Lição 3 - A Longa Seca Sobre Israel - 1

A LONGA SECA SOBRE ISRAEL

Os dados meteorológicos atuais nos informam que a seca é um fenômeno climático e como tal é imprevisível a sua ocorrência. Todavia, no contexto do reinado de Acabe, ela ocorreu não somente como algo previsível, mas também anunciado. Não era um fenômeno simplesmente meteorológico, mas profético. Aqui veremos como se deu esse fato e como ele revela a soberania de Deus não somente sobre a história, mas também sobre os fenômenos naturais e como eles podem atender aos seus propósitos.
A historicidade dessa longa seca é atestada no Novo Testamento pelo apóstolo Tiago: “Elias era homem semelhante a nós e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu” (Tg 5.17). Esse é o testemunho do Novo Testamento sobre a ocorrência desse fenômeno. Todavia há registros fora das páginas da Bíblia sobre a sua existência. Os eruditos alemães Keil & Delitzsch comentam que “da história fenícia Josefo (Ant. VIII, 13,2) menciona: ‘abrochia te et autou (sc. Ithobálou) egneto apo tou Yperberetaiou menos heus tou erchomenou etous Yperbetaiou [Durante seu reinado houve uma seca que durou do mês de hiperberetmo até ao mês hiperberetmo do ano seguinte] O hiperberetmo corresponde ao mês Tisri dos hebreus (cf. Benfeyy Stern, Die Monatsnamen, p.18)”.1

O que motivou a seca
Disciplinar a nação
O culto a Baal financiado pelo estado nortista afastou o povo da adoração verdadeira. O profeta Elias estava consciente disso e quando confrontou os profetas de Baal, logo percebeu que o povo não mantinha mais fidelidade ao Deus de Israel: “Então, Elias se achegou a todo o povo e disse: até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o” (1 Rs 18.21). De fato a palavra hebraica asiph, traduzida como pensamentos, mantém o sentido de ambivalência ou opinião dividida.2 A idolatria havia dividido o coração do povo. Para corrigir um coração dividido somente um remédio amargo surtiria efeito (1 Rs 18.37).
Matthew Henry (1999,p.383) observa que Elias “predisse uma severa escassez com a qual Israel ia ser castigado por seus pecados. Proclamou ante o rei, em cujas mãos estava o poder de reformar o país e evitar o castigo. A menos que se arrependesse e se reformasse, haveria de sobrevir sobre o país este castigo. Não haveria chuva nem orvalho nesses anos, senão por sua palavra (v.l). “Orou fervorosamente para que não chovesse” e os seus se fizeram duros como o bronze, até que “outra vez orou, e o céu deu chuva” (Tg 5.17,18). Elias faz saber a Acabe:
1. Que Jehová, a quem ele havia abandonado, era o Deus de Israel.
2. Que era um Deus vivo, não como os deuses que Acabe adorava, que eram ídolos mudos e mortos.
3. Que o mesmo (Elias) era um servo de Deus em missão, um mensageiro enviado por Ele.
4. Que, apesar da atual prosperidade e paz do reino de Israel, Deus estava enjoado com eles por causa de sua idolatria e ia castigar-lhes com a falta de chuva, com que se lhe mostraria a impotência deles e a insensatez de quem havia deixado o Deus vivente para prestar serviço de adoração a deuses que não podiam fazer nem bem nem mal.
5. Fazer saber a Acabe o poder que Deus pôs na palavra do próprio Elias: “não haverá chuva... senão por minha palavra”.3

Revelar a divindade verdadeira
Quando Jezabel veio para Israel não veio sozinha. Ela trouxe consigo a sua religião e uma vontade obstinada de fazer seus deuses o principal objeto de adoração. De fato, observamos que o culto ao Senhor foi substituído pela adoração a Baal e Aserá, principais divindades dos sidônios (1 Rs 16.30-33). A consequência desse ato foi uma total decadência moral e espiritual. Baal era o deus do trovão, do raio e da fertilidade, e supostamente possuía poder sobre os fenômenos naturais. A longa seca sobre o Reino do Norte criou as condições necessárias para que Elias desafiasse os profetas de Baal e provasse que o mesmo não passava de um deus falso (1 Rs 17.1,2; 2 Rs 18.1,2; 21.39).

