Lição 9 - Elias no Monte da Transfiguração - 1




ELIAS NO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO
O relato sobre a transfiguração, conforme narrado nos evangelhos sinóticos é um dos mais emblemáticos do Novo Testamento (Mt 17.1-13; Mc 9.2-8; Lc 9.28-36). Além do nome de Moisés, o texto põe em evidência também o nome de Elias. Todavia diferentemente dos outros textos até aqui estudados, Elias não aparece como a figura central, mas como uma figura secundária! O centro é deslocado do profeta de Tisbe para o Profeta de Nazaré. Jesus, e não mais Elias, é o centro da revelação bíblica. Moisés, Elias, Pedro, Tiago e João, também nominados nesse texto aparecem como figurantes numa cena onde Cristo, o Messias prometido, é a figura principal.

Antes de uma análise puramente exegética e teológica da passagem de Marcos 9.2-29, quero compartilhar o seu lado devocional que muito tem me edificado. Resolvi estender a leitura do capítulo 9 do Evangelho de Marcos até o versículo 29, incluindo o episódio da libertação de um jovem possesso, porque uma leitura paralela do Evangelho de Lucas (Lc 9.28-43) revela que a libertação dele aconteceu “no dia seguinte, quando eles desceram do monte” (Lc 9.37). Em outras palavras, os eventos da transfiguração e da libertação do jovem lunático, ocorreram dentro da mesma sequência dos fatos ali narrados.

Pois bem, a pergunta chave que aparece logo após ter ocorrido a libertação do jovem lunático e, portanto, após o evento da Transfiguração é: “Porque nós não pudemos expulsá-lo?” (Mc 9.28).

Acredito que essa é uma das perguntas mais pertinentes para o atual momento em que vive a igreja evangélica brasileira. Essa pergunta poderia ser feita de uma outra forma e ainda assim o seu sentido seria o mesmo: “Qual a causa de nossa ineficiência?”Por que estamos crescendo numericamente, mas ainda assim padecemos de um cristianismo fraco e que pouco tem salgado a sociedade? Qual a razão de nosso caos teológico? São perguntas que demandam uma resposta.

Se olharmos com cuidado para o que revela o texto de Marcos 9.229, observaremos algumas características do cristianismo transfigurado, isto é, que brilha. Quais, pois, seriam essas características desse cristianismo que brilha? Aqui vão algumas delas:
1. Ele escala montes — “dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte, a um alto monte” (Mc 9.2). E interessante observarmos que os outros discípulos, nove deles, haviam ficado embaixo, pois, o Senhor Jesus levou consigo somente a Pedro, Tiago e João (v.2). Os outros haviam ficado embaixo, não subiram o monte. Quem não sobe o Monte não terá vitória nas lutas espirituais. Escrevi sobre isso quando tratei sobre a vida do patriarca Abraão:

“Vai-te a terra de Moriá” (Gn 22.1). Deus mandou Abraão subir o monte Moriá! Ninguém será abençoado sem escalar o monte! É necessário subir o Moriá de Deus e encontrar a bênção no seu cimo. Hoje está na moda subir o “monte” como um lugar místico em busca da bênção! Mas a Escritura mostra que como princípio, subir o monte está associado à necessidade de se buscar ou subir até a presença de Deus e não a geografia de um lugar (Jo 4.20-24). O monte pode ser o nosso quarto ou o templo da igreja ou ainda qualquer outro lugar (Mt 6.6; At 16.13,16). Quem ora hoje no monte Sinai, monte Moriá ou mesmo em Jerusalém não leva nenhuma vantagem sobre quem, por exemplo, ora numa pequena cidade do sertão nordestino ou na grande São Paulo. A geografia não é mais importante e sim a esfera e a atitude na qual a oração acontece, isto é, no Espírito (Ef 6.18; 1 Tm 4.7)”.1

2. Ele é metamorfoseado — “Foi transfigurado diante deles” (v.2). A palavra traduzida em português como “transfigurado” corresponde ao vocábulo grego metemorphôté, que é o aoristo passivo de metamorphóô? Esse mesmo vocábulo é usado pelo apóstolo Paulo em Romanos 12.1,2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
O expositor bíblico William Barclay em seu comentário da Epístola aos Romanos, observa que: “Não devemos adotar as formas do mundo; sem transformar-nos, quer dizer, adquirir uma nova maneira de viver. Para expressar esta verdade Paulo usa duas palavras gregas quase intraduzíveis, que requerem uma frase para transmitir seu sentido. A palavra que usa para amoldar-nos ao mundo é syschematizesthai, da raiz schema—de onde vem a palavra portuguesa e quase internacional schema —, que quer dizer forma exterior que muda de ano em ano e quase de dia a dia. O schema de uma pessoa não é o mesmo quando tem 17 anos e quando tem 70; nem quando sai do trabalho e quando está numa festa. Está mudando constantemente. E como se Paulo dissesse: Não cuideis de estar sempre em dia com todos os modismos deste mundo; não sejais ‘camaleões’, tomando sempre a cor do ambiente”.3 Por outro lado, continua Barclay em sua análise:

