Há alguns anos dialoguei com um cristão europeu no término de um culto evangélico. Durante a nossa conversa, ele demonstrou grande admiração na capacidade que os crentes brasileiros possuíam para crer em milagres. Ele admirava-se, por exemplo, como os brasileiros respondiam com facilidade a uma oração em favor da cura divina! Confessou-me que havia feito um curso bíblico de seis meses para poder acreditar em algumas narrativas do livro de Gênesis.
Para aquele europeu era difícil crer! Quando estive na Europa, inclusive em países que foram berços da grande Reforma Protestante de 1517, pude compreender melhor a razão da descrença daquele irmão europeu. Conheci catedrais suntuosas, mas que se encontravam totalmente vazias! Vi de perto o legado dos reformadores em ruas, avenidas e museus, mas constatei que suas ideias pouco ou nenhum efeito causavam mais em seu povo. A Europa vive numa era pós-cristã e, consequentemente, pós-milagres.
A Ressurreição na Idade da Razão
O que aconteceu com a fé no velho continente? O que fez seus teólogos negarem o sobrenatural, milagres e de uma maneira sistemática a doutrina da ressurreição de Jesus? Esse capítulo procurará responder a essas perguntas.
Há algum tempo escrevi na coluna de Apologética do jornal Mensageiro da Paz, periódico mensal da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, que o conflito entre fé e razão está presente desde muito cedo na história da igreja cristã. De fato parece quase impossível, pelo menos para muitos cristãos, a ideia de reconciliar a revelação com a razão. A ideia que se têm, para parafrasear o teólogo anglicano Alan Jones, é que “quem pensa não tem fé, e quem tem fé não pensa”.1 Isso parece paradoxal, pois, sem dúvida os maiores pensadores da humanidade são encontrados dentro do universo cristão.
No texto bíblico de Atos dos Apóstolos 27.9-11, vemos esse conflito em evidência. Por um lado temos o apóstolo Paulo valendo-se de uma revelação divina sobre os perigos iminentes que corria o navio no qual ele era transportado. Quando o apóstolo disse “vejo” que a viagem vai ser trabalhosa, não há dúvida de que ele se referia a uma revelação de Deus sobre a viagem da qual era participante. Em palavras mais simples, Paulo teve uma revelação de Deus sobre o que poderia acontecer naquela viagem. Por outro lado, o texto sagrado mostra que o “centurião dava mais crédito ao piloto e ao mestre do navio do que ao que Paulo dizia”. O centurião preferiu crer mais na técnica dos marinheiros do que em Paulo. Em outras palavras, o centurião preferiu acreditar mais na razão que na revelação.
No período pós-apostólico, o debate entre fé e razão cresceu em amplitude. A palavra “razão” nesse período, soava como sendo um sinônimo de filosofia grega. Todavia para muitos pais apostólicos essa aproximação entre Atenas e Jerusalém cheirava a apostasia. Tertuliano, por exemplo, que foi bispo de Catargo, perguntava em tom de denúncia: “que relação há entre Atenas e Jerusalém? Que acordo há entre a Academia e a Igreja?” Para ele a fé cristã e a filosofia grega eram irreconciliáveis. Por outro lado, Justino Mártir, um ex-discípulo de Platão, acreditava que era sim possível esse diálogo. Em sua apologia ele escreveu: “Eu sou cristão, glorio-me disso e, confesso, desejo fazer-me reconhecer como tal. A doutrina de Platão não é incompatível com a de Cristo, mas não se casa perfeitamente com ela, não mais do que a dos outros, dos estoicos, do poetas e dos escritores. Cada um deles viu, do Verbo divino que estava disseminado pelo mundo, aquilo que estava em relação com a sua natureza, chegando desse modo a expressar uma verdade parcial. Mas, à medida que se contradizem nos pontos fundamentais, mostram que não estão de posse de uma ciência infalível e de um conhecimento irrefutável. Tudo aquilo que ensinaram com veracidade pertence a nós cristãos.”2
