Ai, ai… Eu trabalho muito, muito mesmo!, como sabem. Mas também me divirto à pampa! “À pampa”??? Você está velho, lembrando Paulo Francis, citado por minha querida amiga Lúcia Boldrini, quando a morte de alguém de quem você nunca ouviu falar gera comoção e vai para as primeiras páginas… E quando emprega a locução adverbial “à pampa”. Por que isso? Porque não há nada mais saboroso do que lançar algumas iscas para pegar idiotas que babam e ver os idiotas que babam cair na armadilha como… idiotas! Aprendam, bobalhões: não dou ponto sem nó.
Escrevi nesta manhã um texto em que aponto o coquetel de hipocrisias nessas manifestações contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), eleito por seus pares presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. OS IDIOTAS entenderam que eu o defendi. Por idiotas, não perceberam nem mesmo que eu demonstrei que ele errou ao recorrer a uma citação bíblica. SE A ORIGEM DOS POVOS E A GEOGRAFIA DA BÍBLIA DEVESSEM SER TOMADAS (NÃO DEVEM!) COMO REFERÊNCIAS HISTÓRICAS DEFINITIVAS, nem foram os descendentes de Canaã, amaldiçoado por Noé, a se espalhar pela África. Não! Eu contestei o pastor com matéria de fato — no caso, reitero, a matéria de fato é a referência bíblica, não aquilo para a qual ela remete nesse particular. A Bíblia é uma fonte de pesquisa histórica como um discurso sobre os fatos (inclusive os fatos míticos), não como uma reportagem do tempo. Adiante!
Também está lá que eu jamais escolheria Feliciano para presidir aquela comissão porque, escrevi, por mim, “ele nem teria sido eleito”. Se deputado não fosse, presidente não seria, certo? MAS OS IDIOTAS ESTÃO GRITANDO, ESPERNEANDO, EXERCITANDO SEU ÓDIO HUMANISTA, E NÃO ENTENDEM O QUE ESTÁ ESCRITO. LEEM O QUE QUEREM, NÃO O QUE O OUTRO ESCREVEU.
E, sim, fui claro, COM ZERO DE AMBIGUIDADE, ao demonstrar que o deputado — NÃO NOS CASOS CONHECIDOS AO MENOS — não foi nem racista nem homofóbico. Isso é grito de guerra de militantes das mais variadas causas, em especial dos petistas, que agora decidiram ir para as ruas. É EVIDENTE QUE EU SABIA QUE OS BABÕES VIRIAM AO MEU ENCALÇO. Joguei as iscas para poder pegá-los e vê-los a se debater, tentando sair da cadeia da lógica. Naquele texto, eu indagava: “Como é que Feiciano chegou lá”.
Chegou porque foi um dos mais ativos militantes em defesa da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. E usou a tribuna religiosa para fazer essa defesa. Abaixo, há um vídeo em que ele fala a fiéis e também a pastores. Canta as glórias da então candidata. Está com uma camiseta: “Sou cristão e voto em Dilma”. Fala ali da criação de um “Centro de Inteligência Digital”, que foi mobilizado durante a campanha. Vejam o vídeo. Volto em seguida.
Acordo com o PT Durante a campanha eleitoral de 2010 (e também na 2012 à Prefeitura de São Paulo), quem promoveu a chamada “guerra religiosa” foram os petistas, não os tucanos, à diferença do que noticiaram os setores engajados da imprensa. Vejam que coincidência: Gabriel Chalita foi mobilizado para defender a agora presidente junto aos católicos. Apesar de haver 11 inquéritos civis contra ele no Ministério Público de São Paulo, preside a Comissão de Educação da Câmara. Protestos nas ruas? Nenhum! Feliciano fez parte de um grupo que atuou no mesmo sentido junto aos evangélicos. E preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Quem o colocou lá? Na prática, foram os petistas. Eis a cara e a prática do partido: a cúpula faz acordos os mais espúrios, os mais inacreditáveis, os mais escandalosos (afinal, é a turma do mensalão!), e as “bases” são mobilizadas pelas redes sociais, com o apoio da imprensa, para satanizar este ou aquele. E depois tomam 500 pessoas nas ruas como movimento de massa. Imaginem se os evangélicos decidirem competir…
Está ali no vídeo: uma das tarefas de Feliciano era sair negando por aí que Dilma fosse lésbica — acusação que jamais se ouviu, ainda que na forma de murmúrio, até porque se sabia, desde sempre, que isso é falso — e que fosse defensora da legalização do aborto, O QUE ELA ERA, SIM!, COMO ESTÁ COMPROVADO.Feliciano fez parte, em suma, do núcleo de evangélicos que tentou demonstrar para uma fatia importante do eleitorado que a então candidata petista era uma boa representante de sentimentos também, como direi?, “conservadores”. Fez parte da turma que montou uma lavanderia de reputação religiosa para a petista, para falsear o seu real pensamento. Ele era um agente que colaborava para, se me permitem, “deslaicizar” a política.
