Cumprindo suas Obrigações Diante de Deus '1 Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. 2 Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a
pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras. 3 Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias. 4 Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. 5 Melhor é que não votes do que votes e não cumpras. Ec 5.1-6
pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras. 3 Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias. 4 Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. 5 Melhor é que não votes do que votes e não cumpras. Ec 5.1-6
Nos capítulos 1— 4 do livro de Eclesiastes, Salomão já havia tratado praticamente de tudo aquilo que acontece “debaixo do sol”. Ele mostrou que o conhecimento sem o temor de Deus não é sabedoria, mas estultice. Da mesma lorma ele mostra que a busca pelo prazer e lazer pode ser simplesmente correr “atrás do vento”, se não tiverem como fim último a adoração a Deus. Dentro ainda dessa perspectiva, a aquisição de muitos bens ou posses pode transformar um pobre em um rico, mas não em alguém próspero. Por último ele mostrou que o trabalho sem a visão de Deus como fim último é mero ativismo.Agora Salomão, no capítulo 5 de Eclesiastes, irá falar sobre a adoração em um contexto em que se contrastam a obrigação e a devoção. Como devotos temos direitos, mas também possuímos deveres. E essas obrigações não se limitarão apenas ao mundo religioso, mas também ao universo político-social. Eclesiastes mostrará que essas obrigações serão melhores compreendidas quando vistas à luz dos os atributos de Deus, tais como: Santidade, transcendência e imanência.
Neste capítulo darei maior destaque a uma prática que é muito comum entre os pentecostais — a prática de se fazer um “voto” ou propósito em prol de determinada causa. Fiz isso também porque esse parece ser o assunto que recebe maior destaque por parte de Salomão em Eclesiastes 5.1-6.
Obrigações versus Devoção
Obrigações de natureza político-social
Há uma máxima que diz: “Primeiro a obrigação depois a devoção”. Esse dualismo, que separa obrigação da devoção como se íossem duas dimensões totalmente distintas não é bíblico. A Escritura orienta-nos a priorizarmos o Reino de Deus (Mt 6.33), mas sem perdermos de vista a dimensão material da qual fazemos parte (Mt 22.21). Neste aspecto a obrigação deve ocorrer no contexto da devoção e vice-versa.
Eclesiastes também mantém essa perspectiva — “Eu te digo: observa o mandamento do rei, e isso por causa do teu juramento feito a Deus”. (Ec 8.2). Há as autoridades constituídas, e como cidadãos, além de direitos, possuímos também deveres perante elas. São obrigações com as quais temos compromisso de cum prir. Por exemplo, precisamos pagar impostos (Rm 13.7), votar e ser votado, etc. Como cristãos não podemos nos eximir dessas obrigações ou deveres.
Obrigações de natureza religiosa e espiritual
Se há obrigação político-social, que são de natureza civil, por outro lado, há também as de natureza religiosa ou espiritual. Elas acontecem na dimensão do culto, da adoração e são de natureza mais devocional. A essência do culto é a adoração! De fato a palavra hebraica shachar mantém o sentido de prostrar-se com deferência diante de um superior (Gn 22.5; Êx 20.5). Salomão em Eclesiastes 5 está com isso em mente quando fala da casa de Deus como o local da adoração (Ec 5.1). Como construtor do grande Templo, Salomão sabia que aquela casa tinha como objetivo centralizar o culto e dessa forma proporcionar um dos propósitos mais sublimes do culto que é o de favorecer a unidade e promover a adoração verdadeira.
Obrigações Frente a Santidade de Deus
Reverência
Todo culto possui seu ritual e sua liturgia. Não há nada de errado nisso. A propósito, a palavra liturgia aparece associada ao culto na Igreja Primitiva: “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Ci- rene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.1,2, ARA). A palavra servindo (v.2) é a tradução do termo grego leitourgeo, de onde vem a palavra portuguesa liturgia. A liturgia, portanto, também faz parte da adoração.
