Lição 11 - A Família e a Escola Dominical - I

“Ajunta o p ovo, homens, e mulheres, e m eninos, e os teus estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam, e aprendam, e temam ao Senhor, vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei” (Dt 31.12). A Escola Dominical contribui para a formação espiritual, moral e social, em todas as faixas etárias. A Igreja do Senhor Jesus deve dar a maior importância à família. A igreja local é formada por famílias, que se reúnem para adorar a Deus. E essa adoração deve ter o respaldo e a base fundamental na Palavra de Deus. Esta, por sua vez, só pode ser apreendida, através do estudo e do ensino, da doutrina, e do discipulado.

Na ED, principalmente nos moldes tradicionais, tem-se uma oportunidade rica de se edificar vidas e famílias, através do ensino ministrado nas diversas classes, distribuídas por faixas etárias. Há alguns anos, vi, numa igreja, uma placa afixada na entrada do templo: Não mande seus filhos à Escola Dominical: Venha com eles. O ensino cuidadoso na ED tem grande valia para a formação espiritual, moral e social das famílias, principalmente, quando seus componentes, pai, mãe e filhos, são assíduos frequentadores das classes dominicais.

Em anos passados, havia Escola Dominical em praticamente todas as denominações. Nas Assembleias de Deus, tanto de influência dos missionários europeus como norte-americanos, havia uma grande valorização da ED. Podemos afirmar que a maioria dos líderes, pastores, evangelistas, missionários, professores; bem como mulheres que têm liderança nas igrejas locais, como dirigentes de Círculo de Oração, professoras, esposas de obreiros, a maioria passou pela ED. Os maiores beneficiados foram as famílias, as igrejas e as nações. 

Em alguns países, a ED perdeu espaço. Deixou de ser realizada por vários fatores. Na América do Norte, em muitos estados, não se realiza mais a ED. Em seu lugar, é realizado um culto dominical, quase sempre o único do primeiro dia da semana. Tivemos oportunidade de verificar esse fato quando ministramos em alguns lugares. Chamou-nos a atenção. Indagando o porquê dessa mudança, fomos informados de que, no domingo, para grande parte das pessoas é dia de lazer, de descanso. A igreja não pode “atrapalhar” o programa da família.

Na Europa, a situação é mais complicada. A ED foi sepultada em muitos lugares depois que o materialismo ateu, ensinado nas escolas, nos colégios e nas faculdades, influenciou gerações e mais gerações a afastar-se de Deus, e assimilando a falsa teoria da evolução. Em muitas igrejas, os adolescentes e jovens não quiseram mais ir aos cultos, por não verem mais sentido. Restaram os idosos que, ao longo dos anos, por doença ou velhice, tiveram que ficar em casa. Igrejas fecharam. Sem culto, sem reuniões, sem contribuições, o caminho foi o fechamento dos templos. Muitos foram vendidos e transformados em mesquitas, em cinemas, ou em estabelecimentos comerciais.

Triste fim espiritual para um continente que foi berço de grandes avivamentos cristãos! Pesquisas indicam, com razoável segurança, que, dentro de poucas décadas, a Europa será um continente islâmico. Os muçulmanos ensinam o Alcorão cuidadosamente a seus filhos desde crianças. Os cristãos, infelizmente, em grande parte, preferem ir à praia, ao lazer, ou deixar os filhos diante da televisão ou do computador, na internet, sendo “educados” com programação nada edificante para suas vidas. A maioria dos pais cristãos não vai à ED. E não têm autoridade para influenciar seus filhos a amarem a Escola Dominical.

Mas a derrocada espiritual desses países, chamados de Primeiro Mundo, começou, quando os pais não tiveram mais coragem e firmeza para ensinarem a Palavra de Deus em seus lares; quando as igrejas evangélicas capitularam e se deram por vencidas pelo materialismo diabólico; quando os filhos deixaram de ir para as reuniões, para os cultos, para a ED. A Bíblia diz: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele” (Pv 22.6).

Em nosso Brasil, está acontecendo algo semelhante. Em diversas igrejas, não se realiza mais a ED. A exemplo do que ocorreu na outra América, estão sendo realizados cultos dominicais, pela manhã, e mais nenhuma outra reunião. Isso para que as famílias tenham mais tempo para o lazer. E sintoma de desvalorização do ensino da Palavra de Deus. Há ensinadores e teólogos que dizem que a ED, nos moldes que conhecemos, com o ensino por faixas etárias, está ultrapassada. É retrógrada. Em lugares onde a Palavra de Deus é desprezada, fecham-se Escolas Dominicais, fecham-se igrejas. E abrem-se motéis, bares, e prisões de segurança máxima.