São dois exemplos que mostram pensamentos diametralmente opostos. No período medieval esse debate é retomado com força, e dois expoentes do pensamento ocidental vão se sobressair. São eles: Agostinho e Tomás de Aquino. Agostinho viveu no início da Idade Média, enquanto Aquino no final. Se por um lado Agostinho, que foi bispo de Hipona, vai recorrer ao pensamento platônico para fundamentar seus argumentos teológicos, por outro Aquino irá cristianizar os ensinos de Aristóteles. Ao recorrer à filosofia aristotélica para fundamentar seu ra- ciocínio, Aquino, por exemplo, dizia que “os argumentos não devem ser aceitos pela autoridade de quem diz, mas pela validade do que se diz.”4 Duas perguntas devem ser respondidas depois do que se acabou de narrar. E possível, portanto, compatibilizar a fé com a razão? Qual o pe- rigo de se formar um abismo entre ambas? Em primeiro lugar, acredito que hoje há uma grande confusão em torno desses temas. O problema está em se confundir razão com racionalismo. O primeiro termo diz res- peito a nossa capacidade de julgar, de pensar, de argumentar, etc. Nesse sentido não há como nos desfazermos da razão, simplesmente pelo simples motivo de sermos seres racionais. Fomos feitos para pensar. René Descartes dizia na introdução de seu Discurso do Método que todos nós nascemos com o bom senso.5 Por outro lado, o racionalismo é um termo aplicado à escola de pensamento que diz não haver nenhum conhecimento válido fora da razão humana. Em palavras mais simples, aquilo que não puder ser explicado de forma racional deve ser rejeitado. Nesse caso a revelação, que se encontra nos domínios da fé, não pode ser aceita como uma forma de conhecimento válido. Essa forma de pensar, que é filha da modernidade, é de fato a mãe do materialismo e ateísmo.
Há o outro lado da moeda. Quando se privilegia a revelação em detrimento da razão, cria-se um campo propício para o surgimento de práticas incompatíveis com o cristianismo bíblico. Por exemplo, o livro Libertação da Teologia, escrita por um autor neopentecostal, diz: “Todas as formas e todos os ramos da Teologia são fúteis. Não passam de emaranhados de ideias que nada dizem ao inculto; confundem os simples e iludem os sábios. Nada acrescentam à fé; nada fazem pelo homem senão talvez aumentar sua capacidade de discutir e discordar.”^ Que princípio irá nortear uma igreja que acredita que a razão, que aqui é entendido como sendo o pensamento teológico sistemático, é futil? Não irá essa igreja ter um conjunto de crenças práticas fora do modelo bíblico?
E assim que pensa, por exemplo, os grupos restauracionistas. Hannah Whitall Smith, por exemplo, em seu livro O Segredo Cristão de uma Vida Feliz escrito em 1870, acreditava que o problema com a maior parte da religião de hoje em dia é sua extrema complexidade”, acrescentando que a verdadeira religião evita dificuldades teológicas [e] dilemas doutrinários... Nenhum treinamento teológico e nenhuma visão teológica em particular são necessárias.”7 Essa confusão é gerada por conta daquilo que se denomina de “erro de categoria lógica”. A fé e a razão não são excludentes, mas sem dúvidas pertencem a categorias diferentes. Como explicar, por exemplo, a cura de um paciente terminal de câncer recorrendo a argumentos racionais ou mesmo a ressurreição dos mortos?
Quando nos conscientizarmos que somos formados por Deus (seres espirituais) tanto para crer (revelação) como para pensar (razão), então cessará o conflito. Mas não é isso que temos visto acontecer dentro do que comumente se denomina de “cristianismo histórico”. Como já demonstrei no capítulo sete, o que tem prevalecido dentro da tradição cristã institucional é a existência de uma crença secularizada. E, portanto, à luz dessa fé secularizada que os milagres narrados nos evangelhos irão ser interpretados pelos teólogos cristãos que se tornaram filhos do paradigma cientificista, cartesiano ou moderno. A doutrina da ressurreição dos mortos não foge a essa regra.
Como já observamos em capítulos anteriores, os pilares dessa fé esvaziada encontram-se no que comumente se chama Idade da Razão ou paradigma da Modernidade. Um dos muitos pressupostos desse modelo cultural era a fé em Deus. Todavia essa fé em Deus não possui o mesmo significado que lhe atribui o cristianismo ortodoxo. Não se trata, portanto, de uma fé piedosa, mas secularizada. O escritor espanhol Antônio Cruz observa que dentro do contexto do cientificismo “a secularização e não o secularismo aparece como um movimento histórico positivo para o cristianismo porque liberta a fé da superstição; o secularismo ao contrário é uma ideologia negativa que propõe a destruição do fator religioso.”8
É exatamente essa tentativa de se possuir uma religião cristã que pudesse ser cientificamente aceitável ou empiricamente provada que conduziu os grandes teólogos protestantes a tentarem “libertar a fé das superstições”. A crença em seres sobrenaturais e milagres passaram então a serem vistos como fazendo parte de uma “fé supersticiosa”. A crença na ressurreição dos mortos, por ser de natureza metafísica, e, portanto, fora dos limites da ciência ou dos domínios da razão, foi negada como sendo um evento real.