Salomão sabia disso e por isso adverte: “Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus” (Ec 5.1). Desligue o celular, tire o chiclete da boca, seja reverente! Comporte-se como um verdadeiro adorador! (Jo 4.20-24). Observe a liturgia do culto e não faça dele um local para interesses meramente pessoais. Infelizmente já presenciei casos de obreiros abandonarem o culto e até mesmo a mensagem para irem atender seus celulares! Se isso não é uma blasfêmia, no mínimo é pecado!O culto é um espaço reservado para a adoração. Não pode se transformar na “casa de mãe Joana”. É ali onde cultuamos a Deus e prestamos-lhe reverência. Então, por que não se observar a liturgia do culto? Por que não evitar a movimentação sem fim dentro da nave do templo? Por que não ensinar as crianças que no templo não é o local adequado para comer “petiscos”? Por que não desligar o celular em vez de ficar mandando torpedo para uma outra pessoa? Por que gastar um bom tempo do culto em intermináveis avisos, se alguns deles podem ser dados até um ano depois? Por que permitir o uso do púlpito como palanque eleitoral? Por que usar o púlpito para desabafar? Por que não usar o púlpito única e exclusivamente para a glória de Deus?
Obediência
A simples obediência a um conjunto de preceitos, normas e regras, sem atentar para os princípios que lhes dão fundamentação, é puro legalismo. Não vale a pena observar o preceito ou norma, é necessário atentar para o princípio por trás dele. No livro de Ecle- siastes isso aparece de forma bem clara: “Guarda o pé, quando entrares na casa de Deus; Chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal” (Ec 5.1). Deus não está interessado na observância do sacrifício em si, mas na obediência aos princípios que regulamentam a sua prática. Foi exatamente isso que o profeta Samuel disse a Saul (1 Sm 15.22).
Obrigações Frente à Transcendência de Deus
Deus, o Criador
Todas as grandes religiões possuem noção do sagrado e demonstram temor e respeito diante dEle. A divindade aparece diante dos adoradores como o totalmente outro. No judaísmo e também no cristianismo esse conceito é mais elevado ainda, vistoexistir a consciência de que esse sagrado trata-se do Deus verdadeiro que se revelou ao homem ao longo da história. Deus, portanto, é o Criador e se distingue das coisas criadas (Dt 4.1 5- 20). Na teologia bíblica isso aparece como a doutrina da transcendência de Deus e é um dos seus atributos. Deus transcende as suas criaturas, isto é, está acima delas e por isso se distingue delas. Eclesiastes fala disso: “Deus está nos céus” (Ec 5-2). Deus está lá e você aqui! Deus pode se humanizar (Jo 1.14), mas o homem não pode se divinizar. Quem procurou ser igual a Deus foi expulso do céu (Ez 28.1,2; Is 14.12-15).
Homem, a criatura
O mesmo texto que diz “Deus está nos céus também diz: “tu estás na terra” (Ec 5.2). Deus está no céu, o homem está na terra! Deus é o Criador, o homem é a criatura. É uma obrigação nossa saber que Deus é Deus e o homem é homem! Devemos ter muito cuidado para não nos transformarmos em heróis e supercrentes. Seria bom sempre nos lembrarmos de que estamos aqui “na terra”. E mais, não apenas estamos aqui, mas somos feitos do mesmo material: “Temos, porém, este tesouro em vãos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4.7, veja (1 n 2.7). Não há dúvidas de que essa conscientização nos levaria a sermos mais cuidadosos com nossas obrigações diante de Deus.
Obrigações Diante da Imanência de Deus
Deus presente — não estamos sozinhos!
O atributo da imanência divina, mostra-nos que Deus, mesmo não podendo ser confundido com as suas criaturas, todavia pode se relacionar com elas. Deus cuida da sua criação. Isso significa que o nosso Deus não é um Deus distante, que após criar o mundo se ausentou dele! Pelo contrário, Ele é um Deus presente! No capítulo 5 de Eclesiastes, Salomão está falando do culto aDeus e mostra como Ele se identifica com o mesmo, aprovando -o ou reprovando-o: “porque [Deus] não se agrada de tolos” (Ec 5.4). Essa mesma verdade é mostrada no Novo Testamento (2 Co 6.16). Essa proximidade de Deus deveria nos fazer melhores crentes, melhores cidadãos.