O Deus de Elias
Se prestarmos atenção aos detalhes dessa passagem (1 Rs 17), descobriremos que três dos principais atributos de Deus são revelados na narrativa da predição da grande seca sobre Israel.
Em primeiro lugar, Ele é o Deus que governa a natureza — Ele é Onipotente! (1 Rs 17.1). A crença cananeia dizia que Baal era o deus que controlava a natureza, inclusive as estações. O comentarista bíblico Lawrence Richards (2010, p. 234) destaca que: “A seca foi uma arma apropriada neste conflito. Baal e Aserá eram deidades da natureza, suspeitos de controlar as chuvas e a fertilidade da terra. Ao anunciar uma estiagem no nome do Senhor, Elias demonstrou conclusivamente que Iahweh, e não Baal, é supremo”.4
Nunca devemos esquecer que o nosso Deus é Onipotente. Foi o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus quem afirmou: “E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível” (Mc 14.36). Saber desse fato é relevante porque uma nova heresia anda à espreita — o teísmo aberto ou teologia relacional. Essa nova crença, que e mais um artifício filosófico do que teológico, argumenta que o Deus da Bíblia é limitado.5 Em outras palavras, ele não é Onipotente; não é Onisciente e nem tampouco Onipresente. Vários Teólogos de renome internacional, tais como: D. A. Carson; John Piper e Bruce A. Ware levantaram suas vozes contra esse ataque à fé cristã.6
Bruce A. Ware (2010, pp.13-15), por exemplo, cita textos da literatura do teísmo aberto onde esse fato é percebido claramente:
“Quando a tragédia entrar em sua vida, por favor, não pense que Deus tem algo a ver com isso! Deus não deseja que a dor e o sofrimento ocorram e, quando isso acontece, ele se sente tão mal com a situação como aqueles que estão sofrendo. Não pense que, de alguma maneira, essa tragédia deva cumprir algum propósito final. E bem provável que não seja assim! O mal que Deus não deseja acontece a todo momento e, com frequência, não serve para nenhum bom propósito. Porém, quando sobrevêm a tragédia, podemos confiar que Deus está conosco e nos ajuda a reconstruir o que se perdeu. Afinal, de uma coisa temos certeza, a saber: Deus é amor. Então, embora não possa evitar que uma boa parcela de coisas ruins aconteça, ele sempre está conosco quando elas acontecem!”7 (grifo nosso).
Palavras bonitas e carregadas de sentimentalismo, mas totalmente fora do ensino sobre a soberania e majestade divinas. Em palavras mais simples, Deus está vendo a coisa acontecer, mas infelizmente ele não pode impedir que ela aconteça! Só lhe resta então lamentar juntamente com você. Uma heresia grosseira! A história de Elias mostra claramente que o nosso Deus pode sim enviar uma seca, como sinal de julgamento, como pode da mesma forma barrar uma catástrofe e suspender seus efeitos.
Em segundo lugar, Ele é o Deus que conhece todas as coisas — Ele é Onisciente! (1 Rs 17.1). Ware continua denunciando em seu texto no que creem os teólogos relacionais. Aqui é a Onisciência de Deus que é atacada. Para o teísmo aberto Deus não sabe de todas as coisas:
“Deus assumiu um risco enorme ao criar um mundo com criaturas morais que poderiam usar sua liberdade para se voltarem contra o que Ele desejava e queria que ocorresse. Por toda a história, vemos evidências de pessoas (e anjos caídos) usando sua liberdade, dada por Deus, para provocar um mal terrível e causar incalculável dor e miséria. E claro que, conquanto Deus não pudesse saber de antemão o que suas criaturas livres fariam, ele certamente nunca quis que aquilo acontecesse! Ele é amor, e não quer que suas criaturas sofram. Mas uma coisa podemos saber com certeza é que Deus vencerá, afinal! Por isso, não se preocupe, pois Deus se certificará de que tudo o que Ele mais deseja que aconteça venha a se cumprir. Você pode confiar nEle de todo seu coração!”8
A profecia de Elias desmonta essa visão limitada sobre Deus, pois o profeta previu que por um espaço de três anos e meio não choveria sobre Israel (1 Rs 17.1; Tg 5.17). Como o profeta saberia que a chuva voltaria somente após três anos e meio? Deus o havia revelado porque somente Ele conhece o futuro.
Em terceiro lugar, Deus não está limitado pelo tempo nem pelo espaço — Ele é Onipresente. Deus pode estar ao mesmo tempo em todos os lugares. Para a teologia cristã isso é confortador, pois jamais estaremos a sós. O Senhor Jesus Cristo afirmou: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.20).
Os teólogos relacionais não acreditam dessa forma. A sua crença deixa o devoto entregue à sua própria sorte e Deus apenas assistindo de braços cruzados:
 “Deus é Deus de amor e, como tal, respeita você e os seus desejos. Ele não é alguém que ‘força’ sua vontade sobre outra pessoa. Desse modo, Deus não está interessado em planejar o seu futuro por você, nem em deixar-lhe sem direito de voz sobre o que fazer em sua vida! Não mesmo. Na verdade, grande parte do futuro ainda não foi planejada e Deus espera que você tome suas próprias decisões e escolha o seu rumo, de maneira que Ele saiba como melhor traçar seus próprios planos. É claro que ele deseja que você o consulte durante o processo, embora o que você vier a decidir seja sua própria escolha, e não dEle. O que Deus deseja é que você e Ele trabalhem juntos, traçando o rumo de sua vida. E você pode estar seguro de que Ele fará tudo o que estiver ao alcance dEle para ajudá-lo a ter a melhor vida que você pode ter.”9
Anteriormente, Deus apenas assistia as coisas acontecerem, mas sem poder fazer nada; depois Ele não tem conhecimento das coisas que ocorrerão e agora assiste as coisas acontecerem impossibilitado de fazer alguma coisa. Esse “deus” não é o Deus de Elias. Não, esse não é o nosso Deus.