Uma Ressurreição Imaginável
Um dos primeiros pensadores a negar a realidade corporal da ressurreição de Jesus foi Hermann Samuel Reimarus (1694-1768). A Enciclopédia digital Wikipedia observa que Reimarus “era um filósofo alemão e escritor do Iluminismo, que é lembrado por seu deísmo, a doutrina de que a razão humana pode chegar a um conhecimento de Deus e da ética a partir de um estudo da natureza e da nossa própria realidade interna, eliminando assim a necessidade de religiões baseadas na revelação. Ele negou a origem sobrenatural do cristianismo, e é creditado por alguns como o início da investigação dos historiadores do “Jesus histórico”.9 Pois bem, Reimarus escreveu como a crença na ressurreição de Jesus passou a se formar em seus discípulos:
“Eles também esperaram em Jesus como um salvador terreno do povo de Israel, até sua morte, e, uma vez esmorecida esta esperança, após sua morte pela primeira vez forjaram a doutrina de um redentor espiritual sofredor de todo o gênero humano; depois ampliaram sua precedente doutrina, que era fundada, essa, no escopo do ensino e da ação de Jesus. Logo depois da morte de Jesus, reinou entre os apóstolos nada mais do que a angústia e o medo de serem eles mesmos também perseguidos e conduzidos ao suplício [...]. Então o abandonaram todos e fugiram. Mas depois, desaparecido o perigo, não querendo regressar ao seu humilde trabalho precedente, portanto por interesse e por amor das honras, abriram para si uma nova via para chegarem a tudo isso mediante uma astuta invenção [...] e eles compreenderam que não tinham ainda perdido a partida. [...] Antes de qualquer outra coisa, era necessário fazer desaparecer o corpo de Jesus, para poder depois sustentar com pretexto que ele tinha ressuscitado e subido ao céu, de onde deveria em breve tempo regressar com poder e majestade. Pôr em obra uma semelhante subtração do cadáver era fácil para eles: este jazia no jardim de José [...]. Certamente sofreram a acusação de terem sido eles de fato a fazer isso durante a noite, e não conseguiram de nenhum modo justificar-se verdadeiramente desta fama comum; em breve, todas as circunstâncias surgem que eles tenham efetivamente realizado esta tarefa, e que a tenham em seguida colocado como fundamento de sua nova doutrina.”10
Essa tese de Reimarus acabou formando escola. Depois dele os teólogos protestantes, principalmente os da escola alemã, não mais conseguiram se desvencilhar do racionalismo de Reimarus. O teólogo e escritor David Friedrich Strauss (1808-1874), por exemplo, segundo a Wikepedia “escandalizou os cristãos da Europa com sua interpretação do ‘Jesus histórico’, cuja natureza divina ele negou. Seu trabalho foi ligado à Escola de Tübingen, que revolucionou o estudo do Novo Testamento, o cristianismo primitivo, e religiões antigas. Strauss foi um dos pioneiros na investigação histórica de Jesus.”11
David F. Strauss negou as explicações da tumba vazia por achá-las lendárias, passando a ensinar que a crença na ressurreição por parte dos discípulos de Cristo surgiu da necessidade psicológica de explicar o fracasso advindo com a morte do Mestre. Ele escreveu que:
“Durante sua plurianual convivência com eles, Jesus tinha dado a impressão sempre mais nítida de ser o Messias, mas a morte tinha ao menos, pelo momento, destruído essa impressão. A precedente impressão começou novamente a despertar- se: nasce espontaneamente neles a necessidade psicológica de resolver a contradição entre o extremo destino de Jesus e sua precedente opinião a respeito dele, mediante a inclusão no seu conceito de Messias da paixão e da morte. Em simples indivíduos, sobretudo mulheres [...] em modo puramente subjetivo, cresceu até assumir a forma da visão verdadeira e própria.”12
Ao escrever sobre a Neo-ortodoxia e a Ressurreição de Jesus, o reverendo Agustus Nicodemus Lopes detalhou a influência negativa que a teologia liberal ou neoliberalismo causou na crença cristã na ressurreição de Jesus.
