(Texto extraído do livro: Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito)
Em 2013 a editora Vozes lançou o livro Religiões Em Movimento – o censo de 2010. O livro, que conta com a participação de vários especialistas, se propõe fazer uma leitura analítica dos dados do último Censo do IBGE de 2010. A obra contou com as participações do teólogo e pesquisador do CNPq Faustino Teixeira e da antropóloga Renata Menezes como organizadores. Até o presente momento considero essa obra literária a melhor interpretação dos dados do Censo de 2010.
O livro, portanto, analisa a presença do fenômeno religioso em solo brasileiro e como o mesmo tem se comportado ao longo dos anos. Dentro desse contexto os pesquisadores observaram que os números revelaram o declínio da religião tradicional; a consolidação das novas tendências no universo da fé; o decréscimo do catolicismo e dos “evangélicos de missão”, esta última expressão usada para se referir às igrejas protestantes tradicionais; o fenômeno do pentecostalismo com as suas diferentes matizes incluindo as igrejas pertencentes ao pentecostalismo clássico e ao neopentecostalismo. Dentro da vertente pentecostal clássica ou histórica observou-se o crescimento isolado das Assembleias de Deus e o declínio das igrejas neopentecostais, tais como Universal do Reino de Deus e Evangelho Quadrangular.
O “boom” evangélico!
Faustino Teixeira põe em destaque o que ele denomina de crescimento evidente dos evangélicos. Nas últimas décadas esse crescimento teve um salto de 6.6% em 1980 para 22,2 % da população geral em 2010. Numa população brasileira de 190.755.799 milhões de habitantes, os evangélicos somam 42.275.440. Faustino observa ainda que esse crescimento não ocorreu entre os evangélicos de missão (igrejas tradicionais), que permanecem estacionados no percentual de 4%, mas sobretudo aos pentecostais que, segundo os números, correspondem a 13.3 % da população brasileira, o que perfaz um total de 25.370.484 milhões de fiéis. Isso significa que nos últimos dez anos cerca de 4.408 novos crentes foram acrescidos por dia ao arraial evangélico; entre os pentecostais o número de adesões diárias sobe para 2.124, sendo que as Assembleias de Deus receberam diariamente em suas fileiras 1.067 novas pessoas.[i]
Os números referentes ao crescimento dos evangélicos são de fato impressionantes! Por outro lado, os analistas se depararam com um fenômeno até então não detectado nos dados do IBGE – a presença de uma nova categoria de evangélicos, rotulada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de “Evangélica não determinada”. É exatamente a existência dessa nova categoria que mais tem intrigado os pesquisadores. Quem são? O que os números dizem sobre ela?
Faustino Teixeira comenta:
“A dificuldade de precisão analítica na apreensão correta dos dados sobre os evangélicos deve-se, em parte, ao significativo número de fiéis evangélicos classificados na categoria de “evangélicos não determinados”. Nada menos do que 9.2 milhões de pessoas, perfazendo 21,8 % de todo o contingente evangélico, num patamar que envolve 5% de toda a população brasileira. Alguns analistas os identificam como “evangélicos genéricos” ou “evangélicos sem igreja”, indicando a afirmação de uma diversidade interna no campo evangélico, seja mediante caminhos diversificados de assunção da pertença evangélica, seja o exercício de crença fora das instituições, ou na múltipla pertença evangélica”.[ii]
Evangélicos não determinados
O antropólogo e professor de pós-graduação da UFJF Marcelo Ayres Camurça também fez uma análise sobre a nova configuração religiosa no Brasil a partir dos dados do Censo de 2010. No capítulo intitulado de: O Brasil religioso que emerge do Censo de 2010: consolidações, tendência e perplexidades, comenta sobre esse aparecimento do que ele considera como um fenômeno dentro do universo evangélico, o expressivo contingente de evangélicos não determinados. Como já foi sublinhado essa nova categoria, em termos percentuais, já é superior aos evangélicos tradicionais e somam um número de 9.2 milhões de pessoas.