Os efeitos da seca
Escassez e fome
Como nordestino, estou familiarizado com a linguagem dos capítulos 17 e 18 do primeiro livro de Reis. Esses capítulos trazem um relato sobre o longo período de estiagem em Israel durante o reinado de Acabe.
Agora mesmo quando escrevo este capítulo, o sul do meu estado, Piauí está sendo duramente castigado por uma severa seca. Centenas de cabeças de gados e outros animais nativos da caatinga e do semiárido nordestino estão morrendo. Os criadores, em um gesto de desespero, estão alugando pastos em outras partes do estado para tentarem salvar seus rebanhos. Euclides da Cunha tinha razão quando disse, em seu livro Sertões, que o nordestino acima de tudo é um forte!10
Mas ninguém conseguiu enxergar todo o drama do nativo do semi-árido como Patativa do Assaré, poeta e filósofo social nordestino.11 Em uma coletânea de poesias, Patativa conseguiu expressar em palavras o que passa o sertanejo nesse período sombrio:
Setembro passou, com outubro e novembro
Já estamos em dezembro.
Meu Deus, o que será de nós?

Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.

A treze do mês ele fez a experiência,
Perdeu a sua crença Nas pedras de sal.
Mas noutra experiência com gosto se agarra,
Pensando na barra Do alegre Natal.

Rompeu-se o Natal, porém a barra não veio,
O sol, bem vermelho,
Nasceu muito além.
Na copa da mata, buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois a barra não tem.

Sem chuva na terra descamba janeiro,
Depois, fevereiro,
E o mesmo verão.
Então o roceiro, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!
[.....]
E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,
Até mesmo o galo Vendeu também,
Pois logo aparece feliz fazendeiro,
Por pouco dinheiro Lhe compra o que tem.

Em cima do carro se junta a família;
Chegou o triste dia,
Já vai viajar.

A seca terrível, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natal

Dramático! Realista! É exatamente assim que nos sentimos durante uma seca. Mas ao verificarmos o texto bíblico onde se encontra a narrativa da predição do profeta Elias, descobrimos igual dramaticidade e realismo. Elias entra no cenário profético quando o reinado de Acabe e sua esposa Jezabel, experimentava relativa prosperidade. Foi então que o profeta Elias vaticinou:
“Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou, nem orvalho nem chuva haverá nestes anos, segundo a minha palavra” (1 Rs 17.1).
As consequências dessas palavras carregadas de inspiração profética são logo sentidas. Confira o relato bíblico em 1 Reis 18.1-8.
A Escritura afirma que “a fome era extrema em Samaria” (1 Rs 18.2). A seca já havia provado que Baal era um deus impotente frente aos fenômenos naturais e a fome demonstrou à nação que somente o Senhor é a fonte de toda provisão. Sem Ele não haveria chuva e consequentemente não haveria alimentos. O texto de 1 Reis 18.5, revela que até mesmo os cavalos da montaria real estavam sendo dizimados. O desespero era geral. A propósito, o texto hebraico de 1 Reis 18.2 diz que a estiagem foi violenta e severa. A verdade é que o pecado sempre traz consequências amargas!