“A palavra que (Paulo) usa para transformai-vos de uma maneira distinta da palavra do mundo é metamorphusthai, da raiz morfé, que quer dizer a natureza essencial e inalterável de algo. Uma pessoa não tem o mesmo schema aos 17 e aos 70 anos, todavia possui a mesma morphè (essência); o macacão não tem o mesmo schema do vestido de uma cerimônia, mas possui a mesma morphê; muda seu aspecto exterior; pelo que segue sendo a mesma pessoa. Assim, disse Paulo, para dar culto e servir a Deus temos que experimentar uma mudança, não de aspecto, senão de personalidade. Em que consiste essa mudança? Paulo diria que, por nós mesmos, vivíamos kata sarka (segundo a carne), dominados pela natureza humana em seu nível mais baixo; em Cristo vivemos kata Christon (segundo Cristo) ou kata Pneuma (segundo o Espírito), sob o controle de Cristo e do Espírito. O cristão é uma pessoa que mudou em sua essência: agora vive, não uma vida egocêntrica, senão cristocêntrica. Isto deve ocorrer, diz Paulo, pela renovação da mentalidade. A palavra que ele emprega para renovação é anakainosis. No grego há duas palavras para novo: neós e kainós. Neós se refere ao tempo, e kainós ao caráter e a natureza. Um lápis recém fabricado é neós\ mas uma pessoa que era antes pecadora e agora e está chegando a ser santa é kainós. Quando Cristo entra na vida de um homem, este é um novo homem; tem uma mentalidade diferente, porque tem a mente de Cristo.”4

3. Ele é fundamentado na Palavra de Deus — ‘E apareceu-lhes Elias com Moisés” (v.4). Todos os intérpretes entendem que os nomes “Elias” e “Moisés” representam figuradamente a Palavra de Deus. Elias representa os profetas enquanto Moisés, a Lei. O cristianismo deixa de ser autêntico quando se distancia da palavra de Deus. Em outro livro de minha autoria, escrevi: Uma igreja modelo possui como fundamento a Palavra e o Espírito. Somente o Espírito sem a Palavra de Deus incorre-se em fanatismo; todavia a Palavra sem o Espírito não passa de ortodoxia morta. O correto é termos o equilíbrio entre a Palavra e o Espírito. O principal mal do pentecostalismo contemporâneo é essa falta de equilíbrio entre a Palavra e o Espírito. Como vimos um carismatismo sem fundamento bíblico transforma-se em desvios, modismos, inovações, desvios doutrinários evoluindo para doutrinas heréticas.5

4. Ele promove espanto — ‘Pois não sabiam o que dizia, porque estavam assombrados” (v.6). Uma das tragédias do cristianismo hodierno é que ele não promove mais espanto! Um grande número de cristãos parece ter se acostumado com uma vida religiosa onde nada mais é novo. Não há espanto algum! Mas experimentar espanto diante do sagrado é um fenômeno presente nas religiões. Mircea Elliade (2008, pp.16,17) destaca que o homem “descobre o sentimento de pavor diante do sagrado, diante desse mysterium tremendum, dessa majestas que exala uma superioridade esmagadora de poder; encontra o temor religioso diante do mysterium fascinans, em que se expande a perfeita plenitude do ser.”6

Esse espanto diante do sagrado, do totalmente outro, nós encontramos no relato da Pesca Maravilhosa (Lc 5.1-11)

Quando Pedro viu o que ocorrera, prostrou-se aos pés do Senhor e exclamou: “Retira-te de mim, porque sou pecador” (v.8). E o texto ainda diz que a admiração apoderou-se de seus companheiros! (v.9). Esse é um cristianismo que promove espanto! Que causa admiração!

5. Ele possui imanência — ‘Saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho amado; a ele ouvi”(v.7). O cristianismo bíblico é transcendente, isto é, Deus é totalmente outro e não pode ser confundido com suas criaturas. Todavia ele possui também imanência. Não está solto em um universo metafísico onde a realidade espiritual é algo inatingível. Não, o nosso Deus se faz presente no nosso dia a dia (SI 46.1). Ele possui voz, portanto, possui a faculdade da fala. Não é mudo! É bom sabermos que quando oramos não estamos presos em um monólogo, mas estamos nos relacionando com um Deus que também fala.