Pois bem, Camurça analisa as implicações que esses números têm dentro do arraial evangélico. Ele diz:
“Um fenômeno novo que veio a ser detectado nesse Censo foi a declaração recorrente de um segmento da população que passa se identificar apenas como “evangélica”, saindo de 1,7 milhão, que correspondia a 1% dos evangélicos, no Censo de 2000 para 9.2 milhões, ou seja, 4,8% no Censo atual, fenômeno que a classificação do IBGE denomina “evangélico não determinado”. Do total do grupo evangélico, 22,2%, este seguimento já ultrapassa os “evangélicos de missão” (na classificação do IBGE identificando as igrejas protestantes históricas) com 4,8% em relação aos 4,0% dos últimos, superado apenas pelos pentecostais com 13,3%. Uma linha de interpretação associou este tipo a uma “parcela não praticante” no grupo evangélico, uma característica de religião estabelecida e de maioria, que, no tipo de dinâmica descrita por Paul Freston, aparece “quando uma religião cresce e fica parecida com a sociedade na qual está inserida”, o que nos evoca a categoria “igreja” em oposição a “seita” na tipologia de Ernst Troelstch. Na análise do sociólogo Ricardo Mariano, especialista numa sociologia do protestantismo e do pentecostalismo, o crescimento deste tipo no meio evangélico representa um indicador de “privatização religiosa”, ou seja, o desenvolvimento de uma crença evangélica “por fora das instituições”, com a consequente diminuição do “compromisso religioso” e a assunção da “autonomia” e “individualismo” (Folha de São Paulo, 30/06/2012). Aqui, uma contaminação no meio evangélico da tendência (pós-) moderna da desfiliação religiosa e religião do self .Embora Mariano tenha falado em diminuição do compromisso religioso, penso isto significar mais o fim da pertença exclusiva do que a tendência a uma vinculação apenasnominal a uma religião que vai se tornando majoritária. Isto porque este evangélico genérico desenvolve uma atividade intensa e uma mobilização em torno de um estoque variado de opções que o universo evangélico – agora transmutado em “mercado de bens simbólicos” evangélicos de estilo moderno – oferece. Este novo evangélico geral se coloca na contramão da cultura histórica do denominacionalismo que caracterizou o protestantismo histórico.” [iii]
Desinstitucionalização
Por outro lado, o antropólogo e professor da UFMG, Pierri Sanchis vê o fenômeno dos evangélicos genéricos, não determinados ou desigrejados como sendo uma consequência da desinstitucionalização crescente. Ele destaca que as estruturas sólidas que fundavam, enquadravam, regulavam o universo das experiências religiosas, conferindo-lhes distinção, identidade e conteúdo, não o fazem mais com o mesmo rigor, e até quando se reafirmam com renovado vigor, não o fazem com a mesma abrangência. Nesse aspecto ele observa que as instituições religiosas sofrerão cada vez mais com falta de identidade de seus fiéis para com elas. Mesmo que a identidade religiosa permaneça, todavia os seus significados e conteúdos se amoldarão à nova realidade.[iv]
Em 2012 escrevi em meu livro Prosperidade À Luz Da Bíblia sobre a existência desses crentes migratórios. Destaquei que as bênçãos de Deus, quer seja de prosperidade ou saúde, acontecem dentro da esfera da igreja local. Os Institutos de Pesquisas têm detectado um fenômeno entre os evangélicos brasileiros – a existência de uma geração de crentes migratórios. Esses novos evangélicos não firmam raiz com igreja alguma, mas vivem sempre a se lançar à caça de uma nova igreja que lhe garanta uma bênção sem muito esforço. Esse entendimento é fundamentado numa falsa compreensão do que seja servir a Deus. Nesses casos o crente acredita que a sua participação em uma das dezenas de corrente de prosperidade ou o cumprimento de certos rituais exigidos lhe garantirão o favor de Deus sobre a sua vida. O relacionamento com Deus e o vínculo com uma comunidade local é totalmente esquecido. Para essas pessoas, muitas vezes, o problema está com as igrejas que mal frequentam e não com eles mesmos.[v]
Office-boy
Em 2004 a revista Superinteressante, periódico da editora Abril, trouxe uma ampla matéria sobre o crescimento dos evangélicos no Brasil. A revista destacava naquela época que um em cada seis brasileiros pertenciam a alguma denominação evangélica. Todavia a matéria chamava a atenção para o perfil desses novos crentes.