Endurecimento ou arrependimento
É interessante observarmos que o julgamento de Deus produziu efeitos diferentes sobre a casa real e o povo. Percebemos que à semelhança de Faraó (Ex 9.7), o rei Acabe e sua esposa, Jezabel, não responderam favoravelmente ao juízo divino. Acabe, por exemplo, durante a estiagem confrontou-se com o profeta Elias e o acusou de ser o perturbador de Israel (1 Rs 18.17). Quem resiste à ação divina acaba por ficar endurecido! Somente no caso de Nabote ele viria demonstrar algum arrependimento.
Por outro lado, o povo que não dera nenhuma resposta ao profeta Elias quando questionado (1 Rs 18.21), respondeu favoravelmente ante a ação soberana do Senhor: “O que vendo todo o povo, caiu de rosto em terra e disse: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus! (1 Rs 18.39).
O Novo Testamento alerta: “quando ouvires a sua voz não endureçais o vosso coração” (Hb 3.8).

A provisão divina na seca
Provisão pessoal
O fenômeno da seca e como o profeta Elias se conduziu durante o mesmo é rico em ensinamentos. Aprendemos que Deus é um Deus de provisão. Quando o apóstolo Paulo fez a pergunta: “Acaso, é com bois que Deus se preocupa?” (1 Co 9.9), ele esperava a resposta “Não”. Nesse texto o apóstolo mostra que o trato primeiro de Deus não é com animais, mas com o homem. Deus trata com pessoas, não com coisas. Pedro, o apóstolo, disse “que Ele tem cuidado de nós” (1 Pe 5.7). Durante o longo período de estiagem no Reino do Norte observamos esse cuidado pessoal do Senhor com o profeta.
Há sempre uma provisão de Deus para aquele que o serve em tempos de crise. Embora houvesse uma escassez generalizada em Israel, Deus cuidou de Elias de uma forma especial que nada lhe faltou (1 Rs 17.1-7). A forma como o Senhor conduz o seu servo é de grande relevância. Primeiramente Ele o afasta do local onde o julgamento seria executado: “Retira-te daqui” (1 Rs 17.3). Deus julga e não quer que seu servo experimente as consequências amargas desse juízo! Em segundo lugar, o Senhor o orienta a se esconder: “Esconde-te junto a torrente de Querite” (1 Rs 17.3). Deus não estava fazendo espetáculo. Quando a situação é para aparecer, Deus manda se esconder. Em terceiro lugar, Elias deveria ser suprido com aquilo que o Senhor providenciasse: “Os corvos lhe traziam pão e carne” (1 Rs 17.6). Não era uma iguaria, mas era uma provisão divina!
Vejamos mais algumas lições extraídas desse episódio:
Conduzindo-se em tempos de crise
a)                Ouvindo a palavra (17.2)
O texto diz: “Veio-lhe a palavra do Senhor (1 Rs 17.2). Essa é a primeira lição que aprendemos com o profeta de Tisbe: ouça a palavra de Deus e seja orientado por ela. O aparecimento do profeta Elias está condicionado à Palavra de Deus bem como todas as suas ações. Ele não se movia fora da esfera da Palavra de Deus.
b)                Fugindo
O Senhor também disse ao profeta: “Esconde-te” (1 Rs 17.3). Houve a hora de aparecer, agora era hora de se esconder! Há momentos de publicidade, mas há momentos nos quais devemos estar sozinhos. Elias foi um profeta solitário, as suas aparições são repentinas e sem glamour. Talvez essa seja a principal característica que diferencia o profeta de Tisbe dos “profetas” modernos. Enquanto aquele procurava se esconder para cumprir o desígnio de Deus, estes procuram os holofotes para serem notados. Eles gostam da mídia e fazem de tudo para permanecerem em evidência.
c)       Dependendo de Deus
O       Senhor falou ao profeta: “Beberás da torrente; ordenei aos corvos que ali mesmo te sustentem” (1 Rs 17.4). Elias precisava de pão e água e o Senhor proveu isso para ele. Os corvos eram animais imundos (Dt 14.11-14), mas a comida que traziam para o profeta era santa. Se até o mal cumpre os propósitos de Deus (1 Sm 16.14; 19.9), quem somos nós para questionar? Elias, sem dúvida, possuía mais conhecimento teológico do que muitos eruditos, pois se alimentou da carne trazida pelos corvos sem fazer questionamentos. Quantas vezes perdemos a oportunidade de sermos abençoados porque construímos “muros teológicos” e passamos a acreditar que o Senhor, para operar, necessita trabalhar dentro de seus limites!
d)      Obedecendo
“Foi, pois, e fez segundo a palavra do Senhor” (1 Rs 17.5). O manual já existe e está aí à nossa disposição — A Palavra de Deus. Elias fez segundo o manual do fabricante e foi abençoado. Se seguirmos a orientação do manual, a Bíblia Sagrada, com certeza seremos bem-sucedidos.

