As três mais belas cartas do apóstolo Paulo, dentre as treze, as cartas aos Efésios, aos Filipenses e aos Colossenses se destacam pela lucidez dos ensinamentos doutrinários e pela alegria do Espírito que o fazia superar todas as dificuldades. Acrescente-se a Carta a Filemom às três outras cartas escritas na prisão. Esta carta tinha um caráter bem pessoal com algumas inserções doutrinárias quanto ao trato social com escravos e senhores. Naturalmente, o contexto social e político da época permitia a compra e venda de escravos serviçais. Uma vez que Filemom tornou-se um ardoroso cristão, seu comportamento social mudou no trato com as pessoas. As Cartas são conhecidas como “cartas da prisão” porque foram escritas quando Paulo esteve preso em Roma nos anos 62 e 63 d.C.
A Cidade de Filipos
Filipos é o nome da cidade da Macedônia em homenagem a Filipe, pai de Alexandre, o Grande. Lucas descreveu Filiposcomo a primeira cidade da Macedônia, e sua localização estratégica tornou-a um posto de fronteira militar de Roma, vindo a ser uma das principais rotas entre a Europa e a Ásia. De pequena cidade antiga por nome Krenidês, significando lugar de fontes, foi transformada em um ponto estratégico para o Império de Roma (At 20.6) quando Filipe tomou posse da região e dominou a cidade. Filipos, portanto, tornou-se uma distinta colônia romana, e as colônias romanas eram administradas por magistrados, identificados como pretores (At 16.22,35,36,38).
A Macedônia
A Macedônia era um território do antigo reino da península balcânica (Balcãs), que tinha limites com a Tessália ao sul e ao este e nordeste com a Trácia. A Macedônia fazia parte dos domínios gregos pelas conquistas militares de Filipe II, todavia, depois que este foi assassinado, seu filho Alexandre III — identificado como Alexandre, o Grande — herdou o domínio grego-macedônico. A partir desse domínio, Alexandre, o Grande, partiu para a conquista da parte ocidental da Ásia e do Egito. Porém, com a divisão do império e a sua morte em 323 a.C., a Macedônia tornou-se outra vez um reino separado. Nos anos 221-179 a.C., os romanos fizeram guerra a Filipe e o venceram, mas os descendentes de Filipe reagiram, porém não conseguiram se impor sobre os romanos. A Macedônia tornou-se uma base de expansão do Império Romano. Nos novos tempos depois de Cristo, o cristianismo chegou à Macedônia nas cidades de Tessalônica, Bereia, Filipos e outras (ou colônias). Portanto, Paulo e seus companheiros chegaram a Filipos aproximadamente entre os anos 50 e 51 d.C.
Segundo o registro resultante das escavações arqueológicas no local da cidade de Filipos, os arqueólogos descobriram que Filipos era uma cidade idólatra com vários deuses gregos e romanos, além de várias divindades orientais, como Baal e Astarote e outros. Por não haver muitos judeus na cidade, não havia sinagoga judaica. Com as guerras constantes, a cidade foi sendo invadida e destruídaperdurando o que restou da cidade de Filipos até a Idade Média, e então os turcos a destruíram totalmente, restando apenas ruínas arqueológicas com alguns vestígios do passado.
Como Tudo Começou
A mensagem do evangelho chegou a Filipos, na Macedônia, em 51 ou 52 d.C., conforme está registrado em Atos 16.6-40. Paulo e Silas estavam na segunda viagem missionária pela Asia Menor (hoje Turquia), quando, tendo desembarcado no porto de Trôade (ou Troas), Paulo foi surpreendido por uma visão de noite “em que se apresentava um varão da Macedônia e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos” (At 16.9). Paulo não teve dúvida de que era uma visão de Deus e, por isso, partiu para a Macedônia. Desembarcou no porto de Neápolis e viajou para Filipos.
Os Primeiros Convertidos
Em Filipos, Paulo começou a pregar a Cristo quando uma mulher vendedora de púrpura, chamada Lídia, que era da cidade de Tiatira, abriu o coração para a mensagem de Paulo e o recebeu em sua casa (At 16.14,15). Havia poucos judeus na cidade e gente de outras nações. Filipos era, de fato, uma cidade cosmopolita. Nas primeiras semanas de evangelização, uma vez que não havia uma sinagoga em Filipos, Paulo e seus companheiros desciam à beira do rio no dia de sábado onde se reuniam algumas mulheres e lhes pregava a Cristo. Entre os primeiros convertidos ao cristianismo aparecem o carcereiro e sua família, que foram tocados com o testemunho de Paulo e Silas na prisão, os quais, estando com os corpos feridos, cantavam ao Senhor (At 16.22-34).