Já ouvimos até de pastores da Assembleia de Deus dizerem que a ED não está na Bíblia. Verdadeira ignorância. Se o etíope, mordomo da Etiópia, tivesse frequentado a ED, não teria ficado anos sem entender a Palavra de Deus. “E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém me não ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse” (At 8.30,31). O alto representante etíope só entendeu a Palavra, quando Filipe lhe explicou. E sua explicação foi tão eficaz que o homem pediu para ser batizado em águas. Na ED, nas classes específicas, por faixas etárias, muitas questões podem ser explicadas e respondidas a contento.

Diz a Palavra de Deus: “Examinai tudo. Retende o bem” (1 Ts 5.21). Examinando a origem, o desenvolvimento e os efeitos da ED na vida de homens e mulheres de Deus, ao longo da História, constatamos que tem sido grande o benefício para a igreja do Senhor Jesus. Nem todos podem frequentar um curso teológico, que propicia melhor aprofundamento no conhecimento bíblico. Mas todos podem frequentar uma ED, que é a maior escola bíblica do mundo. Ainda hoje, em pleno século XXI, a família pode ser altamente beneficiada pelo ensino bíblico na ED.

I - ORIGEM E FINALIDADE DA ESCOLA DOMINICAL

1. Origem da Escola Dominical

Foi num domingo de 1890, quando o jornalista inglês, Robert Raikes, crente metodista, estava em sua escrivaninha, buscando escrever um editorial sobre a melhoria do sistema carcerário de sua cidade.

Naquele momento ele foi interrompido pelo barulho de crianças que brincavam na rua, dizendo palavrões, e brigando o tempo todo. Ali, ficou pensativo, imaginando o que seria daquelas crianças, crescendo sem amor, e sem educação. Era o período da Revolução Industrial. O trabalho infantil era comum. As crianças trabalhavam, ao lado de seus pais, para ajudar na renda familiar.

Aos domingos, os pais descansavam, e as crianças ficavam nas ruas, brincando e brigando. Qual seria o futuro daqueles meninos? Pensava Raikes. Não havia escolas públicas na Inglaterra. Só os mais abastados podiam matricular os filhos nas escolas particulares. 

Profundamente tocado, ele deixou de lado o editorial sobre a reforma dos presídios e passou a escrever outro artigo sobre as crianças pobres, que cresciam sem estudar. Quando o jornal saiu, o artigo de Raikes chamou a atenção da comunidade. Uns, ficaram solidários com ele. Outros o criticavam, dizendo que não deveria estar preocupado com crianças, filhas de operários, quando “havia assuntos mais importantes” para se tratar.

Raikes, “no próximo editorial, expôs seu plano de começar aulas de alfabetização, linguagem, gramática, matemática, e religião para as crianças, durante algumas horas de domingo. Fez um apelo através do jornal, para mulheres com preparo intelectual e dispostas a ajudar-lhes neste projeto, dando aulas nos seus lares. Dias depois, um sacerdote anglicano indicou professoras da sua paróquia para o trabalho”.1 Foi um apelo à solidariedade.

“As histórias e lições bíblicas eram os momentos mais esperados e gostosos de todo o currículo. Em pouco tempo, as crianças aprenderam não somente da Bíblia, mas lições de moral, ética, e educação religiosa. Era uma verdadeira educação cristã”2. As crianças, a princípio, estranhavam por estar trocando as brincadeiras pelos estudos. Mas, logo, viram a grande bênção de Deus em suas vida, pois passaram a aprender a ler, escrever, e, o mais importante, a conhecer a Cristo como seu Salvador, nas aulas dominicais. Além disso, Raikes proporcionou um trabalho de ação social em prol das crianças pobres, conseguindo alimento e agasalho para elas, pois sofriam muito na época de frio. Os professores da Escola Dominical eram voluntários. Alguns recebiam pequena ajuda. Outros gastavam do próprio bolso para atender à ED.

1 Ruth Doris Lemos. "A minúscula semente de mostarda que se transformou numa grande árvore”. Disponível em www.epad.eom.br; acessado em 17/04/2007.
2 Ibid.