Deus de promessas — o valor das orações e votos
Tudo o que foi dito antes culminará numa das mais belas verdades bíblicas — Deus não apenas se faz presente, mas também prometeu nos abençoar atendendo nossas orações e realizando os nossos desejos. Isso acontecerá quando orarmos de acordo com sua vontade (Jr 29.12,13; Jo 14.13,14). Os judeus sabiam dessa verdade e por isso não somente oravam a Deus, como também se empenhavam através de votos (Nm 30.3-16; Dt 23.21-23). Não há dúvidas de que o livro de Eclesiastes tem em mente essas passagens bíblicas quando adverte: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumprãs”. (Ec 5.4,5, ARA). Em o Novo Testamento não encontramos um preceito concernente à prática do voto, mas o seu princípio permanece válido. Fazer compromisso ou propósito diante de Deus e cumpri-los é uma verdade que ultrapassa gerações.
O valor das orações e votos — uma análise contextualizada dessas práticas
Há algum tempo postei no meu blog um artigo sobre “voto” que escrevi para um periódico da CPAD. Visto que esse material literário tem ajudado muitos a dirimir suas dúvidas sobre essa prática, irei reproduzi-lo aqui.
Observei que essa é uma das postagens mais visitadas do blog com mais de 15 mil acessos. Recebi muitos e-mails de internautas que leram a postagem.
Publicarei um deles, resguardando a identidade da autora:A Paz do Senhor Pr. José Gonçalves. Sou adolescente de 16 anos, já fiz por diversas vezes “votos” com Deus. Só que eu nunca consigo cumpri-los. Mas a dúvida que me fez buscar a internet é: Nós podemos fazer um voto com Deus assim que concedida a graça? Um voto não cumprido, quais as consequências? Na Bíblia, tem uma passagem que diz mais ou menos assim (nem me lembro onde nem as palavras certas, mas tenho certeza que o Pr. sabe onde se encontra) o tempo da ignorância, Deus não leva em conta. Se eu fiz votos, antes de receber a bênção desejada (porque não fui devidamente orientada) e por motivos de fraqueza não as cumpri, Deus vai cobrar de mim? Agradeço muito se o Pr. responder esse meu comentário, pois estou muito angustiada. A Paz do Senhor.
Pois bem, vamos começar com um texto bíblico que faz alusão direta ao voto:
Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, me der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em paz, para a casa de meu pai, então, o Senhor será o meu Deus; e a pedra, que erigi por coluna, será a casa de Deus; e de tudo quanto me concederes, certamente eu te pagarei o dízimo (Gn 28.20-22, ARA).
Há alguns anos, eu acompanhava um pastor em uma visita a um outro colega obreiro de uma cidade vizinha a nossa. Ali chegando, enquanto aguardávamos a hora do almoço, os pastores presentes aproveitavam o tempo com assuntos informais. As conversas giravam em torno da vida da igreja. Não sendo ainda um obreiro com funções pastorais, apenas observava de “fora” aquele saudável debate. Pois bem, a certa altura daquele debate teológico, um dos pastores pôs no centro das discussões a falta de vitalidade espiritual na vida de muitos crentes. Ele achava que uma espécie de apatia parecia dominar a vida de muitos cristãos. Observou que essa“mornidão” sempre existiu, mas que na época presente a situação parecia ter crescido em escala geométrica. Era algo com proporções nunca vista. Em palavras mais simples, a percentagem de crentes frios na presente dispensação da Igreja, era de longe superior a de outros tempos. Qual a razão para isso? Era a pergunta que todos os presentes sentiram-se forçados a fazer naquele momento.
