A aspiração maior da vida de quem anda no Espírito é conquistar o prêmio da soberana vocação. Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas
que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Pelo que todos quantos já somos perfeitos sintamos isto mesmo; e, se sentis alguma coisa doutra maneira, também Deus vo-lo revelará. Mas, naquilo a que já chegamos, andemos segundo a mesma regra e sintamos o mesmo. Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam. (Filipenses 3.12-17)
que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Pelo que todos quantos já somos perfeitos sintamos isto mesmo; e, se sentis alguma coisa doutra maneira, também Deus vo-lo revelará. Mas, naquilo a que já chegamos, andemos segundo a mesma regra e sintamos o mesmo. Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam. (Filipenses 3.12-17)
Nos versículos 1 a 11, o apóstolo Paulo faz um retrospecto de sua vida e a analisa à luz da experiência pessoal com Cristo. Depois de contabilizar sua vida e abrir mão de seus valores do passado, ele assume no presente uma postura de atleta que corre celeremente para chegar à meta final de sua carreira cristã. Nos versículos 7 a 11 desse mesmo capítulo, Paulo diz que todas as conquistas feitas no passado sem Cristo são consideradas como perda por causa do evangelho. O alvo maior da sua vida estava em conquistar a excelência do conhecimento de Cristo Jesus (3.8). O alvo sublime está à frente. A ambição maior que dominava o seu coração seria partilhar o poder da ressurreição de Cristo, e, para experimentar esse poder, ele teria que partilhar dos seus sofrimentos. Paulo entendeu que essa carreira tem no caminho os obstáculos, mas o segredo da vitória está na persistência em correr até alcançar o prêmio que todo atleta vencedor deseja receber. O verdadeiro cristianismo não se restringe a um triunfalismo sem a experiência de participar da comunhão dos seus sofrimentos. Há algo que vai além do natural, e o prêmio por essa conquista será conferido na vitória final.
A Ambição Maior de Paulo (3.12)
Warren W. Wiersbe, em seu Comentário Bíblico Expositivo, ao ilustrar esta escritura bíblica fez uma comparação do cristão ao atleta. Ele escreveu assim:
Os estudiosos da Bíblia não apresentam um consenso quanto ao esporte específico descrito pelo apóstolo - se é uma corrida a pé ou uma corrida de carros. Na verdade, não faz diferença, mas prefiro a imagem da corrida de carros. O carro grego usado nos Jogos Olímpicos e em outros eventos era, na verdade, uma pequena plataforma com um roda de cada lado. O condutor não tinha muitos lugares onde se segurar durante o percurso na pista. Precisava inclinar-se para a frente e retesar todos os nervos e músculos, a fim de manter o equilíbrio e controlar os cavalos. O verbo “avançar”, em Filipenses 3.13, significa, literalmente, “se esticar como quem está em uma corrida”, (vol. 2, p. 114)
1. Paulo utiliza a linguagem do atleta: “Não que já a tenha alcançado”
Na linguagem metafórica que Paulo utiliza sobre essa carreira, ele reconhece que precisa aperfeiçoar-se como atleta. A expressão inicial do versículo 12 indica que Paulo tinha consciência de suas limitações. Por isso, ele se vê num estádio correndo com tantos outros corredores, mas tem convicção de que somente um receberá o prêmio (1 Co 9.24). Não se trata de uma competição individualista quando diz que somente um leva o prêmio. Significa que esse “um” inclui todos aqueles que servem a Deus. Todo atleta quando está numa maratona corre para poder alcançar o prêmio final. O apóstolo declara que neste mundo o crente é alguém que procura avançar com denodo na carreira cristã. Paulo declara que havia sido alcançado por Cristo e, portanto, agora procura conquistá-lo. A busca da perfeição era a razão principal de sua vida. Os falsos obreiros pregavam ter alcançado a perfeição e, por isso, não tinham muito que se preocupar. Paulo refuta essa ideia afirmando que “prosseguia para o alvo” (3.14). A doutrina de que “uma vez salvo, salvo para sempre” não encontra respaldo no ensino de Paulo. Muito do comodismo de alguns crentes se baseia nessa falsa ideia de “salvação perfeita”. Sabemos que a obra expiatória de Cristo foi perfeita em relação à pena do pecado. Mas sabemos também que precisamos cuidar da nossa salvação em relação ao poder do pecado na vida cotidiana. Ora, isso faz com que entendamos que até a morte teremos que continuar correndo nesta carreira.
