Joana é cristã há oito anos. Jorge, seu marido, não é evangélico. Joana gosta de trabalhar com crianças e o pastor pediu a ela que desse aulas na Escola Dominical. Joana conversou com Jorge a respeito e ele concordou que ela aceitasse o convite. Seu compromisso como professora deveria ser por um trimestre (13 semanas). Passado metade do tempo, Jorge começou a resmungar e se queixar a Joana por causa de seu compromisso. Embora ela tomasse cuidado de preparar as lições quando ele não estava em casa e a minimizar o efeito do seu compromisso sobre ele, Jorge mostrava-se decididamente infeliz. Ele resolveu de uma hora para outra que deveriam passar fora o fim de semana a cada quinze dias, para que pudesse escapar das pressões do trabalho. Joana lembrou a ele amavelmente de que concordara que ela ensinasse, mas ele não se importou com o comentário. Joana está agora dividida entre seu desejo de cumprir o prometido à igreja (fazendo com que seu "sim" seja mesmo um "sim") e seu desejo de acabar com as reclamações, espetadelas, gritos e sarcasmo que tem de aturar do marido. Ela está sofrendo por fazer o bem. Ela precisa alegrar-se no Senhor, cumprir seu compromisso com a igreja e continuar sendo bondosa e amorosa com seu esposo. Além disso, deve tentar descobrir uma professora substituta que possa dar aulas uma ou duas vezes por mês como um meio de mostrar a Jorge que ela está tentando acomodar os desejos dele, embora o marido não tenha cumprido com sua palavra.
Esse texto adaptado mostra o conflito de um casal em que um dos cônjuges é crente, e o outro não. Neste capítulo trataremos sobre o casamento misto, uma situação que vem ocorrendo na igreja e da qual não podemos nos furtar no sentido de ajudar a quem por ela passa. Desejamos não apenas avaliar a situação, mas também verificar de que forma um cônjuge crente pode ganhar para Jesus o cônjuge não crente. Comecemos com uma palavra preventiva para os solteiros. A seguir, trataremos especificamente dos casados.
A Vontade de Deus para os Solteiros
A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo em que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido, fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor. (1 Co 7.39)
Tratando primeiramente dos solteiros, utilizamos um versículo que trata do caso de viuvez. A semelhança entre a viuvez e o estado de solteiro são semelhantes, pois permitem à pessoa casar-se. O viúvo, mais uma vez, e o solteiro, pela primeira vez. O foco é o desimpedimento para contrair núpcias. Apesar de o texto acima descrever a possibilidade de um segundo casamento de uma mulher que passou pela viuvez, devemos observar dois princípios: a) No caso de uma viuvez, o viúvo ou viúva tem a possibilidade de se casarem mais uma vez; b) "Contanto que seja no Senhor" traz a ideia de que seu próximo cônjuge deve ser escolhido entre os domésticos da fé. Não há, portanto, uma concessão de Deus para que se escolha pessoas estranhas à fé cristã com o objetivo de constituírem uma família.
Namoro, noivado e casamento não são campos missionários. Diferente do que alguns solteiros acreditam, não costuma dar certo namorar uma pessoa não crente para ganhá-la para Jesus, e por "tabela", para si mesmo (a). A regra é que nesse caso, o não crente costuma tirar da igreja o crente, ou se seguirem no namoro e até o casamento, as demandas espirituais de cada um entrarão em conflito e o crente sairá da igreja, se não mantiver uma postura muito segura de sua fé.
O desejo de Deus em relação aos solteiros é que escolham pessoas da mesma fé a fim de se casarem. Usei o verbo "escolher" porque fazemos uma escolha. Deus espera que utilizemos o bom senso nesse ato de escolha. O senhor nos guia como ovelhas por verdes pastos, mas não nos diz de qual moita devemos nos nutrir. Por que isso? Para que tenhamos a liberdade de glorificá-lo fazendo escolhas sábias e coerentes, inclusive em relação ao casamento.
