Um sapateiro convertido perguntou a Lutero o que deveria fazer para servir bem a Deus. Ele talvez esperasse o conselho de fechar o seu negócio e tornar-se pregador do Evangelho. Lutero respondeu: "Faça um bom sapato e venda-o por um preço justo". Ele serviria a Deus sendo um profissional competente e honesto (Michael Horton – O Cristão e a Cultura).
Algo que muitas vezes é mal entendido entre nós cristãos é a separação entre atividades religiosas e as demais, como se as primeiras fossem relacionadas a Deus e as demais fossem apenas para nós mesmos. Portanto, tende-se a valorizar as atividades consideradas “espirituais” e a negligenciar atividades seculares como estudo, trabalho e outras responsabilidades que não estão diretamente relacionadas à nossa fé. Porém a Bíblia não mostra essa separação, mas quando diz “buscai primeiro o Reino de Deus” (Mateus 6.33), se refere a não andarmos ansiosos com o dia de amanhã, mas nos contentarmos em servir a Deus e confiar no sustento que vem dele. O Reino de Deus não se resume a oração, leitura bíblica, evangelismo e costumes religiosos apenas, mas envolve tudo o que fazemos, falamos e pensamos. Tudo deve estar debaixo do senhorio de Cristo.
Para o sapateiro, servir a Deus só seria possível se ele dedicasse todo o seu tempo a pregar o evangelho. Não imaginava que poderia servir a Deus fazendo sapatos. Afinal, o que sapatos têm a ver com o Reino de Deus? Não seria mais proveitoso se dedicar ao estudo bíblico, ao ensino ou à pregação, atividades de maior valor? A visão do sapateiro parte de uma compreensão limitada da soberania de Deus, que estaria alheio a qualquer atividade ou produção humana em que seu nome não estivesse escrito claramente. A resposta de Lutero mostra uma visão diferente, em que tudo aquilo que é bom e justo é visto como expressão do caráter de Deus. Isso mostra que podemos servir a Deus em nosso dia-a-dia, mesmo nas coisas mais simples, e que podemos enxergar o agir de Deus em diversas situações. Ele é a fonte de toda beleza e virtude, “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes” (Tiago 1.17).
Lutero instruiu o sapateiro a fazer bons sapatos e vende-los por um preço justo. Da mesma forma, podemos usar isso como referência para o que fazemos: devemos nos dedicar a fazer algo de boa qualidade, e sermos honestos em nossas ações. A base para conhecermos o que é “bom” ou “justo” está na própria Bíblia, que nos mostra o padrão moral que Deus estabelece para nós, e é expressada de forma perfeita no exemplo de Jesus. Ele deve ser o ponto de partida e o objetivo de tudo o que fazemos: “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31). É nele que deve estar a nossa principal motivação e fonte de satisfação. Se nos concentrarmos não em nossos interesses próprios e em nosso bem-estar, mas focarmos em glorificar a Deus com nossas atitudes, poderemos ter sempre satisfação nele, mesmo que os resultados não saiam conforme o esperado. Cada dia se torna uma nova oportunidade de servir a Deus, há sempre algo novo mesmo em meio à rotina comum de dias enfadonhos.
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