Dentro do cristianismo evangélico, existe um grande consenso acerca das doutrinas centrais (ou basilares) da fé. Outras doutrinas periféricas (ou secundárias) não apresentam o mesmo nível de acordo - uma das razões pelas quais existem tantas denominações evangélicas: suas interpretações diferenciadas das doutrinas secundárias do cristianismo.
Desta forma a igreja está dividida entre calvinistas e arminianos, pentecostais e não-pentecostais; cessacionistas e não-cessacionistas; congregacionais e episcopais; tricotomistas, dicotomistas e monistas; amilenistas, pré-milenistas e pós-milenistas; pré-tribulacionistas, pós-tribulacionistas e mid-tribulacionistas, etc.
Por que surgem tais diferenças? Bem, porque cada uma destas controvérsias teológicas dentro do cristianismo têm evidências bíblicas para sustentá-las, sendo necessário que cada intérprete (e cada um de nós) pese bem as evidências em favor de cada hipótese e, dentro de um exercício de interpretação sadio da Escrituras, decida pela posição A ou B (não é possível sustentar o argumento relativista de que todas as posições estão certas - ainda que se tratem de assuntos periféricos, alguém chegou a uma interpretação mais adequada de determinado tema à luz das Escrituras, de forma que sua interpretação deva ser preferida diante de outras).
O diálogo entre os proponentes de cada posição não costuma ser muito proveitoso, especialmente no que tange a proporcionar uma visão clara do pensamento teológico do outro grupo: geralmente, a pessoa conhece uma visão distorcida da teologia de seu irmão, uma caricatura teológica.
Todo posicionamento teológico possui sua razão de ser, sua lógica interna - da mesma forma cada um destes posicionamentos teológicos pode ser tão mal-compreendido (inclusive por aqueles que os defendem) que venha a possuir também sua própria caricatura, tanto no que diz respeito à sua lógica interna, quanto à sua aplicação prática.
E geralmente, dentro da igreja, não se conhece a teologia do outro, mas apenas sua caricatura.
O exercício de análise teológica acaba sendo o de refutar caricaturas - que não existem.
Calvinistas não são fatalistas e nem libertinos em decorrência de sua crença na perseverança dos santos - quem assim pensa demonstra que não conhece a teologia calvinista.
Arminianos não negam a soberania de Deus, mas a explicam de outra forma - quem acha que os arminianos assim pensam demonstra desconhecimento da teologia remonstrante.
Pentecostais não são místicos irracionais - quem assim pensa demonstra desconhecer os pressupostos teológicos da paracletologia pentecostal, tirando suas conclusões a partir da observação de grupos isolados.
Cristãos cessacionistas não são "frios" - tal comentário demonstra desconhecimento do alto apreço que este grupo possui pela suficiência das Escrituras.
Pedobatistas não são romanistas - pensa assim quem desconhece o pressuposto teológico destes irmãos, de que toda a Igreja (inclusive as crianças) são o povo da aliança do Senhor.
E por aí vai, existindo muitos outros exemplos de caricaturas teológicas.
Como eu já disse, não estou defendendo a ideia de que todas as posições teológicas estão certas (isto seria ilógico até, visto que, em muitos casos, A exclui B).
Mas creio que faz parte do aprimoramento teológico e humano do cristão conhecer bem a teologia - tanto a que ele defende quanto a que ele refuta, a fim de que sua fé e seu exercício de pensar a fé não esteja fundamentado em preconceitos.
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