Nicodemus destaca que:
“A neo-ortodoxia, todavia, provavelmente influenciada pela mentalidade gnóstica, tem a tendência de espiritualizar a ressurreição de Jesus. Tomemos alguns exemplos. Emil Brunner, um dos pais da neo-ortodoxia, declarou enfaticamente: ‘ressurreição do corpo, sim; ressurreição da carne, não! A ressurreição do corpo não significa a identidade do corpo da ressurreição com o corpo de carne e ossos, apesar de já transformado; mas, a ressurreição do corpo significa a continuidade da personalidade individual desse lado e no outro lado, a morte.”’
Nicodemus observa que:
“Todavia, a influência mais radical sobre a visão neo-ortodoxa da ressurreição vem de Rudolph Bultmann. Apesar de acreditar que existiu um Jesus da história, ele nega claramente a historiei- dade da ressurreição. Ele afirma que a ressurreição “não é um evento da história passada... um fato histórico que envolva a ressurreição de mortos é totalmente inconcebível”. Para Bultmann, “é impossível acreditar-se num evento mítico como a ressurreição de um cadáver, pois é isso o que a ressurreição significa.” Portanto, para ele, “se o evento do domingo de Páscoa for em qualquer sentido um evento histórico adicional ao evento da Cruz, não é nada mais do que o surgimento da fé no Senhor ressurreto...”
Ainda de acordo com Nicodemus “um outro exemplo vem de Wolfhart Pannenberg, que muito embora não possa ser considerado neo-ortodoxo, todavia, respira o mesmo ar que permeia o ambiente da neo-ortodoxia. Ele confessa que Jesus ressuscitou de um túmulo vazio, mas nega que Ele foi ressuscitado no mesmo corpo físico de carne e ossos. Na verdade, ele vê o corpo da ressurreição como puramente espiritual ou material.”13
Atualmente os teólogos adeptos da corrente do “Jesus Histórico” ainda não conseguiram se desligar da influência da teologia liberal. Em um capítulo intitulado “Nós Cremos que Ele Ressuscitou", o teólogo católico Giuseppe Barbaglio gasta 20 páginas do seu livro Jesus, Hebreu da Galileia na tentativa fazer um apanhado “historicamente” convincente da ressurreição de Jesus. Teria sido o relato da ressurreição feito pelos discípulos: alucinações, visões sensíveis, fantasias ou percepções mentais? Na concepção de Barbaglio quando Jesus ressuscitou ele “se fez ver” e não “foi visto” como mostra as versões da Bíblia.
Barbaglio explica:
“Normalmente, usa-se a forma verbal ophthe, um aoristo formalmente passivo seguido porém não por um normal complemento agente mas por um dativo; por isso deve traduzir não como “foi visto”, mas “se fez ver”. Na tradição bíblico-hebraica serve para indicar as aparições de Deus a Abraão (Gn 12.7; 17.1), a Moisés na sarça (Ex 3.2: o anjo do Senhor que está por Deus), a Salomão (1 Rs 3.5), etc. Ora, em duas atestações que remontam aos primeiros anos da crença cristã se faz recurso disso para exprimir a aparição de Jesus ressuscitado aos primeiros cristãos. Em Lucas 24.34, lemos: “verdadeiramente o Senhor foi ressuscitado e se fez ver a Simão (ophthe Simoni)”; em 1 Co 15.4,5, Paulo transmite quanto ele mesmo recebera: Cristo “ressuscitou e é o Ressuscitado (egegertai) e se fez ver a Cefas e aos Doze (ophthe Kepha-i kai tois dodeka)”. Outros beneficiários da aparição do Ressuscitado são indicados por Paulo em 1 Cor 15.6-8: “Se fez ver a quinhentos irmãos de uma só vez/ a Tiago/a todos os apóstolos/por último em absoluto [...] se fez ver também a mim”. Em Atos 13.31, fala-se de Cristo que “se fez ver àqueles que com ele subiram da Galileia a Jerusalém”.14
Evidentemente que toda essa carga de significação dada à expressão “se fez ver” em vez de “foi visto” é uma forma mais sutil de não se assumir que a ressurreição ocorreu de forma literal como demonstra o Novo Testamento. Em palavras mais simples, “se fez ver” situa-se mais na esfera subjetiva, mental e psicológica dos discípulos do que na esfera real. Nada diferente daquilo que ensinaram os teólogos liberais ou neo-ortodoxos.