“Para resumir, o neopentecostalismo quer dizer que Monique Evans, Gretchen e Marcelinho Carioca podem agora se considerar “crentes”. Para isso, algumas adaptações aconteceram: saem os homens de terno e as mulheres de pelos nas pernas, entram pessoas que se vestem com roupas comuns e não se animam a seguir normas rígidas de conduta. A primeira inovação foi riscar do mapa o ascetismo, o sectarismo e a crença de que a melhor parte da vida está reservada para o Paraiso. “A preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”, afirma o sociólogo Ricardo Mariano, autor de Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil”. [vi]
Sem sal
Citando o escritor Paulo Romeiro, destacado cientista da religião, a Revista chamava a atenção para as consequências que essa nova teologia gerava nos conversos. “A teologia da prosperidade faz o fiel encarar Deus como um office-boy. O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um Deus superior.” A revista destacou as igrejas Renascer em Cristo, Sara Nossa Terra e Internacional de Deus como as principais representantes desse seguimento.
Essa “nova teologia” acabou por diluir a identidade historicamente construída pelos evangélicos no mundo. A reportagem entrevistou o pastor Joaquim Andrade, pesquisador da AGIR – Agencia de Informações da Religião. De acordo com Andrade há uma verdadeira perda de identidade no movimento evangélico mundial. O pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais, e até os protestantes históricos passaram aceitar a participação mais ativa do fiel no culto e algumas sobrenaturais.
Concluindo a matéria, quase que em um tom profético, a Superinteressante destacou:
“Um indicio de que a conversão do mundo evangélico significa um arrefecimento do fervor religioso é o fato de que as neopentecostais exigem poucas mudanças nos fieis. O resultado é que, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do País – bem ao contrário da revolução que ocorreu na Europa com as ideias de Lutero e Calvino. Prova disso é a programação da Rede Record, comprada pela Igreja Universal com o dinheiro do dízimo, que pouco difere das concorrentes”.[vii] (Grifos meus).
É lastimável, mas é a verdade!
A graça barata!
Não há dúvidas que há um “boom” no crescimento evangélico! Mas esse não é um crescimento sadio, mas um crescimento com inchaços! Na verdade os números revelam mais um inchamento do que um crescimento de fato. Como observou a matéria da Superinteressante, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país. O que há errado, então, com essa explosão da população evangélica?
Escrevi em um outro texto que o verdadeiro evangelho tem custo! A salvação é de graça, mas o discipulado custa caro! Dietrich Bonhoeffer, mártir alemão durante a segunda guerra mundial, escreveu que: “a graça barata é a inimiga mortal de nossa Igreja. A nossa luta trava-se hoje em torno da graça preciosa. Graça barata é graça como refugo, perdão malbaratado, consolo malbaratado, sacramento malbaratado; é graça como inesgotável tesouro da Igreja, distribuído diariamente com mãos levianas, sem pensar e sem limites; a graça sem preço, sem custo (...) graça barata significa justificação do pecado, e não do pecador; é a pregação do perdão sem o arrependimento”.[viii]
A razão, portanto, da existência de tantos desigrejados, cristãos indeterminados ou genéricos, está na ausência de um discipulado bíblico que permitisse esses crentes terem um crescimento natural e sadio. São cristãos que não estabeleceram vínculo nenhum com a igreja local e pouco ou quase nada sabem sobre o senhorio de Jesus.