Provisão coletiva
Ficamos sabendo pelo relato bíblico que além de Elias, o profeta de Tisbe, o Senhor também trouxe a sua provisão para um grande número de pessoas. Primeiramente encontramos o Senhor agindo através de Obadias, mordomo do rei Acabe, provendo livramento e suprimento para esses profetas: “Obadias tomou cem profetas, e de cinquenta em cinquenta os escondeu numa cova, e os sustentou com pão e água” (1 Rs 18.4). Lawrence Richards põe em destaque essa ação de Obadias como sendo um canal de Deus no auxílio coletivo aos profetas: “Como podia Obadias ser um adorador de Deus e ainda servir à corrupta casa real de Acabe? Não deveria ele ter tomado uma posição contra as mortes dos profetas de Deus por Jezabel, mesmo se isso lhe custasse sua própria vida? Alguns pensam assim. Contudo, Obadias foi capaz de usar sua posição para salvar vidas de centenas de profetas! É fácil criticar aquele que têm decisões morais difíceis para tomar. Mas cada indivíduo deve ser guiado pelo senso próprio da liderança de Deus. O que pode nos parecer ser “comprometimento” pode, em vez disso, ser uma corajosa decisão em seguir um caminho difícil e perigoso”.12
Em segundo lugar o próprio Senhor faz conhecido a Elias, que Ele ainda contava com sete mil pessoas que não haviam dobrado os seus joelhos diante de Baal: “Também conservei em Israel sete mil” (1 Rs 19.18). Deus é um Deus que cuida!

As lições deixadas pela seca
A majestade divina
Já vimos alguns dos atributos de Deus quando falamos do “Deus de Elias”. Todavia cabe aqui fazermos uma pequena síntese desses atributos, porque a majestade divina é uma das lições reveladas pela seca. Os fatos que já comentamos e que vale a pena relembrar sobre a ação do Deus de Elias, estão registrados nos primeiros versículos do capítulo 17 do livro de primeiro Reis. Primeiramente vimos a sua onipotência, quando Ele demonstrou total controle sobre os fenômenos naturais (1 Rs 17.1). Em segundo lugar, Deus mostrou a sua Onipresença durante esses fatos. Elias ao se referir ao Senhor reconheceu-o como um Deus presente: “Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou” (1 Rs 17.1). Em terceiro lugar, vimos como Deus Onisciente, quando demonstrou a sua capacidade para conhecer o futuro. Não haveria nem orvalho nem chuva, e não houve mesmo!

O pecado tem o seu custo
Quando o profeta Elias encontra-se com Acabe durante o período da seca, Elias responde ao monarca e o censura por seus pecados: “Respondeu Elias: eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor e seguistes os baalins”(l Rs 18.18). Em outras palavras, Elias afirmava que tudo o que estava acontecendo em Israel era resultado do pecado. O pecado pode ser atraente e até mesmo desejável, mas tem um custo muito alto. Não vale a pena!
Por outro lado, Franz Delitzsch destaca a morte dos profetas de Baal como consequência do pecado de idolatria. Em seu comentário ao livro dos Reis, escreve: “Elias usou a euforia do povo pelo Senhor para acabar com os profetas de Baal que haviam apartado o povo do Deus vivente. Ordenou ao povo prendê-los e os fez degolar no ribeiro de Quison. Não fez por motivo de vingança, porque eles haviam motivado a rainha Jezabel para matar os profetas do Deus verdadeiro (ver 13), senão por causa da lei do Antigo Reino de Deus do Antigo Testamento que proibia a idolatria e ordenava exterminar os falsos profetas” (Dt 17.2; 13.13ss).13
Observamos que a longa seca sobre o Reino do Norte agiu como um instrumento de juízo e disciplina. Embora o coração do rei não tenha dado uma resposta favorável ao chamamento divino, os propósitos do Senhor foram alcançados. O povo voltou para o Senhor e o perigo de uma apostasia total foi afastado.
A fome revelou como é vão adorar os deuses falsos e ao mesmo tempo demonstrou que o Senhor é um Deus soberano! Ele age como quer e quando quer. Fica, pois a lição que até mesmo em uma escassez violenta a graça de Deus se revela de forma maravilhosa.