6. Ele não faz publicidade — “E, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto” (v.9). Isso me chama a atenção, pois quem não gostaria de noticiar um feito desses? O cristianismo midiático de hoje faz isso o dia todo. Gosta de ser visto, admirado e paparicado. E exibicionista! Todavia o cristianismo bíblico não faz propaganda, mas é visto. E visto porque é uma obra do Espírito Santo e não do homem. O cristianismo da mídia gosta de números, de multidões e de muito dinheiro. Mas é um cristianismo pobre!

7. Ele tem ressurreição, mas também tem morte — “E eles retiveram o caso entre si, perguntando uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dos mortos (...) E, respondendo ele, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e todas as coisas restaurará; e como está escrito do filho do homem, que ele deva padecer muito e ser aviltado” (v.10,12).

O cristianismo bíblico possui ressurreição, mas também possui morte! O texto de Lucas 9.31, que é paralelo a esse e diz: “os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém.” Hoje se fala muito em “vitória”, mas nada de morte. O cristianismo contemporâneo tem pavor da morte! Não quer morrer, mas não tem vida! Só há ressurreição se houver morte! Precisamos morrer para que possamos viver.

8. Ele tem consciência escatológica — ‘E interrogaram-no, dizendo: por que dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?” (v. 11). O cristianismo bíblico possui um forte apelo escatológico, pois não é imediatista e preso a esta era. Ele tem seu olhar no futuro! Crer na parousia do Senhor. Ele sabe que tudo aqui é efêmero, como a neblina que se dispersa! Em meu livro: Rastros de Fogo, escrevi:

“É falso qualquer suposto movimento espiritual que alega ser herdeiro do avivamento bíblico, mas que possui uma visão escatológica deformada ou mutilada. Os autênticos movimentos de avivamento ao longo da história da igreja foram logo reconhecidos como tal porque possuíam um entendimento correto da escato-logia bíblica. No atual pentecostalismo observa-se um distanciamento cada vez mais crescente da escatologia bíblica. E a pregação do imediatismo, do ineditismo e mercantilismo que tem reinado nesses últimos anos no carismatismo contemporâneo”.7

9. Não pode ser resumido a um simples debate teológico — “E, quando se aproximou dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão, e alguns escribas disputavam com eles”.

Quando a fé cristã se resume a uma simples controvérsia teológica, então ela perdeu sua essência. O cristianismo bíblico não pode ser resumido a um mero debate de ideias. Há muita “teologia” sendo debatida por ai, mas são debates estéreis que não promovem a verdadeira edificação. Ela se resume na sua maioria a um confronto ideológico entre confissões religiosas. Cristianismo é vida, é Espírito, é a Palavra de Deus. O texto mostra que os discípulos que ficaram no vale se limitaram a debater com os escribas, e pelo visto estavam em desvantagem. Os escribas eram bons de debates teológicos, mas ineficientes em promover uma fé viva no povo. A teologia não deve servir apenas como alimento do intelecto, mas também da alma. O Senhor Jesus afirmou que “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4)

10. Ele não se resume a um produto cultural — “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei ainda? (v.19).

Entendo que o termo “geração” aqui pode ser traduzido como cultura. Por que as pessoas daquela cultura eram tão incrédulas? Não foi aquela geração a escolhida por Deus para ver a manifestação do Messias (G1 4.4)? Parece que os discípulos estavam também influenciados por aquela cultura incrédula e por isso apresentaram dificuldade em se render diante do sobrenatural de Deus. Precisavam viver à sombra do Senhor, quando o Senhor cobrou deles a responsabilidade por aquele momento. Eram eles que deveriam ter expelido aquele demônio e não ficarem ineficientes diante da ação do mal. Será que a cultura contemporânea também não tem moldado a fé e o comportamento de muitos cristãos?

11. Ele não pode ser resumido a fórmulas — ‘Por que não pudemos nós expulsá-lo?” (v.28). Eles estavam atônitos diante do fracasso! Essa pergunta ganha o sentido: “Por que a nossa fórmula não funcionou?” Não é que eles não tivessem tentado, porque o texto deixa claro que os discípulos tentaram expelir esse espírito, mas não conseguiram. “Roguei aos teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam” (v. 18). Não tenho dúvidas que eles se valeram dos métodos e fórmulas aprendidas, mas nada aconteceu! O próprio Senhor dissera que os demônios são expulsos não pelo uso de uma técnica ou fórmula, mas pelo poder do Espírito Santo (Mt 12.28). Um cristianismo preso a formulas ou métodos fracassará!