De forma geral, outros grupos religiosos agem dessa forma. Muçulmanos buscam muçulmanos para se casaram, e judeus costumam se casar com outros judeus. Sempre há exceções à regra, e as exceções sempre são vistas como uma quebra de um padrão social estabelecido, ainda que de forma costumeira. Sabemos que muitas vezes o parâmetro divino não é observado nas escolhas de moças e rapazes, o que abre as portas para diversos problemas no casamento, como discussões sobre a criação de filhos na igreja ou não, tempo para o lazer, utilização de recursos financeiros, e vida espiritual dos membros da família e escolhas de amigos.
São problemas reais de quem escolheu casar-se com uma pessoa que possui uma fé diferente.
A Vontade de Deus para com uma Pessoa Casada com um Não crente
Tendo tratado dos solteiros que possuem o direito de escolha no tocante ao casamento, falemos dos casados. Há pelo menos três possibilidades que ensejam um casamento que acabará se tornando misto: Há o caso em que um homem e uma mulher se casam não sendo crentes, e um deles depois se converte ao evangelho, e o outro não. Aqui, a conversão ocorre depois de o casamento consumado.
Existe o caso de uma pessoa crente que se casa com uma não crente. Isso ocorre com certa frequência, quando um cristão decide desobedecer a Deus quanto à escolha de um cônjuge. Neste caso, o casamento é misto em sua origem.
Há o caso de duas pessoas se casarem na igreja, e um dos cônjuges professar ser cristão, mas não mostrar de forma evidente o fruto do espírito e a salvação depois do casamento. Não é difícil entender que há pessoas na igreja que estão lá apenas por interesses específicos, não importando a elas a comunhão com Deus. Esse é um terceiro caso de ocorrência do casamento misto.
Independente da origem, o casamento misto é um desafio à fé do cônjuge cristão. As discussões podem se tornar frequentes quanto ao pensamento religioso, agravando os atritos da convivência. Nessa seara, diferente da ordem que Deus dá de os solteiros casarem-se com quem quisessem, desde que o fizessem no Senhor, Paulo apresenta uma outra situação: aos cônjuges, que não se separassem. Geralmente se entende que esse texto refere-se a duas pessoas casadas e que antes não conheciam ao Senhor, e que posteriormente ao casamento, um tenha aceitado a Jesus e o outro não. Entretanto, há uma condição para essa manutenção do casamento: a concordância em viverem juntos.
A Bíblia não defende o divórcio, nem mesmo de um cônjuge crente e um não crente. "E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Mas, aos outros, digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe" (1 Co 7.13,14).
Essa não é uma realidade distante de nossas igrejas. Temos em nossas congregações pessoas que passam pelos chamados casamentos mistos, em que um dos cônjuges serve ao Senhor, e o outro, não.
O Antigo Testamento e o Casamento Misto
Salomão
Houve momentos em Israel em que casamentos mistos atrapalharam o povo de Deus. Um dos exemplos é o de Salomão e as mulheres de seus inúmeros casamentos. Salomão começou bem seu reinado. Contou com a ajuda de Deus, que lhe deu paz com seus vizinhos, sabedoria e riquezas. Era conhecido como um homem muito inteligente, e procurado diversas vezes para realizar julgamentos para o seu povo. Entretanto, a Bíblia apresenta uma falha na vida de Salomão: as mulheres com quem ele se casou.
Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito para com o SENHOR, seu Deus, como o coração de Davi, seu pai. (1 Rs 11.4).
Esse verso mostra a derrocada do terceiro rei de Israel. Ele possuía, como esposas, setecentas princesas e trezentas concubinas. Essas mulheres convenceram Salomão a seguir cultos estranhos. O verso também cita Davi, seu pai. Davi também teve muitas esposas, o que a lei de Deus condena, mas nenhuma delas fez com que Davi se desviasse dos caminhos do Senhor. Não entenda esse comentário como um precedente para a poligamia. Entenda, dentro do que estamos falando, sobre a capacidade de um cônjuge não crente convencer o crente a afastar-se dos caminhos do Senhor.
Acabe e Jezabel
Neste momento da história de Israel, com o reino dividido, o Reino do Norte caiu nas mãos de Acabe. Ele casou-se com Jezabel, uma siro-fenícia que nunca escondeu suas preferências religiosas. Ela não apenas utilizou o dinheiro público dos judeus para sustentar 850 profetas de Baal e Astarote, mas também eliminou os profetas do Senhor que não conseguiram escapar de suas mãos.