Um programa de discipulado bíblico, nos moldes do recrutamento que Jesus fez com seus discípulos, precisa levar em conta alguns princípios. No evangelho de Lucas vemos como isso se deu. Primeiramente observamos que o Mestre serviu de modelo aos seus liderados, além do fato de os moldar de acordo com seus ensinos! Dentro desse processo observamos em segundo lugar, que o chamado ao discipulado não acontece de qualquer forma, mas há métodos que devem ser seguidos e custos que devem ser avaliados. Em terceiro lugar, uma atenção especial deve ser dada ao treinamento desses discípulos, o que exige uma mudança de cosmovisão e também de valores. Por último o envio em uma missão especifica, que consiste em pregar os valores do Reino de Deus e curar uma sociedade que se encontra doente. Um discípulo, é portanto, alguém que é capaz de reproduzir aquilo que aprendeu.
O discipulado de Jesus
Em sua exaustiva obra: Um Judeu Marginal – repensando o Jesus histórico, o escritor John P. Meier põe em relevo o discipulado de Jesus.
“O Jesus adulto surge pela primeira vez quando se junta a determinado grupo escatológico, caracterizado pelo batismo e arrependimento, chefiado por um estranho individuo chamado João Batista.
Arrebatando alguns indivíduos desse grupo, Jesus logo seguiu seu próprio caminho com uma nova mensagem do iminente, e no entanto presente, reino de Deus, mensagem essa dirigida a todo Israel. Indo de cidade em cidade em um ministério itinerante, Jesus atraiu círculos mais próximos e mais afastados de seguidores entre seus correligionários judeus... Participou de debates religiosos com outros judeus devotos e tomou a liberdade de ensinar a seus correligionários como a Lei mosaica devia ser seguida corretamente. Em seu próprio círculo ensinava a seus discípulos formas especiais de orações, observâncias e crenças que os caracterizavam como um grupo distinto dentro do judaísmo da Palestina no século I”.[ix]
Lucas registra:
“Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse-lhe: 26 Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo. 28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? 29 Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, 30 dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar. 31 Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? 32 De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores e pede condições de paz. 33 Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo. 34 Bom é o sal, mas, se ele degenerar, com que se adubará? 35 Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça” (Lc 14.25-35).
O custo do discipulado
No texto: A Educação No Antigo Israel E No Tempo de Jesus encontramos uma excelente exposição sobre o processo do chamado de Jesus. O texto põe em evidência alguns desses princípios. É dada atenção para o fato de que o chamado de Jesus não é algo que vem pronto e acabado, mas se constrói através de repetidas idas e vindas, de avanços e recuos. Tem início na beira do mar da Galileia (Mc 1.16), e termina com a ascensão (Mt 28.18-20). Depois da ressurreição começa de novo à beira do mesmo lago (Jo 21.2-17). É um recomeçar sempre! [x]
O recrutamento
A forma como Jesus chama as pessoas é bastante simples e variada. Muitas vezes Jesus toma iniciativa no chamado. Ele vê as pessoas e as chama (Mc 1.16-20). Mas em outros casos este chamado se dá através da rede de entrelaçamento familiar quando um membro da família conduz algum parente e amigo até Jesus (Jo 1.40-42; 45-46). João, o batista, também tem participação nesse chamado quando orienta seus discípulos a seguir o Mestre (Jo 1.35-39). Em outros casos as pessoas decidem espontaneamente para seguir Jesus (Lc 9.57-58; 61,62).[xi]
A natureza do chamado
Uma outra coisa posta em destaque diz respeito à natureza do chamado de Jesus. Esse chamado é de graça e não tem nenhum custo a mais. Todavia o grau de compromisso dessa decisão é muito alto. Jesus não engana ninguém nem camufla as implicações envolvidas no seu chamado. É um chamado que deve ser aceito de forma consciente por aquele que o abraça (Mc 1.15). Nesse aspecto o chamado é começar tudo de novo (Jo 3.3-8). O compromisso com o Reino e o chamado deve estar acima de qualquer vínculo familiar (Lc 9.60). Quem o acolheu não pode mais voltar atrás (Lc 9.62). É uma pérola preciosa e quem a achou deve se desprender de tudo para tê-la. Enfim quem O aceita deve se desprender de tudo para se dedicar a Ele (Mt 13.44-46).
