A Multiforme Sabedoria De DEUS “Para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10). Após o estudo sobre os dons de Deus, podemos constatar que sua sabedoria transcende a tudo o que se pode entender com a limitada percepção do homem. Enquanto a sabedoria humana é compartimentada ou segmentada em áreas do conhecimento, a sabedoria de Deus é multiforme. Ele a manifestou desde a criação, quando sua mente divina imaginou trazer à realidade as coisas criadas, incluindo o universo imenso, formado de planetas e estrelas, bem como o homem e os seres vivos da natureza, numa demonstração de planejamento perfeito, jamais alcançado pela mente humana.
O salmista teve a visão da sabedoria e do poder criador de Deus, ao exclamar: “O Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas” (SI 104.24). Só o homem incrédulo, em sua arrogância e presunção, não percebe que a grandeza do universo, ou do macrocosmo, bem como a imensa complexidade do microcosmo, observado nos microuniversos das células ou das moléculas dos elementos da natureza, não podem ter sido fruto do acaso cego, mas de uma mente sobrenatural, dotada de sabedoria e inteligência além da imaginação limitada do homem. O sábio Salomão, em suas reflexões sobre o universo, declarou: “O Senhor, com sabedoria, fundou a terra; preparou os céus com inteligência” (Pv 3.19). A sabedoria de Deus e sua inteligência divina sempre agiram juntas para que o Eterno alcançasse seus objetivos e propósitos, ao criar todas as coisas.
Mas foi no plano espiritual, que transcende às coisas materiais do universo, que Deus demonstrou sua multiforme sabedoria de forma tão elevada, que é considerada um verdadeiro mistério que só a revelação divina pôde trazer à luz, ao conhecimento do homem, por meio do Espírito Santo. Paulo diz que esse mistério foi revelado de maneira muito especial, por misericórdia e bondade de Deus, pelo Espírito Santo, “aos seus santos apóstolos e profetas”, bem como à Igreja do Senhor:
Essa multiforme sabedoria de Deus, que tudo criou pelo poder sobrenatural de sua palavra, a ponto de trazer à existência todas as coisas, a partir do nada absoluto, transformou-se em uma relação de amor para com o homem. Mesmo sabendo de antemão que o homem iria cair em desobediência, em seu plano divino, por sua graça e misericórdia, Deus enviou Jesus, para salvar o homem da tragédia do pecado. E Cristo manifestou-se como a encarnação da sabedoria de Deus: “Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1.24 — grifo nosso).
A Igreja — o Corpo de Cristo, reúne os “chamados, tanto judeus como gregos” ou gentios, para proclamar a salvação de Deus à humanidade. Por ser a representante de Deus na Terra, ela é alvo dos mais terríveis ataques do Inimigo de Deus, que, mesmo condenado em última instância, no Tribunal Divino, e sabendo que seu fim é o inferno, procura destruir a comunidade dos salvos e remidos por Cristo. Diante dessa realidade, Deus tem concedido à igreja recursos especiais, que são os dons espirituais e os dons ministeriais, já estudados nos capítulos anteriores, para edificação e força para cumprir a sua missão. O dom de sabedoria, ao lado dos outros dons, concede parte da multiforme sabedoria de Deus a seus servos para que saibam como agir, como viver, como proceder e atuar, diante da missão que lhes foi confiada de proclamar o evangelho por todo o mundo a toda a criatura. Os dons ministeriais fazem parte da capacitação de Deus a homens chamados e preparados para exercer a liderança nas igrejas que reúnem os salvos em Cristo Jesus, até à sua vinda em glória para reinar para sempre.
I - Quantos são os dons Espirituais
Os dons espirituais são variados, como recursos usados pelo Espírito Santo para manifestar o poder de Deus e sua multiforme sabedoria, através de instrumentos humanos, usados para a edificação e o fortalecimento espiritual da igreja. Os dons devem ser buscados com humildade e discernimento. “Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para a edificação da igreja” (1 Co 14.12). A lista de dons espirituais pode ser vista em dois sentidos: restrito e amplo, como resumimos a seguir.
1. NO SENTIDO ESTRITO
Normalmente, quando se tratam dos dons espirituais, entende-se que eles são em número de nove. Essa conclusão baseia-se na contagem dos dons, com base em 1 Coríntios 12: “Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas” (1 Co 12.8-10).
