Temos dois tipos de inimigos: os invisíveis e os visíveis. Os primeiros são as hostes do mal, às quais devemos nos opor (Ef 6.10-18). Os outros são pessoas que nos odeiam ou nos traem por algum motivo. E estas, por mais contraditório que isso possa parecer, devemos amar (Mt 5.44).
Se quisermos andar como Jesus andou (1 Jo 2.6), não devemos nos fazer inimigos de ninguém, mesmo dos falsos ou ex-amigos que nos traem. Afinal, segundo a Bíblia, os nossos reais inimigos são os invisíveis: principados, potestades, hostes espirituais da maldade, príncipes das trevas deste século, e não as pessoas (Ef 6.10-12).
Lamentavelmente, há cristãos (cristãos?) elegendo, equivocadamente, seus vizinhos, colegas de trabalhos e até irmãos como inimigos. E alegam ter motivos “nobres” para alimentarem sentimento de vingança e se regozijarem com o aparente fracasso dos tais. Que tipo de vida cristã é essa? Obadias profetizou numa época em que a cidade de Jerusalém estava sob o ataque violento da Babilônia. E os vizinhos de Jerusalém, os edomitas, estavam torcendo para que os exércitos inimigos os matassem e os destruíssem, como lemos em Salmos 137.7: “Lembra-te, SENHOR, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém, porque diziam: Arrasai-a, arrasai-a, até aos seus alicerces”.
As seguintes palavras de escárnio e desprezo, constantes de Obadias v.12, foram pronunciadas por parentes consanguíneos dos judeus: “Mas tu não devias olhar para o dia de teu irmão, no dia do seu desterro; nem alegrar-te sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína; nem alargar a tua boca, no dia da angústia”. Descendentes de Esaú, irmão de Jacó, os edomitas foram condenados por Obadias em razão de se regozijarem com o sofrimento dos judeus. Conclusão: os filhos de Edom, que pensavam estar comemorando uma vitória com sabor de mel, experimentaram, na verdade, uma derrota com sabor de fel: “Ah! Filha de Babilônia, que vais ser assolada! Feliz aquele que te retribuir consoante nos fizeste a nós! Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras!” (Sl 137.8,9).
Se alguém que nos tem traído ou prejudicado, de alguma maneira, está sofrendo ou vier a sofrer, não devemos, como servos do Senhor, ter o prazer da vingança. As Escrituras nos ensinam: “Quando cair o teu inimigo, não te alegres, e não se regozije o teu coração quando ele tropeçar” (Pv 24.17). Em vez de zombarmos do suposto fracasso de alguém, devemos manter uma atitude de compaixão e perdão, pois “Horrenda coisa é cair na mão do Deus vivo” (Hb 10.31). O que estão buscando os crentes que cantam “Tem sabor de mel, tem sabor de mel” ao verem sofrendo o seu irmão (que eles consideram inimigo)?
Por outro lado, é impossível não ter inimigos. O Senhor Jesus, o Homem perfeito, também os tinha, e a maioria deles o odiava por inveja. O Mestre nunca foi inimigo de ninguém, a ponto de chamar até o traidor Judas de amigo (Mt 26.50)! Ele não impediu que o Iscariotes se fizesse seu inimigo. Mas, paradoxalmente, nunca desejou ser seu inimigo, objetivamente.
Judas é o mais emblemático exemplo bíblico de traição, mas não é o único. A traição de Demas também foi bastante sentida pelo apóstolo Paulo (2 Tm 4.10). As Escrituras e a escola da vida nos ensinam que, em muitos casos, os traidores se travestem de “melhores amigos” até conseguirem o que desejam. O caso de Judas, em específico, mostra que o falso amigo é ingrato e prioriza o dinheiro, em detrimento da amizade. Entretanto, não nos cansemos de fazer o bem, mesmo correndo o risco de estarmos ajudando inimigos que se fingem de amigos.
Ciro Sanches Zibordi
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