Buscando entre os Mortos ao que Vive — a Ressurreição de Jesus no Terceiro Evangelho
“E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado, e algumas outras com elas. E acharam a pedra revolvida do sepulcro. E, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu que, estando elas muito perplexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois homens, com vestes resplandecentes. E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galileia, Dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite. E lembraram-se das suas palavras. E, Voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais. E eram Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago, e as outras que com elas estavam, as que diziam estas coisas aos apóstolos. E as suas palavras lhes pareciam como desvario, e não as creram. Pedro, porém, levantando-se, correu ao sepulcro e, abaixando-se, viu só os lençóis ali postos; e retirou-se, admirando consigo aquele caso” (Lc 24.1-12).
“Falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja convosco. E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel; O que ele tomou, e comeu diante deles” (Lc 24.3643).
A pergunta feita pelo mensageiro celestial às mulheres que foram visitar o túmulo de Jesus, na madrugada de domingo, foi: “Por que buscais entre os mortos ao que vive?” (Lc 24.5).
Quando se procura encontrar o Cristo vivo entre os mortos, busca- se no lugar errado! O Cristo ressuscitado não pode ser mais encontrado em um cemitério. Não há dúvida que esse é o principal erro dos teólogos liberais que negam a ressurreição corporal de Jesus — eles o buscaram nas tumbas frias do racionalismo! Não o encontraram! Cristo não pode ser encontrado em um cemitério. E por que não?
1. Porque cemitério é lugar de esquecidos.
Jesus não ficou na tumba porque, diferente dos pecadores, não podia ser esquecido na tumba.
“Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela; Porque dele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, Porque está à minha direita, para que eu não seja comovido; Por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; E ainda a minha carne há de repousar em esperança; Pois não deixarás a minha alma no inferno, Nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção; Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; Com a tua face me encherás de júbilo” (At 2.24-28). Deus se lembrou de seu amado Filho! Deus não o esqueceria na morte nem permitiria que seu corpo sofresse decomposição.
2. Porque cemitério é lugar dos que perderam.
Pode parecer doloroso, mas o cemitério é uma prova de que o homem perdeu para a conseqüência do pecado, a morte. “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). Jesus, o ressuscitado, derrotou o pecado e suas conseqüências.
3. Porque o cemitério é lugar de lembranças.
Não creio que haja um lugar mais nostálgico do que um cemitério. É ali onde a nossa mente volta ao passado para lembrar de gestos, falas e atos das pessoas queridas que marcaram nossa vida. O cemitério é um lugar de recordações! A igreja dos tes- salonicenses sentiu isso. Paulo escreveu-lhes que não se desesperassem com respeito aos que morreram porque Jesus, através de sua morte e ressurreição, já havia resolvido esse problema. “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4.13-18).
4. Porque o cemitério é um lugar de vazio.
Foi Heidegger, filosofo alemão, quem disse ser a morte “um nada”. Um total vazio! Na verdade, analisada existencialmente, a morte é algo totalmente sem sentido. É a anulação de todo um projeto. Nada mais trágico. De fato o apóstolo Paulo ao escrever sobre a ressurreição de Jesus afirmou que se a nossa vida se limitasse apenas a essa existência nós seriamos os mais infelizes dos homens (1 Co 15.19). Graças a Deus que Cristo ressuscitou, tornando a nossa existência cheia de significado.
5. Porque o cemitério é um lugar sem volta.
Do ponto de vista materialista, o cemitério é um lugar sem retorno. Só garante a passagem de ida, mas não a da volta. Todavia, nas Escrituras, o cemitério não aparece como o ponto final. “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram
o mal, para a ressurreição da condenação” (Jo 5.28,29).