Observei que dentre os pastores presentes, muitas explicações consistentes foram dadas, mas jamais me esquecerei daquela que um dos obreiros deu naquele momento. Na sua fala simples, porém sem ser simplista, ele disse que esse esfriamento ocorre por conta da falta de compromisso com Deus por parte de muitos crentes. Destacou no final de seu argumento a prática bíblica do voto como algo que estava sendo esquecido. Acrescentando em seguida que muitos crentes hoje desconhecem até mesmo o que seja um pacto com Deus. Sob muitos aspectos, destacou que o voto na cultura bíblica revelava propósitos específicos da vida dos crentes. Embora já se tenham passado muitos anos, todavia nunca me esqueci daquela cena. Ela me marcou. Ao se referir ao voto como algo a ser observado em nossos dias, aquele obreiro fez-me refletir sobre a validade dessa prática bíblica. Todavia estou consciente, em razão do atual contexto da fé evangélica brasileira, das reações contrárias que podem surgir. Em um contexto em que se loteia o céu; em que ainda outros fazem barganha da fé, é compreensível que surjam vozes discordantes da observância de determinadas práticas ou princípios bíblicos. Isso pode parecer le- galismo. Todavia não tenho a menor dúvida da validade do voto.
A propósito, William Masselink destaca algumas razões que justificam a prática do voto a Deus em nossos dias.
1. O voto é um promessa feita a Deus.
O que pode ser uma expressão de gratidão por algum favor outorgado, ou uma promessa no sentido de manifestar gratidão por algumas bênçãos desejadas, caso Deus ache por bem outorgá-las.Neste aspecto o voto bíblico não pode ser confundido com a “promessa” católica, uma vez que esta é feita a um “santo”, enquanto aquele só poderia ser feito a Deus.
2. A Bíblia contém muitas injunçóes sobre a observância do voto.
Não deve, portanto, o voto ser visto como uma barganha. Uma espécie de “toma lá dá cá”. O voto deve ser feito como uma expressão de devoção piedosa do crente a Deus. O Dr. Clyde T. Francisco ao se referir ao voto de Jacó, observa que “algumas pessoas têm criticado este ato como tentativa típica de uma barganha com Deus, mas ele estava longe disso. Jacó não pediu fama nem riquezas. Tudo o que ele desejou foi pão e roupa, até poder voltar. Este fato, por si mesmo, nos informa que essencialmente ele não era uma pessoa egoísta.” A passagem de Gênesis 28.20-22 é a primeira referência bíblica sobre a prática do voto. Mas como bem observou o rabino Meir Matzliah Melamed, “em todas os tempos tanto na alegria como no sofrimento o homem sentiu a necessidade de estender seu coração a Deus por meio de votos e promessas. Mas afinal o que é, portanto, um voto? William Gesenius, renomado hebraísta, nos dá a definição para a palavra hebraica nadar, traduzida como “votar”. Gesenius diz que um voto significa: “Prometer voluntariamente fazer ou dar alguma coisa”. Gesenius ainda observa que a expressão mais completa nadar neder, é traduzida literalmente e de forma redundante como “votar um voto” (Jz 11.39; 2 Sm 15.8). O voto, portanto, é uma promessa que alguém assume perante a divindade. No conceito dado, fica em destaque que quando alguém quer fazer algum voto, deve fazê -lo voluntariamente. Todos os intérpretes fazem questão de destacar a voluntariedade do voto. W. Massilink observa que um voto “significa uma obrigação ou promessa voluntária feita a Deus”.
De fato a voluntariedade é um elemento essencial para que um ato se configure como moral. Em outras palavras, só seremos responsabilizados por aqueles atos que praticarmos voluntariamente.“mornidão” sempre existiu, mas que na época presente a situação parecia ter crescido em escala geométrica. Era algo com proporções nunca vista. Em palavras mais simples, a percentagem de crentes frios na presente dispensação da Igreja, era de longe superior a de outros tempos. Qual a razão para isso? Era a pergunta que todos os presentes sentiram-se forçados a fazer naquele momento.