Reparem no seu discurso. Saiu por aí a repetir todos os clichês do petismo, sobre como Lula teria mudado definitivamente o Brasil e coisa e tal. O PT quis esses votos. O PT lutou por esses votos. O PT lutou por essa base de apoio no Congresso. E as coisas têm um preço. Como as esquerdas, cúpidas que são, abriram mão da Comissão de Direitos Humanos, que não deve render grandes negócios, ela foi parar nas mãos de um deputado evangélico, que é contra o casamento gay e se confunde ao digredir sobre a descendência e a geografia da Bíblia.
Ele é homofóbico? Ele é racista? Se é, há que se comprovar. Pelas declarações dadas até agora, não! Isso é coisa típica do analfabetismo moral que toda militância enseja: “Se é para pegar nosso inimigo, vale tudo, até a mentira!”.
Eu não votei nele.
Eu não votaria nele.
Feliciano apoia um grupo que eu gostaria de ver longe do poder.
Ele não é da minha turma.
Eu não tenho turma.
Ele votou na mesma candidata destes que agora estão nas ruas — ou também o PSOL não se juntou a Dilma no segundo turno?
Joguei a isca e esperei a baba rossa para, confesso gostosamente, postar agora esse vídeo. Por que a petezada, mesmo a militância partidária, não anunciou que recusava o voto dos evangélicos? Edir Macedo, chefão da Igreja Universal do Reino de Deus, um defensor fanático do aborto — ele, sim, torce o Eclesiastes para justificar a sua tese —, recorre às mesmas práticas do pastor Feliciano para financiar a sua igreja, por exemplo. Há um vídeo em que Macedo, com um chicote na mão, tira “o diabo” do corpo de um homossexual. E eu não vi militância na rua. O PT governa com aqueles que cativa, ora essa! Os dois lados certamente sabem a razão do acordo.
Caminhando para a conclusão Não! Eu não defendi Feliciano, não! Ao contrário: talvez eu tenha feito a ele a crítica mais dura, porque assentada num fato. Para contestar o que ele pensa, não preciso atribuir a ele crimes que não cometeu. As coisas que ele fala e pensa, mesmo as não criminosas, bastam para que não façamos parte da mesma turma.
Mas atenção! Os que vieram babar aqui no meu blog, vocês, sim!, estiveram em companhia de Feliciano durante as eleições. Vocês estavam do mesmo lado. Eu não! Todo mundo sabe que votei em José Serra para a Presidência. Pelo meu voto, Feliciano jamais teria chegado à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. ELE CHEGOU LÁ PELO VOTO DE VOCÊS. Vocês elegeram Dilma e o PT, e o arco de poder influente pôs o deputado naquele cargo.
O meu texto buscava deixá-los, babões, bem assanhados para deixá-los, agora, sem saída. E, sim, continuarei a defender o direito que as pessoas têm de defender que “casamento” é só aquele previsto na Constituição, entre homens e mulheres — ainda que eu seja favorável ao casamento gay. Mas tolero quem pensa de modo diferente.
A fraude moral e ética de vocês está, entre outras, em querer os votos da turma que segue Feliciano e depois ambicionar jogar o homem fora. Não é assim que se toca essa música, não! Vocês, os que me atacam, é que defenderam Feliciano, não eu! Eu, naquela eleição, estava do outro lado. Esse Mateus é de vocês; façam naninha com ele e parem de criar mistificações e de tentar encher o meu saco. Porque isso não me enche, não! Só me estimula a escrever mais.
Para encerrar
Não vai vai haver protestos contra a presença dos petistas João Paulo Cunha e José Genoino na Comissão de Constituição e Justiça? Vocês não acham que isso é uma espécie de elogio do peculato, da corrupção ativa, da corrupção passiva e da formação de quadrilha?
Hein??? Já que eu estou velho mesmo (51), termino assim: “Podem vir quente, que eu estou fervendo”.
Texto publicado originalmente às 17h31 deste domingo
Por Reinaldo Azevedo
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