A ressurreição de Jesus, negada pelos teólogos liberais, é um dos fatos históricos mais bem documentados no Novo Testamento. As evidências são muitas. A apologética cristã tem se mostrado mais do que convincente na defesa da doutrina da ressurreição de Jesus. Apologistas como Norman Geisler, Josh McDowell e Ralfh Muncaster tem feita uma ampla defesa dessa importante doutrina bíblica. Esses apologistas refutam as diversas teorias que procuram explicar de forma racionalista a ressurreição de Jesus. Primeiramente há a teoria do mito na qual é dito que a ressurreição não passa de um mito como tantos outros nas grandes religiões. Há também a teoria do sepulcro desconhecido onde se alega que o corpo de Jesus teria sido lançado em um sepulcro para indigentes e não em um túmulo novo. Dessa forma nem mesmo os discípulos saberiam o lugar certo. Uma outra teoria, a do sepulcro errado, muito semelhante a anterior, diz que os discípulos tendo confundido os sepulcros foram a um deles que se encontrava vazio e não aquele onde de fato Jesus havia sido posto. Uma teoria muito popular é a da lenda. Essa teoria afirma que o relato da ressurreição faz parte das lendas que floresceram nos primeiros anos da cristandade. Há ainda a teoria da ressurreição espiritual, divulgada pelas Testemunhas de Jeová. Nela se diz que o próprio Deus destruiu o corpo de Jesus. Dessa forma Jesus teria ressuscitado em um corpo espiritual e não material. Uma outra teoria muito difundida é a da alucinação. Essa teoria diz que os discípulos pensaram ter visto Jesus ressuscitado, mas de fato tratava-se apenas de uma alucinação ou miragem. Por último, há a teoria da substituição defendida pelos mulçumanos. Segundo essa teoria, Jesus foi substituído por uma outra pessoa na hora da crucificação.15 Dentre as muitas evidências da ressurreição de Jesus, podemos citar: O rompimento do selo romano. Todos os sepulcros possuíam uma espécie de lacre como marca do Império Romano. Romper esse lacre era ir contra a autoridade do Império. Não dá para acreditar que os discípulos temerosos como se encontravam, tivessem coragem para tal. Uma outra evidência é o túmulo vazio. Logo após a ressurreição, como atesta o livro de Atos dos Apóstolos, os discípulos começaram a pregar que Cristo havia ressuscitado. Se esse fato não fosse verdade as autoridades judaicas ou romanas logo teriam provado o contrário. O fato é que não havia mais corpo no túmulo. Possivelmente, nenhuma outra evidência seja tão forte quando o testemunho dos primeiros cristãos. E impossível lermos as narrativas dos Atos dos Apóstolos e o testemunho do apóstolo Paulo e ao mesmo tempo duvidarmos que Jesus ressuscitou. Pedro curou enfermos afirmando que o fazia em nome de Jesus que havia ressuscitado. Paulo empreendeu uma das maiores investidas missionárias da história, libertando pessoas oprimidas de demônios e curando paralíticos em nome de Jesus ressuscitado. A existência da igreja é a maior prova que o nosso Senhor ressuscitou! Aleluia.
NOTAS
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2 REALI, Giovani. História da Filosofia. São Paulo: Paulus.
3 AQU1NO, Tomás. Suma Teológica, 9 volumes. Edições Loyola.
4 AQUINO, Tomás. Verdade e Conhecimento. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes.
5 DESCARTES, Rene. Discurso do Método. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes.
6 MACEDO, Bispo. Libertação da Teologia. Rio de Janeiro: Gráfica Universal.
7 ALLEN, C. Leonard Allen &HUGHES, Richard T. Raízes da Restauração, a Gênese Histórica do Conceito de Volta A Bíblia. Editora Vida Cristã.
8 CRUZ, Antonio. La Postmodemidad. Editorial CLIE, Barcelona, Espanha.
9 http://en.wikipedia.org/wiki/Hermann_Samuel_Reimarus. Acesso 03.09.2014.
10 Conforme citado por Giuseppe Barbaglio in Jesus, Hebreu da Gali- leia - pesquisa histórica. Edições Paulinas.
11 http://en.wikipedia.org/wiki/David_Strauss. Acesso 03.09.2014.
12 Conforme citado por Giuseppe Barbaglio in Jesus, Hebreu da Galileia. Op.cit
13 LOPES, Agustus Nicodemus. O que Estão Fazendo com a Igreja - ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro. Editora Mundo Cristão.
14 BARBAGLIO, Giuseppe. Jesus, Hebreu da Galileia — pesquisa histórica. Editora Paulinas.
15 MCDOWELL, Josh & MCDOWELL, Sean. Evidências da Ressurreição. Rio de Janeiro: CPAD.
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