De fato, a relação acima indica que há nove tipos de dons espirituais. Entretanto, quando se tratam dos dons de curar, no plural, não se pode precisar quantas manifestações desse dom podem existir. Não há um só dom de curar, nem uma única maneira de se fazer uso desses dons. Sua pluralidade certamente denota a vontade de Deus para que seu povo tenha saúde e qualidade de vida, tanto espiritual, quanto emocional ou física. A experiência cristã nos mostra que há homens de Deus que parecem ter capacitação para orar por determinados tipos de enfermidades, enquanto outros oram por outras doenças. Não podemos ser dogmáticos a respeito dos dons, mas não se veem operadores de milagres com plena capacitação para orar eficazmente por todos os tipos de males ou doenças. Dessa forma, os tipos de dons espirituais são nove. E podem ser ampliados por causa da pluralidade dos dons de curar. A Bíblia não nos autoriza especificar os dons de curar.
2. NO SENTIDO AMPLO
Considerando-se que a sabedoria de Deus é “multiforme”, e que seu poder é ilimitado, e que, de igual forma ele concede à Igreja a sua “multiforme” graça, podemos inferir que Deus não está limitado a um número fixo ou fechado de dons. Após ensinar sobre os dons espirituais, no capítulo 12 de 1 Coríntios, o apóstolo Paulo dirige sua doutrina para a “excelência do amor fraternal”, no capítulo seguinte. Certamente, podem ser considerados dons espirituais tantas outras dádivas de Deus à sua igreja. Dessa forma, o leque dos dons de natureza espiritual pode ser ampliado.
1) O dom do amor. A maior manifestação do amor de Deus foi o ter enviado a Jesus Cristo para salvar o perdido. Ele próprio declarou de modo solene e incisivo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16 — grifo nosso). Esse amor, traduzido como o amor “ágape”, é a mais profunda demonstração de Deus, que se doou, em Cristo, para redimir o homem da sua constrangedora situação como caído e longe do criador. Cristo é o amor encarnado, que se “fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14).
2) O dom da filiação divina. Através da fé em Cristo, Deus torna o pecador seu filho, integrando-o na família de Deus. João registrou esse fato: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus-, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12 — grifo nosso). Ninguém pode conquistar esse poder (ou direito). E resultado da graça e do amor de Deus. “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus” (Ef 2.19).
3) O dom do batismo com o Espírito Santo. Na casa de Cornélio, enquanto Pedro ministrava a palavra, o Espírito Santo caiu sobre os que ali estavam, conforme Pedro afirmou: “como nós no princípio”; sem dúvidas com o sinal exterior de línguas estranhas (cf. At 2.4). “Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era, então, eu, para que pudesse resistir a Deus?” (At 11.17; At 1.5; 1 Ts 4.8).
4) O dom do crescimento. Doutrinando a igreja em Corinto, Paulo reprovou a atitude de certos grupos que se levantaram na congregação, causando dissensão, divisões internas e partidarismo em torno dos apóstolos. Havia, certamente, quem atribuía a Pedro, a Apoio e a Paulo a preeminência pelo sucesso da evangelização. Mas Paulo, como bom servo de Deus, lhes afirmou: “Eu plantei, Apoio regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Co 3.6,7). Esse crescimento é acima de tudo espiritual.
5) O ministério da reconciliação. Em sua segunda carta aos coríntios, Paulo, escrevendo sobre a nova vida do salvo em Cristo, explica que o milagre da salvação, que inclui a regeneração, a justificação e a santificação, “provém de Deus”, que nos concedeu o “ministério da reconciliação”. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2 Co 5.17-19 — grifo nosso).
6) O espírito de fortaleza, de amor e de moderação. Podemos dizer que Deus nos dá o equilíbrio espiritual, quando nos submetemos à sua vontade. De um lado, concede o “espírito de temor”, para que o sirvamos com profundo respeito e reverência (SI 128.1); de outro, dá-nos o “espírito de fortaleza”, ou de poder; mas, para que esse poder não fique sem controle, concede o “espírito de amor e de moderação” (cf. 2 Tm 1.7). Nenhum dom espiritual, no sentido estrito ou amplo, tem seu exercício aprovado por Deus, se não for por amor e com a devida e sábia moderação. Quando isso não acontece, o detentor do dom tende a aproveitar-se dele para sua promoção pessoal. O Espírito Santo não autoriza a glória para ninguém, exceto para Cristo, o que é a sua missão (Jo 16.14).
II - SEJAMOS BONS DESPENSEIROS DOS MISTÉRIOS DIVINOS
Despenseiros são as pessoas que tomam conta da despensa de uma casa, ou do lugar onde são guardados os alimentos e outros itens necessários à manutenção da família. O apóstolo Pedro exorta os destinatários da sua primeira carta, quanto à iminente vinda de Jesus, fazendo solene advertência sobre como os cristãos devem comportar-se, “como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4.10).