12. Ele é relacional — ‘Esta casta não pode sair senão por meio de oração [e jejum]” (v.29). Já dissemos que o cristianismo bíblico não se prende a fórmulas, por quê? Porque ele é relacional, isto é, se fundamenta em relacionamentos. A fé cristã é construída pela comunhão com Deus! De nada adianta fórmulas, técnicas, recursos de marketing, se não houver relacionamentos! Deus quer que seus filhos se relacionem com ele e então a vida vitoriosa tão almejada chegará.

Vejamos agora uma análise mais exegética dessa passagem para descobrirmos a relação que Elias, o profeta de Tisbe, possui com Jesus de Nazaré, o Messias de Deus.

Elias, o Messias e a transfiguração
Metamorfose
O texto sagrado relata que tão logo subiram ao Monte, Jesus foi “transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz”. (Mt 17.2). Como já disse, a palavra transfigurar, traduz o termo grego metamorfose. Mantém o sentido de mudança de aparência ou forma, mas não mudança de essência. A transfiguração não transformou Jesus em Deus, mas mostrou aos discípulos aquilo que ele fora o tempo todo: o verbo encarnado (Jo 1.1; 17.1-5). Os discípulos observaram que o seu rosto brilhou como o sol (Mt 17.2). O texto revela também que suas vestes resplandeceram (Mt 17.2). Esses fatos põem em evidência a identidade do Messias, o filho de Deus.

Shekiná
Mateus detalha que durante a transfiguração “uma nuvem luminosa os envolveu” (Mt 17.5). E relevante o fato de que Mateus, que escreveu o seu evangelho para judeus, quer por em evidência o fato de que Jesus é o Messias anunciado e isso pode ser visto na manifestação da nuvem luminosa. No Antigo Testamento essa nuvem recebe o nome de shekiná, e relacionada com a manifestação da presença de Deus (Ex 14.19,20; 24.15-17; 1 Rs 8.10, 11; Ez 1.4; 10.4). Tanto Moisés como Elias, quando estiveram no Sinai, presenciaram a manifestação dessa glória. Todavia não como agora os discípulos estavam vivenciando (Ex 19; 24; 1 Rs 19). Donald Carson, em seu comentário ao Evangelho de Mateus, destaca que: “A “nuvem” é associada, no Antigo Testamento e no judaísmo interbíblico, com a escatologia (SI 97.2; Is 4.5; Ez 30.3; Dn 7.13; Sf 1.15; cf. 2 Baruc 53.1-12; 4 Ed 1.3; 2 Mac 2.8; b Sanhedrin 98ª; cf Lc 21.27; 1 Ts 4.17) e com o Êxodo (Êx 13.21,22; 16.10; 19.16; 24.15-18; 40.34-38). Dos sinóticos, só Mateus diz que a nuvem era “resplandecente”, detalhe que lembra a glória shekiná.8

Elias, o Messias e a restauração
Tipologia
No evento da transfiguração observamos que o texto destaca os nomes de Moisés e Elias (Mt 17.3). Há um entendimento na igreja cristã que Moisés prefigura a Lei enquanto Elias, os profetas. E perceptível nessa passagem que Moisés aparece como uma figura tipológica. De fato, Mateus procura mostrar isso quando põe em evidência o próprio Deus falando aqui: “A Ele ouvi” (Mt 17.5). Moisés pronuinciou exatamente estas palavras citadas nesse texto quando se referia ao Profeta que viria depois dele: “O Senhor, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás” (Dt 18.15). A transfiguração revela que Moisés tem seu tipo revelado em Jesus de Nazaré e que toda a lei apontava para Ele.

Escatologia
Enquanto Moisés ocupa um papel tipológico no evento da transfiguração, Elias aparece em um contexto escatológico. O texto de Ma-laquias 4.5,6 apresenta Elias como o precursor do Messias vindouro. O Novo Testamento aplica a João, o Batista, o cumprimento dessa Escritura: “E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado” (Lc 1.17; Mt 11.14). Assim como Elias, João foi um profeta de confronto (Mt 3.7); um profeta ousado (Lc 3. 1-14) e um profeta rejeitado (Mt 11.18). A presença do Batista, o Elias que havia de vir, era uma clara demonstração da messiandade de Jesus.

