um consigo mesmo, terminando, assim, a história (vs. 9-11).
II - Os tempos do profeta - Como sabemos, Jonas viveu no tempo de Jeroboão II, rei de Israel do Norte, o qual reinou de 790 até 750 a.C. Jeroboão recebera um reino fraco porque desde o tempo de Jeú, seu bisavô, o povo vinha pagando continuamente tributos à Assíria. Sob Jeroboão, sem dúvida, o povo começou a recobrar suas forças anteriores. Ele tomou Hamate e Damasco, restaurando a Israel todo o território que se estende desde Hamate até o Mar Morto, conforme Jonas havia predito (2 Reis 14:25). Em verdade Jeroboão foi o mais poderoso de todos os monarcas que se sentaram no trono de Samaria e havia muitas esperanças de prosperidade quanto ao futuro do reino.
Na Assíria, contudo, as condições prevalecentes eram justamente o oposto. Tudo era desanimador, com a Assíria perdendo terreno. Em outras palavras, Israel crescia, enquanto a Assíria declinava. Foi nessa cidade, portanto, e em tempos muito desanimadores para a Assíria, mas não para Israel, que Jonas foi comissionado a pregar.
III - Análise do Livro - As divisões em capítulos assinalam as suas divisões naturais.
Cap. 1 - A desobediência de Jonas, o qual “fugiu da presença do Senhor”.
Cap. 2 - Sua oração ouvida por Javé.
Cap. 3 - Sua pregação em Nínive -Jonas levantou-se e foi a Nínive.
Cap. 4 - Suas queixas culpando o Senhor.
IV – Os dois grandes milagres -
1. - O grande peixe – A questão não é se pode existir um peixe desse tamanho, a ponto de tragar um homem sem o mutilar. Tubarões gigantes brancos têm sido capturados e a baleia conhecida tecnicamente como “catodon macrocephalus”, a qual poderia tragar não apenas o profeta mas até cavalos. Por exemplo, aquela que foi capturada na costa da Flórida, em 1912, a qual se encontra no museu do Instituto Smithsoniano, em Washington, D.C., com 14,4 metros de comprimento, pesando 14,8 toneladas, e que tinha no estômago, ao ser capturada, um peixe de, aproximadamente, 680 Kg.
É de muito maior importância a questão de como o profeta continuou vivo nas entranhas de um peixe, por três dias e três noites. Ao citarem-se analogias, dão-se explicações. Outro exemplo é o caso do marinheiro que em 1758 caiu de um barco no Mediterrâneo e foi tragado por um tubarão, o qual, por sua vez, ao ser ferido por uma bala de canhão, o vomitou são e salvo. Também existe o caso de um índio tragado por um tubarão e encontrado ainda com vida, após ter sido o animal capturado e aberto, tendo o índio falecido logo depois. O finado professor Macloskie, de Princeton, explicou o caso especial de Jonas, supondo que o profeta “ficou na cavidade da laringe, onde podia respirar mais facilmente do que se estivesse no estômago, onde, provavelmente teria sido sufocado”.
Contudo, essas explicações apologéticas do fenômeno são complicadas e muitas delas descabidas. Porque ou o incidente é histórico e, portanto, um milagre genuíno, ou é uma anedota oriental sem fundamento algum, não proposto nem ensinado. A declaração de que Jonas esteve no ventre do peixe por “três dias e três noites” é a maneira oriental de expressar o fato de que ele esteve tanto tempo dentro de um peixe e que, se não fora pelo poder sustentador de Deus, estaria morto e fora da possibilidade humana de ser restaurado à vida). Penso que o autor, pensava representar a conservação de Jonas na morte ou o seu regresso à vida, como algo sobrenatural.
2. - A conversão de Nínive - Está é a maior maravilha das duas. A do peixe era física, esta é moral. Para muitos a idéia de que uma grande cidade se arrependeu, de repente, através da pregação de um hebreu estrangeiro, é inacreditável. Nínive tinha sido construída com despojos de guerra. Era populosa, tendo mais de 600 mil habitantes [dos quais presumivelmente 120 mil crianças] (Jonas 4:11). Também era opulenta, orgulhosa e bem fortificada. Seus muros tinham por volta de 30 metros de altura. Dentro de sua área havia hortas e jardins e talvez até prados para o muito gado (Jonas 4:11).