O perfil dos chamados
É interessante também o perfil dos chamados por Jesus. Figueira e Junqueira põe em evidência esses perfis. Eram humanos, limitados e imperfeitos.
Os exemplos:
Pedro - era generoso e entusiasta (Mc 14.29,31), mas, na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e ele voltava atrás (Mt 14.30; Mc 14.66-72).
Tiago e João - estavam dispostos a sofrer por Jesus (Mc 10.39), mas queriam ter mais poder que os outros (Mc 10.35-41), e eram temperamentais (Lc 9.54). Jesus deu-lhes o apelido de “filhos do trovão” (Mc 3.17).
Filipe - tinha muito jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1.45-46), mas não era prático em resolver os problemas (Jo 6.5-7; 12.20-22). Jesus certa vez o censurou (Jo 14.8-9).
Natanael - era bairrista (Jo 1.46), mas diante da evidencia reconhece que Jesus é o Messias (Jo 1.49).
André – era mais prático. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6.8-9.
Tomé - era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11.16). Mas também era cabeçudo e teimoso, capaz de sustentar a sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20.24-25).
Mateus – era publicano e como tal era excluído da religião judaica. Simão – era Cananeu ou Zelote (Mc 3.18). Fazia parte de um partido dos zelotes que se opunha ao governo romano. Judas – guardava o dinheiro do grupo (Jo 12.6; 13.29).
Joana – era esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galileia. Junto com Susana e outras mulheres, ela seguia a Jesus e o servia com seus bens (Lc 8.2-3).
Maria Madalena – era nascida na cidade de Magdala. Jesus libertou-a de sete demônios (Lc 8.2).
Marta e Maria – eram irmãs, que junto com Lázaro, o irmão delas, viviam em Betânia, perto de Jerusalém (Jo 11.1).
Nicodemos –Era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época.[xii]
As dimensões do chamado
Ainda segundo o pensamento desses autores o discipulado de Jesus possui três dimensões:
· Tomar o Mestre como Exemplo
Jesus se torna o referencial na vida do discípulo (Jo 13.13-15).
· Ter participação na cruz
Seguir Jesus estava muito longe de algo meramente teórico. Seguir Jesus era sofrer com ele, era participar de suas provações (Lc 22.28) e perseguições (Jo 15.20; Mt 10.24-25). Era se sujeitar a viver sob o peso da cruz e até mesmo morrer com Jesus (Mc 8.34-35; Jo 11.16).
· Viver a vida de Jesus
Essa nova dimensão vem logo após a ressurreição de Jesus e a vinda do Espírito Santo. Seus discípulos estão convictos que Jesus vive neles através do Espírito Santo: “Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2.20). Como seus seguidores, cheios do Espírito, e com a presença de Jesus no meio deles, agora continuam a obra que Jesus começou entre eles. Se entregam totalmente à palavra de Deus e à oração.[xiii]
Marta e Maria
Esse discipulado de Jesus fica em destaque nas vidas de Marta e Maria. Há algumas lições que podemos extrair desse relato.
“E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. 39 E tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. 40 Marta, porém, andava distraída em muitos serviços e, aproximando-se, disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude. 41 E, respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, 42 mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (Lc 10.38-42).
A forma como o Senhor discipula Marta e Maria, conforme mostra essa narrativa, é de fato muito interessante. Observamos que:
1. É possível hospedar Jesus e ainda assim não possuir nenhum relacionamento com ele – “Recebeu (hospedou) em sua casa” (v.38).