Observei que dentre os pastores presentes, muitas explicações consistentes foram dadas, mas jamais me esquecerei daquela que um dos obreiros deu naquele momento. Na sua fala simples, porém sem ser simplista, ele disse que esse esfriamento ocorre por conta da falta de compromisso com Deus por parte de muitos crentes. Destacou no final de seu argumento a prática bíblica do voto como algo que estava sendo esquecido. Acrescentando em seguida que muitos crentes hoje desconhecem até mesmo o que seja um pacto com Deus. Sob muitos aspectos, destacou que o voto na cultura bíblica revelava propósitos específicos da vida dos crentes. Embora já se tenham passado muitos anos, todavia nunca me esqueci daquela cena. Ela me marcou. Ao se referir ao voto como algo a ser observado em nossos dias, aquele obreiro fez-me refletir sobre a validade dessa prática bíblica. Todavia estou consciente, em razão do atual contexto da fé evangélica brasileira, das reações contrárias que podem surgir. Em um contexto em que se loteia o céu; em que ainda outros fazem barganha da fé, é compreensível que surjam vozes discordantes da observância de determinadas práticas ou princípios bíblicos. Isso pode parecer le- galismo. Todavia não tenho a menor dúvida da validade do voto.
A propósito, William Masselink destaca algumas razões que justificam a prática do voto a Deus em nossos dias.
1. O voto é um promessa feita a Deus.
O que pode ser uma expressão de gratidão por algum favor outorgado, ou uma promessa no sentido de manifestar gratidão por algumas bênçãos desejadas, caso Deus ache por bem outorgá-las.Neste aspecto o voto bíblico não pode ser confundido com a “promessa” católica, uma vez que esta é feita a um “santo”, enquanto aquele só poderia ser feito a Deus.
2. A Bíblia contém muitas injunçóes sobre a observância do voto.
Não deve, portanto, o voto ser visto como uma barganha. Uma espécie de “toma lá dá cá”. O voto deve ser feito como uma expressão de devoção piedosa do crente a Deus. O Dr. Clyde T. Francisco ao se referir ao voto de Jacó, observa que “algumas pessoas têm criticado este ato como tentativa típica de uma barganha com Deus, mas ele estava longe disso. Jacó não pediu fama nem riquezas. Tudo o que ele desejou foi pão e roupa, até poder voltar. Este fato, por si mesmo, nos informa que essencialmente ele não era uma pessoa egoísta.” A passagem de Gênesis 28.20-22 é a primeira referência bíblica sobre a prática do voto. Mas como bem observou o rabino Meir Matzliah Melamed, “em todas os tempos tanto na alegria como no sofrimento o homem sentiu a necessidade de estender seu coração a Deus por meio de votos e promessas. Mas afinal o que é, portanto, um voto? William Gesenius, renomado hebraísta, nos dá a definição para a palavra hebraica nadar, traduzida como “votar”. Gesenius diz que um voto significa: “Prometer voluntariamente fazer ou dar alguma coisa”. Gesenius ainda observa que a expressão mais completa nadar neder, é traduzida literalmente e de forma redundante como “votar um voto” (Jz 11.39; 2 Sm 15.8). O voto, portanto, é uma promessa que alguém assume perante a divindade. No conceito dado, fica em destaque que quando alguém quer fazer algum voto, deve fazê -lo voluntariamente. Todos os intérpretes fazem questão de destacar a voluntariedade do voto. W. Massilink observa que um voto “significa uma obrigação ou promessa voluntária feita a Deus”.
