Luiz Felipe Pondé, filósofo, escritor e ensaísta brasileiro declarou que “ser ateu é muito chato!” Recentemente li uma frase de Alister MacGrath ainda mais contundente: “O ateísmo é uma declaração de fé, tanto quanto o cristianismo”. Ele defende a seguinte lógica: “O cristão acredita em Deus, e o faz por fé. Mas o ateu precisa fazer o mesmo. Ele crê que Deus não existe! Isso mesmo. Crê. Como não consegue provar que Deus não existe, o ateísmo torna-se um tipo de fé”. Esta afirmação filosófica, provavelmente coaduna com o provérbio popular: “Sou ateu. Graças a Deus!”
A verdade é que é necessário um bocado de fé para não crer. Norman Geisler & Frank Turek escreveram provocante livro, já traduzido para o português (Editora Vida), cujo título é “Não tenho fé suficiente para ser ateu. Os autores, antes de abordar a questão da verdade do cristianismo, abordam a questão da própria verdade, provando a existência da verdade absoluta. Tentam desmontar as afirmações do relativismo moral e da pós-modernidade, resultando em uma valiosa contribuição aos escritos contemporâneos da apologética cristã.
Para ser ateu é necessário negar o princípio da coerência e harmonia cósmica. Como imaginar que um universo tão belamente planejado seja proveniente de forças cegas da história? Como crer que a matéria entregue a si mesma, sem um ser inteligente, consiga encontrar lógica? Esta ideia nega, inclusive, a segunda lei da termodinâmica de Einstein que afirma: “Toda matéria entregue a si mesma, tende a deteriorar-se, e não organizar-se”. Pense na complexidade do corpo humano. Estima-se que apenas nos olhos existam mais de 100 mil veias. Como a geraçãoespontânea e a matéria cega puderam organizar-se de forma tão perfeita, sem a realidade de um ser inteligente? Honestamente... eu também não tenho fé suficiente para não crer...
Quando me deparo com os limites da própria racionalidade, ou enfrento problemas e desafios maiores do que os recursos da ciência e da medicina, eu oro. Eu simplesmente não tenho fé suficiente para não orar... podem chamar este comportamento de pensamento mágico, de neurose obsessiva compulsiva, de ópio ou inconsciente coletivo, mas eu me curvo diante das impossibilidades e clamo a uma realidade transcendente que vai além da minha humanidade limitada.
O ateu não se importa com a existência de Deus. Eu, no entanto, me importo. Na minha cosmovisão, crer faz parte da natureza ontológica do homem, de sua natureza inerente, deste arquétipo divino. Portanto, creio que não há neutralidade em relação à Deus. O coração é contra Deus ou é dirigido por ele. “Pode-se negar que a existência de Deus seja demonstrável. Não se pode demonstrar que Deus não existe, disse o teólogo católico Jean-Yves Lacoste.
Por definição, o ateísmo, etmologicamente é um anti-teísmo, já que o prefixo grego “a” tem a ideia de oposição e negação. Portanto, é natural crer que o a-teu tenha uma resistência ao Sagrado. Isto também demonstra fé. Ninguém pode se opor ao nada. Se Deus não existe, porque se opor a ele? Quem brigaria e iria contra algo que não existe? Tenho percebido em alguns honestos ateus que tenho encontrado, que o problema não é filosófico, mas psicológico e emocional. O ateu tem “raiva de Deus”, não é indiferente à sua realidade, mas é opositor. Ao se opor, declara sua fé. Seria mais correto dizer: “Admito a ideia da divindade, mas não gosto desta ideia ou não gosto de Deus”.
Para MacGrath, deixar de se relacionar com Deus é deixar de ser completamente humano. Nada que não seja o próprio Deus pode esperar tomar o lugar de Deus. Quando Deus é ausente, sentimos algo indefinível de que a natureza humana nada sabe, só sabe que não o possui.
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