O Primeiro Incidente
O modo incisivo de Paulo pregar o evangelho e apresentar a Cristo como Salvador e Senhor acabou por provocar a ira doscomerciantes de Filipos mediante um episódio de libertação de uma jovem adivinha que era escrava, cuja adivinhação lhes dava lucro. Paulo percebeu que se tratava de um espírito imundo que envolvia aquela jovem e expulsou o demônio dela. Uma vez liberta daquele espírito, a jovem não tinha mais o poder de adivinhar, o que provocou grande ira contra Paulo e Silas (ou Silvano) (At 16.16). Os senhores da escrava, percebendo que os lucros caíram, acusaram os dois apóstolos de interferirem em seus direitos de propriedade. Por isso, levaram-nos aos magistrados da cidade e os dois foram presos. Na prisão, depois de açoitados, Paulo e Silas cantavam ao Senhor. Antes, acusados ante os magistrados da cidade, para não serem apedrejados e mortos, os dois apelaram para o fato de que eram cidadãos romanos e não podiam ser tratados daquele modo. Lucas descreveu o episódio que culminou com a conversão do carcereiro da cidade, depois de um terremoto localizado naquele lugar.
A semente do evangelho foi plantada na cidade e, depois de algum tempo, os primeiros convertidos, a partir de Lídia, formaram a igreja na cidade.
A Segunda e a Terceira Viagem Missionária
Alguns eventos anteriores ao envio da Carta aos Filipenses indicam que Paulo completou sua segunda viagem missionária passando por Tessalônica, Bereia, Atenas e Corinto (At 17.1-23) a fim de visitar as igrejas ali estabelecidas.
Quando empreendeu a terceira viagem missionária, visitando as igrejas formadas em seu ministério, Paulo foi para Efeso, que era outra igreja formada em sua evangelização (At 19.1-40). Então, dessa feita, ele voltou para a Macedônia (At 20.1), quando visitou a igreja em Filipos, da qual recebia ajuda de sustento. No fim de sua terceira viagem missionária, Paulo foi a Jerusalém, onde foi preso (At 21.17- 23.30). Transferido de Jerusalém para Cesareia, onde esteve preso por dois anos (At 23.31; 26.32), foi posteriormente enviado para Roma, onde ficou preso por mais dois ou três anos. Foi nesse período de suaprisão que Paulo escreveu algumas de suas cartas entre 61 e 64 d.C., às igrejas de Éfeso, Colossos, Filipos e a Filemom.
A Autoria da Carta
Não há dúvidas quanto à autoria da Carta, porque os elementos autobiográficos colocados na Carta a tornam genuína e autêntica. Discute-se, antes de tudo, o local onde foi escrita, mas é indiscutível a autoria de Paulo. A Carta tem um caráter bem pessoal da parte de Paulo quando cita nomes de pessoas ligadas a ele de modo muito carinhoso. A autoria tem o testemunho dos pais da igreja que no século II citaram a Carta de Paulo aos Filipenses, tais como Poli- carpo e outros. Num documento histórico da primeira metade do segundo século, está escrito que Policarpo, bispo da igreja, escreveu aos filipenses lembrando as cartas de Paulo.
Data e Lugar da Composição da Carta
Tradicionalmente, tem-se datado a Carta em 61 ou 62 d.C., visto que essa data se situa no período da prisão de Paulo em Roma por dois anos (At 28.16-31). Quando Paulo se refere “à guarda pretoria- na” (1.13) e “à casa de César”, subentendem-se como elementos fortes de que a Carta aos Filipenses foi escrita durante o período de sua prisão em Roma. Os argumentos que colocam dúvidas sobre o lugar em que foi escrita a carta ficam desprovidos de provas. Paulo estava à disposição da justiça romana e, por isso, foi-lhe permitido morar em casa alugada desde que estivesse sob a guarda de um soldado.
Propósito da Carta
Um membro da igreja chamado Epafrodito, crente fiel e amigo de Paulo, visitou o apóstolo em sua prisão em Roma, levando uma oferta da igreja de Filipos (Fp 4.18). Epafrodito foi acometido de uma enfermidade ao chegar a Roma e quase morreu (Fp 2.27), mas recuperou-se e, quando se preparava para voltar a Filipos,Paulo resolveu escrever a Carta. Esta tinha por objetivo exortar e animar os filipenses, bem como alertá-los sobre boatos mentirosos a seu respeito lançados por falsos obreiros que procuravam minar a unidade da igreja e a sua lealdade ao apóstolo. Um dos propósitos de Paulo era agradecer a oferta enviada para ajudá-lo no seu sustento durante o tempo de sua prisão. Mesmo estando prisioneiro e com a vida correndo risco de extermínio, Paulo demonstrou à igreja que havia um gozo em sua alma que o capacitava a superar todas as adversidades (Fp 1.4; 4.11-13).
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