1. O DESPENSEIRO DEVE SER SÓBRIO E VIGILANTE
Deve guardar a sobriedade e vigilância, em oração (1 Pe 4.7); essa advertência refere-se à simplicidade que deve caracterizar um servo de Deus, sobretudo aquele que tem a liderança, na casa do Senhor. Fala da constante vigilância sobre a vida cristã, ante os ataques diuturnos do Adversário. Ele anda como leão, buscando destruir vidas preciosas. O que administra o rebanho de Deus deve saber retirar da “despensa” de Deus o melhor alimento. E vigiar por suas vidas. E Pedro quem dá idêntica advertência em sua primeira carta: “Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8; Mt 26.41).
2. O DESPENSEIRO DEVE SER AMOROSO
Em segundo lugar, o despenseiro de Cristo deve ter “ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobrirá a multidáo de pecados” (1 Pe 4.8); todo crente fiel deve ser despenseiro de Deus; mas, como já refletimos, o obreiro, pastor, dirigente, ou líder de uma igreja, pastoreia ovelhas que não são suas. E cada ovelha é diferente da outra, em temperamento, formação, visão das coisas, e nem sempre é dócil e obediente. Há crentes que dão muito trabalho aos líderes. Como despenseiro da graça de Deus, o obreiro deve demonstrar amor em todas as ocasiões, no trato com todo o tipo de ovelha. Com as mais fracas, deve ser mais compreensivo; com as mais fortes, deve ser incentivador de sua fé e testemunho; com as feridas, deve ter sempre o bálsamo do amor e da compreensão; e com as que pecam, fazer uso da disciplina com amor, sem abuso de autoridade. Enfim, em qualquer situação o despenseiro deve ter amor. É característica do verdadeiro discípulo de Jesus (Jo 13.34,35).
3. O DESPENSEIRO DEVE SER HOSPITALEIRO
Deve ter hospitalidade para com “os outros, sem murmurações” (1 Pe 4.9); já foi visto que hospitalidade é acolhimento, bom trato com todas as pessoas, na administração da igreja local; ou do crente com seus irmãos, familiares, amigos e pessoas em geral. “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hb 13.2). Há quem faça acepção de pessoas, discriminando os mais humildes ou menos favorecidos na vida humana. Essa não é atitude do despenseiro da casa de Deus. Esse deve ser sempre atencioso com todos, ajudando-os em suas necessidades espirituais emocionais e físicas, dentro de suas possibilidades. Não agir assim, é pecado (Dt 16.19; Tg 2.9).
4. O DESPENSEIRO DEVE ADMINISTRAR BEM A GRAÇA DE DEUS
Aqui, entendemos que cada crente é um despenseiro de Deus. Pedro adverte quanto a sua mordomia, dizendo: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém” (1 Pe 4.10, 11).
5. O DESPENSEIRO DEVE SER FIEL
Escrevendo aos coríntios, Paulo ensina que devemos ser vistos pelos homens, todos os crentes, como “ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4.1). A palavra ministro vem de diáconos, ou servo. Diante de Deus, cada um deve ser servo a serviço da igreja e de sua missão na Terra. Tendo em vista sua grande missão, diante de Deus, da Igreja e dos homens, os despenseiros devem ser fiéis em tudo. Os “mistérios de Deus” não têm nada a ver com coisas ocultistas, esoteristas ou místicas. A Bíblia nos declara que significa esse mistério. Paulo, aos colossenses, diz: “o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos seus santos-, aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória (Cl 1.26,27). Aí, temos “o mistério” revelado: “Cristo em vós, esperança da glória”! Esse mistério foi revelado “para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10).
III - A NECESSIDADE DOS DONS E DO FRUTO DO ESPÍRITO (1 CO 12.31; 13;1-13; GL 5.22).
1. A NECESSIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS
No capítulo 2, vimos o Propósito dos Dons Espirituais. Neste item, podemos identificar a necessidade dos dons para as igrejas em todos os tempos e lugares. Hoje, mais do que nunca, com o esfriamento do amor e a multiplicação da iniquidade (cf. Mt 24.12), a Igreja do Senhor Jesus necessita de mais poder, de mais unção, de “mais demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2.4). Os teólogos cessacionistas, que ensinam que os dons espirituais cessaram com o fechamento do Cânon do Novo Testamento, e não há mais necessidade deles. Cometem equívoco elementar em sua exegese sobre a atualidade dos dons. O fechamento do Cânon nada tem a ver com doutrina. Quer dizer que não se pode acrescentar mais nenhum livro ao Novo Testamento.