Como em todo trabalho de quem sonha para ajudar os outros, Raikes teve forte oposição de quem menos se esperava, ou seja, dos pastores de algumas igrejas. Eles reclamavam porque não gostavam de ver as igrejas, recebendo crianças “mal comportadas” e sujas! A semente da ED foi uma “boa semente”. Quatro anos depois, em 1784, após espalhar-se por várias cidades, já contava com 250 mil alunos. Em 1811, quando Raikes faleceu, a escola já matriculava 400 mil alunos, sendo, de longe, a escola que mais alunos tinha no país. Logo, os pais verificaram a mudança no comportamento das crianças, e passaram a dar apoio à iniciativa oportuna e louvável do jornalista Raikes. As famílias foram as maiores beneficiadas no seio da comunidade.

No Brasil, a ED foi fundada em 1855, pelo missionário Kalley, iniciando com o ensino a jovens e adultos. Depois, foram admitidas crianças e adolescentes. “Hoje, a Escola Dominical conta com mais de 60 milhões de alunos matriculados, em mais de 500 mil igrejas protestantes no mundo.”3

2. Finalidades da Escola Dominical

Pela sua origem, entendemos que a ED foi criada com a finalidade de resgatar crianças da rua através da evangelização e do ensino secular para melhor compreender a Palavra de Deus. De certa forma, essa finalidade evangelística tem sido deixada de lado. Raras são as EDs que possuem classe de evangelização e de discipulado. Ê por demais desejável que a igreja resgate esse objetivo da ED. O ensino bíblico sistemático, finalidade relevante, nas classes por faixas etárias, deve continuar pois é de grande significado para a formação dos cristãos. Mas algumas providências devem ser tomadas para que a ED cumpra seu papel evangelizador.

II - A ED AUXILIA NA FORMAÇÃO DO CARÁTER

O caráter “é o aspecto psíquico da personalidade. O caráter é a característica responsável pela ação, reação e expressão da personalidade. E a maneira própria de cada pessoa agir e expressar-se. Tem a ver com a própria conduta. E a “marca” da pessoa.4 O caráter faz parte da personalidade; “E adquirido, não herdado...Resulta da adaptação progressiva do

3 Ibid.
4 Antônio Gilberto. Manual da Escola Dominical, p. 184.

temperamento às condições do meio ambiente: o lar, a escola, a igreja, a comunidade, o estado socioeconômico...”5 Tendo como base do ensino a Palavra de Deus, através das lições ministradas em cada classe por faixa etária, a ED torna-se inestimável auxiliar na formação do caráter. E fato notório que a maioria dos líderes das igrejas, os missionários, os dirigentes, os pastores e outros obreiros, todos passaram pela ED.

III - A ED FORTALECE A PERSONALIDADE CRISTÃ

1. O que é personalidade

Personalidade é definida como “O que determina a individualidade duma pessoa moral. O elemento estável da conduta de uma pessoa; sua maneira habitual de ser; aquilo que a distingue de outra” {Aurélio). “A personalidade é formada durante as etapas do desenvolvimento psico-afetivo pelas quais a criança passa desde a gestação. Para a sua formação incluem tanto os elementos geneticamente herdados (temperamento) como também os adquiridos do meio ambiente no qual a criança está inserida.”6 A personalidade, portanto, é construída.

Pode-se dizer que personalidade é: “A organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel social (BALLONE, 2003).7

A formação da personalidade começa na infância. Dizem estudiosos que a personalidade de uma pessoa está definida até aos sete anos de idade. O que ela aprender e apreender, até esta fase, comprometerá todo o seu desenvolvimento psíquico, emocional, afetivo, social etc. Daí, podemos ver como é importante o papel da Escola Dominical na formação da personalidade das crianças. Certamente, é o que a palavra de Deus adverte: “Ensina o menino no caminho em que d eve andar, e a té quando envelhecer, não se esquecerá dele” (Pv 22.6, ARA — grifo nosso).

Essas definições, de caráter científico, mostram que a personalidade tem componentes genéticos, educacionais, familiares, e psicossociais, em que o indivíduo vai se tornando “único em sua maneira de ser e

5 Ibid., p. 184.
6 Disponível em www.centroreichiano.com.br Acessado em 19/05/2007
7 Ibid.

de desempenhar seu papel social”. Em outras palavras, na formação da personalidade entram em ação fatores hereditários (herança genética dos pais: cor da pele, dos olhos, estatura etc), e ambientais (formação familiar, escolar, cultural, moral, ética, espiritual etc.). Desse modo, é grande é a importância da ED na igreja, para a formação da personalidade dos alunos. Os fatores ambientais podem ser grandemente influenciados pelos princípios elevados do ensino bíblico.