Elias, o Messias e a rejeição
O Messias esperado
Tanto os rabinos como o povo comum sabiam que antes do advento do Messias, Elias apareceria (Ml 4.5,6; Mt 17.10; 16.14). O relato de Mateus sugere que os escribas não reconheceram a Jesus como o Messias porque faltava um sinal que para eles era determinante — o aparecimento de Elias antes da manifestação do Messias (Mt 17.10). Como Jesus poderia ser o Messias se Elias ainda não viera? Jesus revela então que nenhum evento no programa profético deixara de ter o seu cumprimento. Elias já viera e os fatos demonstravam isso. Elias havia sido um profeta do deserto, João também o foi; Elias pregou em um período de transição, João prega na transição entre as duas Alianças; Elias confrontou reis (1 Rs 17.1,2; 2 Rs 1.1-4), João da mesma forma (Mt 14.1-4). Mais uma vez ficara claro: João era o Elias que havia de vir e Jesus era o Messias.

O Messias rejeitado
O texto de Mateus 17.1-8, narrando o episódio da transfiguração inicia-se com a sentença: “Seis dias depois” (Mt 17.1). O texto coloca a transfiguração num contexto onde uma sequência de fatos devem ser observados. Os eruditos observam que “seis dias” é uma outra forma de dizer: “uma semana depois”. De fato o texto paralelo de Lucas fala de “oito dias”, isto é, uma semana depois (Lc 9.28). O contexto, portanto, põe o evento no contexto da confissão de Pedro (Mt 16.13-20) e no discurso de Jesus sobre a necessidade de se tomar a cruz (Mt 16.24-28). O Messias revelado, portanto, em nada se assemelhava ao herói da crença popular. Pelo contrário, a sua mensagem, assim como a do Batista, não agradaria a muita gente e provocaria rejeição.

Elias, o Messias e a exaltação
Humilhação
Os intérpretes observam que havia uma preocupação dos discípulos sobre a relação do aparecimento de Elias e a manifestação do Messias. Esse fato é demonstrado na pergunta que eles fazem logo após descer o monte da transfiguração (Mt 17.10). Como D. A. Carson observa, o fato é que a profecia referente a Elias falava de “restaurar todas as coisas” (Mt 17.11) e os discípulos não entendiam como o Messias tanto esperado pudesse morrer em um contexto de restauração. Cristo corrige esse equívoco mostrando que a cruz faz parte do plano divino para restaurar todas as coisas (Mt 17.12; Lc 9.31; F1 2.1-11).9

Exaltação
Muito tempo depois desses acontecimentos da transfiguração, o apóstolo Pedro ainda lembra dos fatos ocorridos e os cita em relação à exaltação e glorificação de Jesus e também como prova da veracidade da mensagem da cruz: “Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (2 Pe 1.16,17).

Vimos, pois, que os eventos ocorridos durante a Transfiguração aconteceram para demonstrar que Jesus era de fato o Messias esperado e que tanto a Lei, tipificada aqui em Moisés, como os Profetas, representado no texto pela figura de Elias, apontavam para a revelação máxima de Deus — o Cristo, Jesus. Esses personagens tão importantes no contexto bíblico não possuem glória própria, mas irradiam a glória proveniente do Filho de Deus. Ele, sim é o centro das Escrituras, do Universo e de todas as coisas (Cl 1.18,19; Hb 1.3; F1 2.10,11).


Extraído do livro:
Este livro servirá como auxílio suplementar da nova Lição CPAD
Em Porção Dobrada obra escrita com os rigores de uma exegese e uma hermenêutica bíblica sadia, o leitor poderá ter uma clara visão do paralelo entre os dias de Elias e Eliseu e os nossos, o que inclui as crises religiosas, sociais, morais, políticas e econômicas vivenciadas pelos profetas.É nesse contexto de crise que o Senhor levanta homens e mulheres como porta-vozes, dando aos líderes e ao seu povo a oportunidade de se arrependerem de seus pecados e de se voltarem para Ele.

A sucessão ministerial, um dos grandes problemas da liderança, também é abordado nesta obra. pastores, lideres em qeral, e crentes que amam e temem ao Senhor, com certeza encontrarão e extrairão destas páginas grandes lições a serem aplicadas no ser e fazer cristão.

1 GONÇALVES, José. A Prosperidade à Luz da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
2 KITTEL, Gherard. Theological Dictionary of the NewTestament. l0 volumes, Editor Eerdmans, USA.
3 BARCLAY, William. Comentário Al Nuevo Testamento. 17 tomos em 1.Editorial CLIE, Barcelona, Espana.
4 BARCLAY, William. Idem.
5 GONÇALVES, José. Rastros de Fogo - o que diferencia o pentecostes bíblico do neopentecostalismo atual. Rio de janeiro: CPAD, 2012.
6 ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. Editora Martins Fontes, 2008.
7 GONÇALVES, José. Rastros de Fogo. Op.cit.
8 CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.
9 CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. Idem.

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