Não basta ter Jesus como hospede, é necessário que ele habite na casa. Um dos problemas graves do discipulado contemporâneo é que ele não consegue firmar vínculo com Jesus. Jesus não é o dono nem tampouco o Senhor da casa, mas um mero hóspede. A palavra grega upodechomai, traduzida como “recebeu” ou “hospedou”, possui o sentido de “receber como um convidado”. Não é um residente. Uma vida transformada necessita ter Jesus como residente nela e não apenas como um convidado.
2. É possível se possuir algum parentesco com alguém piedoso e mesmo assim não ter uma vida piedosa – “E tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra” (v.39).
Marta era irmã de Maria. Maria era uma crente piedosa que queria sempre aprender aos pés do Mestre. Por outro lado, Marta não era tão piedosa quanto a irmã. Não tenho dúvidas que o fracasso do discipulado reside no fato de muitos cristãos possuírem apenas uma fé nominal. Frequentam uma igreja, pertencem a alguma comunidade evangélica, mas não conseguem levar uma vida devocional genuinamente cristã. Vivem sempre à margem da fé. Aproximam-se mais do mundo do que do evangelho.
3. É possível ter orelhas para escutar e mesmo assim não ouvir o que o Senhor está dizendo – “Maria...ouvia a Palavra” (v.39).
Maria ficava ao lado do Senhor para melhor ouvir os seus ensinamentos, mas Marta não tinha tempo para isso. A verdadeira adoração não ignora a obrigação nem tampouco esquece a devoção. O trabalhador não deve esquecer que também é um adorador.
4. É possível estar tão ocupado que até mesmo Deus passa a ser um problema – “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir só?” (v.40).
Se não podemos afirmar que Marta quis culpar ao Senhor pela falta de cooperação de Maria, no mínimo ela achava que Maria não estava usando corretamente o seu tempo naquela ocasião. Jesus ali aparece como um problema para Marta. Marta acha que é Ele quem interrompe os afazeres domésticos de Maria, sua irmã. Quando nos envolvemos demais com as coisas dessa vida, até mesmo Deus ou a igreja passam a ser um peso para nós.
5. É possível estar à sombra do Evangelho e mesmo assim possuir valores invertidos –“respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (v.41.42).
O problema com Marta foi que ela inverteu as coisas. Pôs suas prioridades em primeiro lugar e não encontrou espaço para as coisas de Deus. Os valores ficaram invertidos. É o uso da lógica inversa àquela do reino de Deus. “Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Quando Deus se torna o primeiro, jamais vamos ser os últimos.
Pr Jose Gonçalves
[i] TEIXEIRA, Faustino. Religiões Em Movimento – o Censo de 2010.
[ii] TEIXEIRA, Faustino. Op.cit.
[iii] CAMURÇA, Marcelo Ayres. In Religiões Em Movimento – o Censo de 2010, p.75. Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2013.
[iv] SANCHIS, Pierre. Religiões Em Movimento – O Censo de 2010.
[v] GONÇALVES, José. A Prosperidade à Luz da Bíblia. Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, 2012.
[vi] GWERCMAN, Sérgio. In Superinteressante – as 25 reportagens mais surpreendentes, polemicas e curiosas dos 25 anos da Revisa. Editora Abril, São Paulo, SP, 2013.
[vii]Superinteressante – as 25 reportagens mais surpreendentes, polêmicas e curiosas dos 25 anos da Revista. Editor Abril, p 112.
[viii] BONHOFFER, Dietrich. Discipulado. Editora Sinodal, 2004.
[ix] MEIER, John P. Um Judeu Marginal – repensando o Jesus histórico, volume três, livro 1 - companheiros. Editora Imago, Rio de Janeiro, 2003.
[x] FIGUEIRA, Eulálio & JUNQUEIRA, Sérgio. Teologia e Educação – Educar para a caridade e a solidariedade. Ed. Paulinas, São Paulo, 2012.
[xi] Idem.
[xii] FIGUEIRA, Eulálio & JUNQUEIRA, Sérgio. Teologia e Educação. Op. Cit.
[xiii] FIGUEIRA, Eulálio e JUNQUEIRA, Sérgio. Teologia e Educação. Op.cit.
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