2. A juventude é beneficiada

Os adolescentes e jovens podem ser fortalecidos em sua personalidade. Os adolescentes estão na fase, em que buscam a sua identidade, preocupam-se muito consigo mesmos, reorganizando sua personalidade; “quem sou eu?”, “Por que sou assim?”, “Qual o meu futuro?”, “Meus pais não me entendem”; muitos desviam-se das igrejas nessa fase. É necessário muita atenção por parte dos pais, e da igreja, na contribuição para a formação da personalidade deles. 

Os jovens, enfrentando as turbulências da adolescência, acabam, de uma forma ou de outra, conscientizando-se de seu papel na sociedade. Pensam seriamente nas escolhas: escola, faculdade, profissão, namoro, noivado, casamento, vida espiritual etc. “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra” (SI 119.9); “Foge, também, dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2.22).

A juventude cristã, que frequenta a ED tem sido instruída e alertada contra esses males próprios de uma sociedade sem Deus, materialista e hedonista.

3. A ED e os adultos

Os adultos são fortalecidos em sua vida, podendo contribuir para a formação dos mais jovens: “Os passos de um homem bom são confirmados pelo SENHOR, e ele deleita-se no seu caminho” (SI 37.23). Há adultos que não têm consciência da vida cristã por terem uma formação espiritual deficiente, ou por só terem aceito a Cristo na idade adulta. A ED precisa ajudar a lapidar o caráter dessa pessoa.

A ED é uma escola de discipulado por excelência. Em cada classe, havendo professores bem preparados, os alunos podem ser formados para serem bons discípulos de Jesus, e não apenas membros ou congregados das congregações e igrejas. Jesus mandou fazer discípulos, ensinando todas as coisas que Ele havia mandado.

IV - A ED PREPARA OS ALUNOS PARA DEFENDEREM SUA FÉ

Em todos os ambientes, notadamente, nas escolas seculares, predomina a educação materialista. E grande parte dos crentes não tem condições de argumentar em defesa da fé. Alguns ficam calados ante as investidas dos falsos “mestres”. E outros não sabem como confrontar as ideias materialistas e ateístas, por falta de conhecimento bíblico e teológico. Grande número de crentes tem conhecimento muito superficial das verdades bíblicas.

A ED, através de um ensino baseado num currículo bem elaborado, pode contribuir para a verdadeira apologética (defesa da fé), dando aos alunos conhecimentos bíblicos, teológicos fundamentados na verdadeira ciência, para que os seus alunos possam enfrentar os ataques do materialismo.

Nos cultos de doutrina, os obreiros podem passar para os crentes os ensinos fundamentais que fortalecem a fé e o caráter cristão. No entanto, em tais ocasiões, eles falam para um auditório heterogêneo, numa linguagem única para segmentos diversos de pessoas. A ED, com suas lições apropriadas para crianças, adolescentes, jovens e adultos, aborda assuntos da atualidade, os grandes problemas morais de nosso tempo, como aborto, eutanásia, gravidez substituta (“barriga de aluguel”, sexo grupai, homossexualismo desenfreado, transexualidade (mudança de sexo). Tudo isso pode ser abordado e discutido na ED, de tal forma que os alunos possam melhor posicionar-se sobre tais problemas, à luz da santa Palavra de Deus.

Com lições que ensinam sobre seitas e heresias, a ED presta uma contribuição excelente, para que os crentes não caiam nas armadilhas sutis das falsas religiões, que se apresentam travestidas de cristãs, mas, na realidade, são instrumentos do Maligno para afastar as pessoas de Deus. Quando a ED é bem estruturada, os professores falam para alunos separados por faixas etárias, numa linguagem própria para cada grupo específico: crianças, adolescentes, jovens, ou adultos.

No mundo, há um número inimaginável de escolas. Todavia, nenhuma instituição escolar tem um efeito tão benéfico sobre a família como a ED. Em todos os países, que valorizam as igrejas, sempre tem havido pessoas que se tornaram úteis à sociedade, e frequentaram a ED. Portanto, as igrejas evangélicas precisam valorizar ainda mais essa, que é, certamente, a maior escola de formação do caráter e de vidas transformadas.


FONTE
Formar uma família e mantê-la com princípios e valores cristãos é um desafio na pós- modernidade. Para obter sucesso, não só é preciso conhecer o que a Bíblia diz, mas como também colocar seus ensinamentos em prática. Desse modo, as contaminações do mundo sobre a família cristã podem ser identificadas e refutadas. Proteja sua família! 

Livro de apoio a lição bíblica do 2º trimestre de 2013.


AUTOR: Elinaldo Renovato de Lima

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