No que concerne aos dons espirituais, os ensinos cessacionistas não se firmam na boa interpretação da Bíblia, porque carecem de fundamento escriturístico. Eles se baseiam em premissas equivocadas, que aprenderam com seus mentores, nos seminários, ou em seus tratados teológicos. Para esses teólogos, suas conclusões cessacionistas tornaram- se dogmas, a exemplo do que ocorreu na teologia católica. São postulados intocáveis, sagrados, infalíveis. Eles defendem, corretamente, o postulado da “Sola Scriptura”, fundamento da Reforma, mas, em seus estudos, valorizam mais a opinião dos teólogos do que a própria Palavra de Deus. Em nenhum lugar, na Bíblia, está escrito que os dons espirituais deixaram de operar na igreja. Os dons espirituais, hoje, são mais necessários do que no tempo dos apóstolos. Há uma “frente fria”, passando pelos seminários, por faculdades teológicas, e por muitas igrejas, em que não se vê a presença de Deus, através dos dons espirituais, ou dos sinais do poder de Deus, na vida das pessoas.
2. OS DONS ESPIRITUAIS E O AMOR CRISTÁO
No capítulo 12, de sua primeira Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo discorre de maneira inigualável sobre os dons espirituais. Ele termina o capítulo sobre os dons, dizendo: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente” (1 Co 12.31). Na sequência do tema dos dons espirituais, ele continua seu ensino, demonstrando o valor do amor em ação, ou da caridade, no uso dos dons espirituais. E prova, de modo cabal, que os dons sem o amor de Deus não significam nada. O amor, no exercício dos dons espirituais, é o “caminho mais excelente”.
No capítulo 13 de Coríntios, sobre a “excelência do amor”, Paulo refere-se a vários dons espirituais, afirmando que sem amor de nada adianta ter tais dons (1 Co 13.1-3).
3. A NECESSIDADE DO FRUTO DO ESPÍRITO
Este estudo não estaria consistente, se não fosse abordado, ainda que resumidamente, o tema do fruto do Espírito Santo na vida dos salvos. Acima, vimos que os dons espirituais sem amor nada significam para Deus. E o fruto do Espirito — O amor (G1 5.22) — é o que faz a diferença entre um crente salvo e um crente perdido. O que tem dons de Deus, ou dons do Espírito Santo, necessita ser coberto pelo amor de Deus em seu coração, e em suas ações. Por isso, Paulo diz que “A caridade [o amor, em outras versões] é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal” (1 Co 13.4,5 — colchete inserido).
A prática da caridade, ou do amor em ação, age no caráter do crente. Não admite inveja, irresponsabilidade, orgulho, indecência, e “não busca seus interesses”, ou seja, não é egoísta (1 Co 13.5), “não se irrita”, ou seja, não permite que o crente viva irritado com os outros, o tempo todo, e não dá lugar a suspeitas infundadas, como o texto citado bem evidencia. O dom do Espírito deve ser exercido com amor e humildade, sem presunção ou orgulho (1 Co 13.4).
O uso dos dons deve dar lugar a um exercício constante em busca da maturidade cristã. A falta de maturidade leva os detentores de dons a serem carnais e infantis na fé. A igreja de Corinto possuía em seu seio todos os dons, mas os crentes não estavam maduros na fé. Diz Paulo: “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis; porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, nâo sois, porventura, carnais e não andais segundo os homensT (1 Co 3.1-3 — grifo nosso).
Exortando a igreja, Paulo diz da necessidade de deixarem de ser meninos na fé. “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (1 Co 13.11). A prática do fruto do Espírito, aliada ao exercício dos dons, é o que evita a meninice espiritual, e leva o crente a alcançar a maturidade espiritual, como diz Paulo: “logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”. É a falta do fruto do Espírito da temperança, da bondade, da benignidade e acima de tudo do amor, que tem sido causa de escândalos e decepções nas igrejas.
Conclusão
A multiforme sabedoria de Deus manifesta-se, no meio da igreja, através da intervenção sobrenatural do Espírito Santo, através dos dons espirituais, dos dons ministeriais, e de outros dons, necessários ao crescimento espiritual dos crentes. Sejam quais forem os dons, os que os possuem devem fazer uso deles com humildade e fidelidade, não buscando seus interesses. Todos os dons são necessários à edificação e segurança dos salvos em Cristo Jesus.
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