Nínive também é descrita como uma cidade “de três dias de caminho” , uma expressão tipicamente oriental. Nada tem a ver com o diâmetro ou com a circunferência da cidade. Nínive é descrita como tendo 480 estádios, cerca de 96 Km. As cidades orientais em geral são construídas de maneira muito compacta. O fato é mais bem referido pela necessidade de três dias para ser visitada em todos os seus pontos principais e de interesse. Por exemplo, um natural da Palestina iria responder, atualmente, do mesmo modo.
Entrando em Nínive, “caminho de um dia” (Jonas 3:4), Jonas começou a pregar e através de sua severa e misteriosa mensagem de arrependimento logo aconteceu um pânico generalizado. Jonas mostrava no semblante o ardor do sobrenatural. Depois daquela experiência no mar, provavelmente ele pregou como alguém que fora levado à morte. Sem dúvida o seu rosto resplandecia com a glória de Deus, como o de Moisés. Seus olhos brilhavam na fronte sisuda, enquanto seus lábios clamavam: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida!” (Jonas 3:4).
Os ninivitas eram ignorantes e supersticiosos, especialmente nesse período em que a rebelião era crônica. Muitas de suas províncias e a cidade estavam sempre em perigo de sitiadores, que poderiam chegar aos seus portões, a qualquer momento, daí ficarem facilmente amedrontados. Em geral é fácil amedrontar os orientais até o ponto em que se tornam fanáticos, anunciando a vinda de algum juízo que seja temido.
Assim, a admoestação solene e imperiosa de Jonas, pronunciada em tons veementes e impetuosos, como o breve sermão de Pedro no Dia de Pentecostes, despertou a consciência adormecida dos ninivitas, que ficaram tomados de pânico pelo temor da iminente calamidade. E logo foi proclamado um jejum e que se vestissem de sacos (Jonas 3:5). E quando o rei ouviu o que acontecia, “levantou-se do seu trono, e tirou de si as suas vestes, e cobriu-se de saco, e sentou-se sobre a cinza” (v. 6)..
O arrependimento dos ninivitas não foi, imagina-se, um arrependimento no sentido cristão. Foi como o de Jonas no navio, temporário e superficial, gerado apenas até onde chegava a sua capacidade intelectual e religiosa, o qual perdura somente enquanto existe o medo. Seu único argumento foi: “Quem sabe se se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?” (Jonas 3:9).
V - O emprego de Jonas por Jesus - Nos sinóticos é dito duas vezes que os escribas e fariseus suplicaram que Jesus lhes desse um sinal de sua condição messiânica e Ele contestou por duas vezes, citando-lhes o caso do profeta Jonas e sua pregação em Nínive (Mateus 12:38-42 e 16:4; Lucas 11:29-32). É possível que o uso deste livro feito por Nosso Senhor possa ajudar-nos a interpretá-lo. É estranho que tantos expositores modernos ignorem por completo essa possibilidade. Naturalmente vamos fazer duas perguntas: a) - Do que buscavam os escribas e fariseus um sinal? Do seu caráter, missão, pretensões messiânicas, o seu direito como judeu de pregar uma redenção universal sobre a base do arrependimento. Ou do que? b) - Em que sentido Ele dava a entender que nenhum sinal lhes seria dado a não ser o do profeta Jonas?
Jesus repreende os escribas e fariseus por insistirem em provas externas. Como Ele sabia, é raro convencer homens que não têm a luz em si. E o próprio Jonas não fez milagre.
VI - Ensino permanente - O autor do Livro de Jonas ensina a teologia mais sublime do Velho Testamento. Na generosidade, no amor pela humanidade e na apreciação do caráter de Deus, este livrinho é preeminente como o mais nobre, o mais liberal e o mais cristão de toda a literatura do vetero-testamentária. Ele contém uma verdade muito avançada para a época de Jonas, verdade que não perderá o valor, enquanto os homens tiverem coração e apreciarem o evangelho.
PR. CLEBER BARROS
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