2. O sentimento de incompletude de Paulo (3.13)
Paulo diz literalmente: “não julgo havê-lo alcançado”. Expressão típica de quem não se dá por satisfeito com o que já tem feito. Sua satisfação era completa em relação ao Senhor Jesus, que era a razão de sua vida e ministério. Mesmo com toda a convicção de vitória e de conquista obtidos ao longo da vida cristã, Paulo não se deixava enganar com uma falsa segurança. Ele entendia que não há completude no meio da carreira. É preciso ir até o final. O galardão está guardado para o final mediante a vitória final.
Note o que o texto diz: “Não que eu o tenha já recebido” (v. 12a, ARA). Ora, o que isso quer dizer? Significa que nesta vida terrena ninguém alcançará o prêmio. O alvo do evangelho é o prêmio final, depois da morte e no Tribunal de Cristo (2 Co 5.10). Por isso, quem está na carreira não deve parar no meio do caminho, nem deve acomodar-se à ideia de contentar-se com o que já tem recebido. Esse comodismo produz letargia e negligência. Paulo sabia que havia muita coisa a ser conquistada, por isso deixou bem claro que não corria sem meta. Aos coríntios, Paulo disse: “... luto, não como desferindo golpes no ar” (1 Co 9.26, ARA). A vida de comunhão com o Senhor promove o desejo de querer mais e mais no campo da vida espiritual. A despeito de estar preso, Paulo ansiava por alcançar o alvo, no sentido de conhecer mais e mais ao Senhor.
“Não que [...] tenha já obtido a perfeição” (v. 12, ARA). Na realidade, ninguém alcança a perfeição nesta vida, mas a exortação é para que busquemos ser perfeitos. Paulo estava afirmando aos fili- penses que ele não tinha a presunção de se apresentar como alguém que já tivesse alcançado a perfeição. O prêmio para o apóstolo Paulo era Cristo. Não se tratava de qualquer outro coisa ou beneficio espiritual. Sua ambição maior era conquistar a Cristo. Essa expressão paulina quebra a ideia equivocada de “uma vez salvo, salvo para sempre” em que o cristão não tem mais com que se preocupar, porque já alcançou o prêmio. Entendemos que a salvação é dinâmica e que, em relação à pena do pecado, ela é perfeita e realizada; em relação ao presente, a salvação é progressiva e requer que o cristão seja fiel até a morte para conquistar o prêmio final (Ap 2.10).
3. O engano da presunção espiritual (3.14)
A presunção refere-se à ideia de ter alcançado a perfeição e não se faz necessário mais qualquer outro esforço. Ê presunção acreditar que a obra de salvação não requer mais nada do crente.Quanto ao que Cristo fez, foi perfeito e completo. Quanto ao que temos que fazer, refere-se à manutenção da obra salvadora. Por isso, o verbo “prosseguir” implica ação contínua e estimula a lutar pelo prêmio final.
Paulo não se deixou enganar com a ideia de ter alcançado a perfeição, mas ele prosseguia na conquista. Os falsos mestres do gnosticismo afirmavam ter alcançado a perfeição, por isso, reivindicavam ser iluminados e que não tinham mais nada a fazer. Paulo refutou essa ideia demonstrando que a conquista da perfeição será para aquele que chegar ao alvo.
“Prossigo” (v. 14) é forma verbal que implica determinação da parte do apóstolo. Uma determinação pessoal com o sentido de esforço intenso de não desistir mesmo enfrentando obstáculos e dificuldades na carreira. Esse verbo lembra uma lenda acerca das maratonas gregas. Um jovem sonhava em correr numa daquelas famosas maratonas, mas a participação requeria que ele pagasse um preço alto que somente corredores de elite podiam participar. Mas o jovem não desistiu do sonho. Seu pai vendeu tudo o que tinha para pagar o ingresso entre os corredores. O jovem, então, preparou-se fora das pistas de corrida, correndo pelos montes e vales até chegar o dia da maratona. Apresentou-se como corredor, pagou o ingresso e se pôs a correr entre os demais corredores. Esse jovem era desconhecido. Seu nome era desconhecido e ninguém imaginava que aquele jovem faria a diferença na maratona. Com a força nas pernas e uma capacidade enorme de respiração, o jovem corredor ultrapassou a todos os corredores. O povo começou a aclamar o nome do novo corredor e lançar flores, palmas e pepitas de ouro aos seus pés. O jovem ao ver as pepitas de ouro lançadas aos seus pés começou a abaixar-se para pegar as pepitas de ouro e, então, caiu em velocidade e os demais corredores começaram a aproximar-se dele, quase o alcançando. Seu pai, desesperado, começou a gritar pelo nome do filho e pedir que ele prosseguisse na carreira e se esquecesse das pepitas de ouro. O velho pai, para chamar a atenção do filho, tomou de uma adaga e cortou o pulso para escorrer sangue para que o filho visse e nãoparasse, mas prosseguisse até o final. Por fim, o filho entendeu a mensagem do pai que deveria prosseguir sem parar, porque o que importava era o prêmio no final da carreira. Portanto, na carreira cristã devemos prosseguir até o fim.