Ela parecia uma mulher autônoma, dotada de pensamentos malignos. E com um marido submisso, conduziu Israel à idolatria, a ponto de Deus levantar Elias como profeta e combater o casal e trazer de volta a nação ao Senhor.
Neste caso, esse casamento custou um alto preço à liderança do Reino do Norte. Por não se arrepender e tornar ao Senhor, Acabe pagou com a vida em uma guerra, e Jezabel foi lançada da janela do palácio, onde morreu por causa da queda, mas não sem antes tentar seduzir seus executores.
Casamentos depois do exílio
Por ocasião da reconstrução de Jerusalém pelas mãos de Neemias, este se deparou com uma situação complicada (tanto quanto as outras com que se deparou, como oposição política e espiritual, deboches, pobreza e possibilidade de ataques contra a cidade): os diversos casamentos mistos realizados durante o exílio. J. I. Packer, tratando de Neemias e desse desafio, comenta:
[Prometemos] que não daríamos as nossas filhas aos povos da terra, nem tomaríamos as filhas deles para nossos filhos (10.30), preceituava o "firme concerto". Na ocasião em que ele foi firmado, a pureza racial fora tema de preocupação comum, e eles "apartaram de Israel toda mistura" (13.3), indo além do que mandava a lei, que excluía apenas os amonitas e moabitas. Não obstante, o zelo pela pureza do sangue israelita e em fazer tudo para agradar a Deus, que presumivelmente instigara tal exclusivismo, evaporara-se. Quando Neemias retornou a Jerusalém, encontrou lá "judeus que tinham se casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas" (13.23). O motivo pode ter sido a paixão, é claro, porém é mais provável que haja sido a prudência (se é que se pode chamar assim) que tinha os olhos na oportunidade e nos casamentos por dinheiro, prestígio ou alguma forma de lucro mundano. E, em alguns casos, Neemias descobriu que a língua falada em casa, por decisão dos pais, era estrangeira. "E seus filhos falavam meio asdodita e não podiam falar judaico, senão segundo a língua de cada povo" (13.24). Isso enfureceu Neemias não apenas pela quebra do voto, mas porque as crianças seriam incapazes de partilhar a adoração em Israel, ou aprender eficazmente a lei; consequentemente, não estariam aptas a transmitir a fé aos filhos que viriam a ter, e assim estaria em risco a futura unidade espiritual da nação israelita. (Neemias — Paixão pela Fidelidade, p. 212,213)
Neemias agiu de forma radical nesse momento, convocando uma reunião com os homens e cobrou-lhes o que haviam prometido.
Os exemplos citados acima mostram o perigo de um casamento misto, apresentando a possibilidade de haver um desvio do cristão, quebra da relação com Deus, como também implicações para os filhos e netos, que terão dificuldades em ter contato com a Palavra do Senhor e a fé em Jesus Cristo.
O Novo Testamento e o Casamento Misto
O Novo Testamento fala de Timóteo. Esse moço foi um dos companheiros de Paulo em suas viagens missionárias, e posteriormente pastoreou a igreja de Éfeso. Mas de que forma Timóteo participa deste tema de casamentos mistos? Há algum registro de que ele, como missionário e pastor, tenha se casado com uma mulher não crente? Não, não há registros nem no Novo Testamento nem com os pais da Igreja de que Timóteo tenha se casado com uma mulher não crente. Mas há o registro de que Timóteo era filho de uma mulher judia e um pai grego. Lucas relata em Atos 16.1 que quando Paulo chegou em Derbe e Listra, "E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego". Ou seja, ele era fruto de um casamento misto. Isso retira dele a autoridade pastoral ou missionária? Claro que não. Mesmo sendo filho de pai grego, ele foi ensinado na fé judaica, por sua mãe e sua avó: "trazendo a memória a fé não Ungida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti". Se em um texto Timóteo é apresentado como filho de um casamento misto, em outro texto é ressaltada a fé que lhe foi transmitida por sua mãe e avó.