De fato a voluntariedade é um elemento essencial para que um ato se configure como moral. Em outras palavras, só seremos responsabilizados por aqueles atos que praticarmos voluntariamente.No caso do voto bíblico, ninguém era obrigado a fazê-lo. “Abs- tendo-te de fazer o voto, não haverá pecado em ti” ( Dt 23.22). Por outro lado, uma vez feito o voto, havia a responsabilidade de cumpri-lo. “Quando fizeres algum voto ao Senhor, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o Senhor teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá pecado” (Dt 23.21); “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes” (Ec 5.4). Antes de se fazer um voto é necessário ter consciência do compromisso que estamos assumindo. Poderei cumprir esse voto? Lembro-me que um irmão me procurou certa vez. Ele demonstrava estar insatisfeito com o líder da congregação da qual ele fazia parte. Querendo saber a razão do seu descontentamento, descobri que era algo relacionado a um voto que ele havia feito. Ele votara a Deus dizendo que se o Senhor lhe desse vitória em algo que pedira, então em cumprimento do voto feito realizaria um culto semanal em sua casa. Sempre às terças-feiras. Tendo alcançado o favor do Senhor, aquele irmão viu-se em dificuldades para cumprir seu voto. O dirigente da congregação disse-lhe, com razão, que ele não deveria ter feito um voto que dependesse de terceiros para que pudesse ser cumprido. A igreja tinha a sua própria agenda e não poderia viver em função do voto daquele irmão. A questão não é, portanto, simplesmente votar, mas o que estamos votando e de que maneira cumpriremos os nossos votos.
O caso de Jefté é bem conhecido (Jz 11.30,35-36,39). Os versículos citados deixam claro que Jefté não tencionava que sua filha fosse o objeto de cumprimento de seu voto precipitado. “Fez Jefté um voto ao Senhor e disse: Se, com efeito, me entregares os filhos de Amom nas minhas mãos, quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto”( Jz 11.30,31). Todavia a forma vaga e precipitada como fez o seu voto foi a causa do seu posterior lamento. “Quando a viu, rasgou as suas vestes e disse:Ah! Filha minha, tu me prostras por completo; tu passaste a ser a causa da minha calamidade, porquanto fiz voto ao Senhor e não tornarei atrás (Jz 11.35). Por último, convém observar que de acordo com as Escrituras não podemos oferecer como voto ao Senhor aquilo que já lhe pertence ou que por Ele é proibido. Por exemplo:
o dízimo já é do Senhor, não poderei fazer um voto tencionando pagá-lo com ele (Ml 3.10). Aquilo que é fruto de alguma coisa impura ou abominável também não pode ser objeto de voto (Dt 23.18). O voto, portanto, deve ser visto como uma forma de manifestação da graça de Deus, e com a qual Ele quer nos abençoar.
Neste capítulo abordamos as palavras do sábio Salomão no contexto da adoração bíblica. Ficamos logo conscientes de que não há adoração verdadeira que não leve em conta as obrigações diante de Deus e dos homens. Se quisermos viver uma vida espiritual plena devemos estar conscientes das implicações que a acompanham. De nada adianta termos templos suntuosos, ministrações eloquentes e cantores famosos se não estamos cumprindo com as obrigações que uma verdadeira adoração requer.
(texto extraído do livro Pastor Jose Gonçalves Sábios Conselhos Para Um Viver Vitorioso (CPAD, 2013). José Gonçalves, e pastor em Água Branca, Piauí, graduado em Teologia pelo Seminário Batista de Teresina e em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí. Ensinou grego, hebraico e teologia sistemática na Faculdade Evangélica do Piauí. É comentarista de Lições Bíblicas da Escola Dominical da CPAD e autor dos livros:Missões – o mundo pede socorro (Ed Halley); Por que Caem os Valentes (CPAD); As Ovelhas Também Gemem (CPAD); Defendendo o Verdadeiro Evangelho (CPAD); A Prosperidade à Luz da Bíblia (CPAD); Rastros de Fogo – o que diferencia o pentecostes bíblico do neopentecostalismo (CPAD); Porção Dobrada (CPAD); Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso (CPAD) e co-autor do livro: Davi – as vitórias e derrotas de um homem de Deus (CPAD, prêmio ABEC). É presidente do Conselho de Doutrina da Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Piauí e membro da Comissão de Apologética da CGADB.
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