Extraído do livro:

Este livro servirá como auxílio suplementar da nova Lição CPAD
Em Porção Dobrada obra escrita com os rigores de uma exegese e uma hermenêutica bíblica sadia, o leitor poderá ter uma clara visão do paralelo entre os dias de Elias e Eliseu e os nossos, o que inclui as crises religiosas, sociais, morais, políticas e econômicas vivenciadas pelos profetas.É nesse contexto de crise que o Senhor levanta homens e mulheres como porta-vozes, dando aos líderes e ao seu povo a oportunidade de se arrependerem de seus pecados e de se voltarem para Ele.
A sucessão ministerial, um dos grandes problemas da liderança, também é abordado nesta obra. pastores, lideres em qeral, e crentes que amam e temem ao Senhor, com certeza encontrarão e extrairão destas páginas grandes lições a serem aplicadas no ser e fazer cristão.



NOTAS
1 KEIL, Cari Friedrich & DELITZSCH, Franz. Comentário al Texto Hebreo dei Antiguo Testamento — Pentateuco e históricos. Tomo 1, Editoriald CLIE. 
2 DRIVER, F. Brown & BRIGGS, C. The Brown — Driver-Briggs He-brewand English Lexicon. Hendrickson Publishers, USA, 2010. 
3 HENRY, Matthew, Comentário Bíblico de Matthew Henry, traducido e adaptado al castellano por Francisco Lacueva, 13 tomos em 1 — obra completa sin abreviar. Editorial CLIE, Barcelona, Espanha, 1999. 
4 RICHARDS, Lawrence. Guia do Leitor da Bíblia - uma análise de Gênesis a Apocalipse, capítulo por capítulo. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. 
5 Bruce A. Ware explica que o teísmo aberto “é assim denominado pelo fato de seus adeptos verem grande parte do futuro como algo que está em “aberto”, e não fechado, mesmo para Deus. Boa parte do futuro está ainda indefinida e, consequentemente, Deus o desconhece. Deus conhece tudo o que pode ser conhecido, asseguram-nos os teístas abertos. Mas livres escolhas e ações futuras, por não terem ocorrido ainda, não existem e, desse modo, Deus (até mesmo Deus) não pode conhecê-las. Deus não conhece o que não existem — afirmam eles — e, uma vez que o futuro não existe, Deus não pode conhecê-lo agora. Mais especificamente, ele não pode conhecer, de antemão, uma grande parte do tuturo que virá à tona à medida que criaturas livres decidirem e fizerem tudo segundo lhes aprouver. Em conformidade com isso, momento após momento Deus aprende o que fazemos, e seus planos devem constantemente se ajustar ao que acontece de fato, na medida em que isso for diferente do que ele previu” (pp.14,15). 
6 Veja um estudo exaustivo sobre esse tema em: Teísmo Aberto — uma teologia além dos limites bíblicos. John Piper, Justin Taylor, Paul K. Helseth. Editora Vida, 2006. 
7 WARE, Bruce A. Teísmo Aberto — a teologia de um Deus limitado. São Paulo: Vida Nova, 2010. 
8 WARE, Bruce A. id.p.14. 
9 WARE, Bruce A. id. Ibid. 
10 DA CUNHA, Euclides. Sertões. São Paulo: Editora Martin Claret, 2002. 
11 Veja na íntegra uma coletânea de todas as poesias de Patativa do Assaré, na obra: Cante Lá que eu Canto Cá — filosofia de um trovador nordestino.Nessa obra a Editora Vozes optou por manter a fonética do trovador. 
12 RICHARDS, Lawrence. Guia do Leitor da Bíblia. Rio de Janeiro:CPAD, 2010. 
13 DELITZSCH, Franz. Comentário al Texto Hebreo Del Antiguo Testamento — Pentateuco e históricos. Editorial CLIE. 





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