O SALMO DAS MEMORIAS AMARGAS - Salmo 137
A vida é composta de cenas que ficam marcadas na memória da gente. Fatos bons e agradáveis nos fazem rir sozinhos, apenas pela doce lembrança: o dia do casamento feliz, o nascimento do primeiro filho, a festa da aprovação no vestibular, aquela viagem inesquecível, os bons papos com os amigos... Mas a vida tem também dias adversos, e muitos deles se tornaram tão intensos que impregnaram a memória de tal maneira, que se transformaram na memória da dor, nas lembranças amargas da alma.
São situações doloridas e que não conseguimos digeri-las... O tempo passa, mas a lembrança estranha e amarga destila seu fel roubando o encantamento da jornada. Gente amargurada, gente com um azedume inesgotável... gente boa, mas que por traumas na vida, adoeceu de dentro pra fora... e quando abrem a boca, vomitam toda sorte de revolta, indignação e amargura...
Gente que está purulenta no coração, exalando o fétido cheiro da inflamação devido a fatos não superados: o fim do casamento, o dia que tudo acabou na vida familiar, a traição de um sócio que destruiu os sonhos profissionais e deixou na rua da amargura, a punhalada pelas costas do amigo do peito, a morte de um ente querido, os anos de pobreza e dificuldade material...
O Salmo 137 é o retrato bíblico desta realidade da vida! O autor deste salmo viveu os dias adversos do início do cativeiro babilônico. O dia em que os inimigos chegaram e os poucos que conseguiram fugir, ao invés de serem ajudados pelos edomitas, foram apunhalados pelas costas e entregues nas mãos dos seus exatores... O tempo estava passando no cativeiro, mas as memórias daquele dia: o dia de Jerusalém, não se apagava da mente, não pacificava o coração.
No salmo encontramos o registro do lamento, mas também da imprecação (rogar praga) nos adversários como resultado direto das memórias amargas impregnadas na alma. O salmo começa afirmando que: “nós nos assentávamos e chorávamos lembrando-nos de Sião”(v.1); Mas continua acentuando o fator memória ao dizer nos versos seguintes: “Se eu de ti me esquecer...”(v.5); “se me não lembrar de ti” (v.6); “lembra-te, Senhor, do dia de Jerusalém” (v.7)... quantas memórias... memórias de dor... memórias de um profundo amargor!
Graciliano Ramos tem um livro fantástico que tem como tema: Memórias do Cárcere! As memórias amargas apresentadas pelo salmista, homem como somos, revelam toda nossa vulnerabilidade diante de fatos da história que ficaram impregnados no coração (dele e também dos nossos). São nossas memórias do cárcere interior. Estas memórias amargas são capazes no texto de três coisas:
a. Nos paralisam na vida! “Nós nos assentávamos e chorávamos...”
A vida se estaciona. As energias gastas com a manutenção no coração do amargor acabam por drenar toda vitalidade que nos impulsiona a seguir em frente. Ninguém que esta com o coração abastecido com a memória da dor vai conseguir progredir. A vida para, estaciona. A gente se assenta e chora. As memórias amargas nos paralisam a vida! Tornam-se o primeiro pensamento ao acordar e o ultimo a nos deixar quando do dormir...
b. Geram tristeza incontida! “nós nos assentávamos e chorávamos... eles nos pediam canções e que fôssemos alegres.... como ?
Inevitável é percebermos que tem muita gente assim... que perdeu a alegria de viver. Gente que perdeu o encanto com a jornada da vida. A memória da dor só lhes permite ruminar a tristeza. A vida está estampada com as cores da morte. Choro, lamento, ausência de contentamento de alma... E isso não passa. Nada parece mudar este cenário pardacento.
c. Explosões de Raiva. “feliz aquele que te der paga do mal que nos fizeste... feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra”
Dessa maneira terrível, revoltada e enfurecida termina este salmo. Mas isso não é propriedade exclusiva do compositor sacro. Isso nos é muito próximo. Quantas vezes nossas explosões incontidas de raiva, em situações corriqueiras, revelam que algo lá dentro não vai bem... Nada parece resolver o caso, senão ver a desgraça de quem nos desgraçou... E enquanto esta vingança não se consuma... a alma adoece na expectativa.
No exílio, prostrados, vencidos até em suas energias vitais... o povo precisava antes de uma libertação social e política, de um reencontro com o sonho, a paz, e a cura de Deus. E Deus cura o coração amargurado... Jesus diz que “é do coração que procedem os maus desígnios... e que a boca fala do que está cheio o coração”. Como louvar a Deus com verdade de alma, com o coração cheio de memórias amargas com o irmão! Jesus diz: deixa tua oferta perante o altar e vai acertar com quem te machuca o coração!
Deus cura o coração...
(você quer saber como ? Toda quarta-feira no grupo Getsêmani... Salmos que curam a alma!)
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