Nada impede que o filho de um casamento misto se torne um ministro do evangelho, mas com certeza um preço há de ser pago. Não sabemos o motivo por que Eunice, mãe de Timóteo, tornou-se esposa de um grego, mas sabemos que ela não perdeu a fé no Deus de Israel. Sabemos também que essa fé foi transmitida a seu filho. É provável que o pai de Timóteo não visse nenhum problema em seu filho ser levado à sinagoga. Talvez não tenha tolhido o direito de Eunice de incutir no filho a fé no Messias que viria. O certo é que Deus alcança lares mistos onde a fé perdura, mas não sem algum conflito.
Situações na Igreja de Corinto
A primeira carta aos Coríntios, capítulo 7, fala, entre muitas questões, sobre o casamento. Ele começa falando sobre o casamento, orientando sobre o cuidado contra a prostituição e a necessidade de os cônjuges reconhecerem as necessidades sexuais uns dos outros. Fala do cuidado para que não se fique abrasado, dando preferência ao casamento, e ordenando que os casados não se separem. A seguir, Paulo trata do casamento entre crentes e não crentes. Ele sabia que na Igreja Coríntia havia casamentos mistos, e recomendou que se o cônjuge não crente consentisse em continuar vivendo com o crente, que o crente não se separasse. A única possibilidade de divórcio era se o não crente não quisesse mais manter a união (1 Co 7.15). Nesse caso, o cônjuge crente estava livre: "Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz". Paulo não recomenda o divórcio, mas se esse acontecer pelo desejo do não crente, que o crente se sinta em paz.
Como já vimos, a posição bíblica é que os solteiros não se casem com pessoas não crentes. Caso o matrimônio tenha ocorrido quando os cônjuges não eram crentes, e um posteriormente tenha recebido a Jesus, que não haja o divórcio, exceto se o não crente quiser romper o compromisso matrimonial. Caso o não crente queira manter a união, que o crente não o desfaça. E é possível que os filhos de um casamento misto tenham um encontro com Jesus e se tornem grandes obreiros.
Últimas Palavras
Recomendamos que o cônjuge crente faça o possível para que seu companheiro ou companheira sejam alcançados pelo Senhor. Independente de como se iniciou um casamento misto, é certo que Deus deseja alcançar o cônjuge não crente.
A oração é fundamental. A primeira coisa que devemos fazer é buscar ao Senhor em oração. "Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tg 5.16). Deus espera que apresentemos no altar nossas dificuldades em todos os aspectos, e as dificuldades de relacionamento não estão de fora. Busque ao Senhor apresentando seu esposo ou esposa e creia que sua oração será respondida. Deus espera alcançar seu cônjuge, para que ambos sejam coerdeiros do céu.
O ensino aos filhos. Como Timóteo teve uma educação que o direcionou posteriormente ao ministério, o cônjuge crente pode tentar criar seus filhos na igreja, levando-os ao santuário e os apresentando a Jesus. Caso haja alguma oposição, argumente que é importante que os filhos tenham uma vida espiritual ligada a uma fé que apresente a Palavra de Deus como regra e prática, melhorando o seu comportamento e fazendo com que sejam cidadãos melhores, com bons modos e uma visão bíblica da vida. Deus fará o restante.
O bom testemunho. Nosso comportamento é notado em nossa casa e fora dela. E nosso cônjuge perceberá a diferença que Deus faz em nossa vida. O "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço" não tem vez no Reino de Deus, sendo o nosso testemunho mais importante que nossas palavras.
O cuidado com as coisas cotidianas. Há pessoas que, com a idéia de servir ao Senhor, abandonam o lar e deixam de dar sua presença e assistência ao cônjuge e aos filhos. Esse não é um bom testemunho. A oração no templo é de grande valia, pois oramos e temos comunhão uns com os outros, mas isso não pode servir de desculpa para se evitar o lar e o cônjuge não crente. Se servimos ao Senhor, precisamos entender que nossa fé é refletida em nossas ações dentro e fora de casa. Portanto, a diligência no lar faz parte de nosso trabalho para que o Senhor alcance nosso companheiro ou companheira.
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