A Demonstração de Maturidade Espiritual (3.15,16)
1. Em que sentido somos perfeitos? (3.15)
Quando o apóstolo disse “todos quantos já somos perfeitos” estava, de fato, fazendo distinção com os falsos cristãos influenciados pelo gnosticismo que se vangloriavam de sua “perfeição”, tanto judeus como gentios. Os judeus se vangloriavam da circuncisão. Os gentios cristãos se vangloriavam de ter alcançado a perfeição e, por isso, se sentiam completos e mais iluminados no conhecimento espiritual. Os gnósticos entendiam que haviam alcançado um estado de perfeição, mediante a sua filosofia, e por isso, não precisavam exercer qualquer esforço para obter a perfeição.
Por outro lado, Paulo — que havia acabado de negar a ideia de perfeição alcançada (v. 12) —, explica o termo “perfeito”, o qual ganha um sentido especial no contexto das palavras do apóstolo para referir-se à ’’maturidade”.
Num sentido especial, todos alcançamos a perfeição mediante a obra perfeita de Cristo no Calvário. Nesse sentido, a nossa salvação é perfeita e completa. Porém, o contexto do ensino de Paulo indica que o vocábulo “perfeito” refere-se à maturidade espiritual. A vida cristã tem um caráter progressivo e requer que “andemos de acordo com o que já alcançamos” (3.16, ARA).
2. O cristão deve andar conforme o nível de maturidade alcançado (3.16)
Entendemos que não basta correr com disposição e vencer a corrida. O corredor precisa correr com atitude de respeito às regras estabelecidas. Nos jogos gregos e também nos jogos romanos,havia muita rigidez da parte dos juizes que faziam valer as regras estabelecidas. O atleta não podia cometer qualquer erro ou infração para não ser desqualificado dos jogos. O que Paulo queria que os filipenses entendessem era que na carreira cristã existem regras para serem obedecidas. Essas regras estão na Palavra de Deus. Na Carta a Timóteo, Paulo escreveu: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tm 3.16).
Quando Paulo diz: “andemos segundo a mesma regra”, não está se referindo à lei. Andar segundo a regra não consiste de regulamentos da lei mosaica, tão requerida pelos judeus convertidos a Cristo. Trata-se de andar conforme a doutrina de Cristo. Esse comportamento demonstra a maturidade do crente que anda segundo aquilo que já recebeu de Cristo. Não basta correr e vencer a corrida. O corredor precisa obedecer às regras da carreira cristã.
3. O exemplo a ser imitado (3.17)
Em nossos tempos modernos a igreja precisa de exemplos, isto é, de referenciais aos quais a igreja possa imitar. A ousadia de Paulo não tinha qualquer resquício de presunção. Pelo contrário, havia na atitude de Paulo em apelar aos filipenses que imitassem a Ele a convicção de uma vida limpa com uma conduta que imitava a Cristo. Mais do que os seus escritos, Paulo era um exemplo vivo de como viver a vida cristã. Seu comportamento manifestado em ações era mais forte do que palavras. Por isso, ele podia se arriscar a dizer às igrejas sob sua liderança espiritual que o imitassem. Aos coríntios ele escreveu: “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar. Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1 Co 10.32,33; 11.1). Ninguém no Novo Testamento ensinou sobre ética como Paulo. Ele era, de fato, um paradigma para as igrejas gentias. Sua doutrina revelava seu caráter e comportamento entre todos.Toda a vida de Paulo era concentrada na pessoa de Cristo Jesus. Ele tudo fazia para agradá-lo. Sua aspiração era totalmente canalizada para Cristo. Por isso, ele podia declarar: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (G12.20).
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