David Wilkerson, conhecido por seu estrondoso ministério entre gangs do Brooklyn em New York, relata que seu trabalho alcançou enorme projeção mundial com o livro “Entre a cruz e o punhal”, que apenas na década de 1970 vendeu 18 milhões de exemplares, no qual relatava a dolorida realidade das pessoas viciadas em droga e como alguns destes jovens foram libertos pela oração e volta a Jesus. A partir daí, milhares de pessoas, imprensa, organizações eclesiásticas vinham ao seu encontro e queriam convidá-lo para dar palestras e contar suas experiências. A revista Time, o New York Times. O Daily News publicaram artigos a respeito do seu trabalho e foi entrevistado em muitos programas de rádio e TV.
Um dia, porém, um homem de origem chinesa o deteve na rua e lhe deu o seguinte recado: “Moro em Hong Kong, mas o Senhor me pediu para lhe dar um recado simples. O Senhor está dependendo demais de si mesmo, e não está dependendo mais de Deus. O Senhor perdeu a simplicidade”. Quando Wilkerson quis se defender e se tornou reativo, o homem afirmou: “Não estou preocupado comigo mesmo, choro por você. O que eu precisava dizer, eu disse”. Virou as costas e foi embora.
Ele tentou ignorar aquele homem, mas aquilo o incomodou. Apesar de seu padrão de vida não ter mudado muito, ela agora tinha uma casa mais bonita e um carro melhor, ele passou a considerar sua vida, e chegou à conclusão de que havia perdido a simplicidade da fé. O problema era mais profundo que a questão material, era algo na alma.
Tenho percebido muito claramente como podemos nos tornar sofisticados na questão da espiritualidade. A fé simples, que alimenta a alma, tem se transformado numa busca confusa e atabalhoada de outros elementos que não são essenciais. Nos tornamos inquiritivos, questionadores, filosóficos, mas perdemos a essência de que vida cristã que não é a guarda de ritos complexos, nem manuais elaborados ou fórmulas sagradas. Vida cristã é o simples relacionamento da criatura com o Criador, de uma alma que tem sede com aquele que pode saciar. Do homem desorientado que encontra sentido e direção na pessoa de Jesus de Nazaré. Temos perdido a capacidade de ser simples.
Não seria isto que Jesus queria dizer ao afirmar que se não nos tornarmos como uma criança não seremos capazes de ver o Reino dos céus? Jesus chegou mesmo a colocar uma criança no meio dos discípulos para chamar-lhes a atenção. A criança crê genuinamente, descansa nos braços do pai de forma tranquila, porque confia no pai. Não deveríamos também, da mesma forma, termos atitude semelhante com o Pai celestial?
Precisamos descomplicar. Nos tornamos sofisticados e elaborados demais, mas estamos cada vez mais secos, vazios, exigentes. Transformamos nossa história numa vida de exigências absurdas, necessidades criadas, e estamos perdendo a capacidade de viver de forma espontânea, celebrativa e natural.
Rev. Samuel Vieira
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