Prá começar, não é estranho pensar que é necessário ter um “ministério de transparência”? Que ideia mais esdruxula... Pois é exatamente isto que o governo resolve fazer... daqui a pouco precisaremos de ministério da honestidade, integridade, verdade, lealdade, fidelidade... cada dia ficamos mais embasbacados com a capacidade que o governo encontra de dar altos salários aos seus aliados, criando novas nomenclaturas.
Como se não bastasse, o ministro da transparência, que deveria implicar em alguém ilibado, que não tem nada a esconder e que deveria estar acima da crítica e da censura, Fabiano Silveira, foi flagrado em conversas gravadas criticando a operação Lava Jato e orientando investigados sobre como agir para “não serem transparentes”. Não é o cúmulo do cinismo e da obscuridade (palavra sugestiva por ser o oposto de transparência)?
Em protesto, os servidores passaram a entregar simbolicamente seus cargos afirmando que “para assumir um órgão que zela pelo patrimônio público, não pode ter nenhum tipo de mancha a imagem da pessoa”. A manutenção do ministro poderia desacreditar o produto oferecido. Seria como um vendedor de sabão que andasse com suas roupas sujas, ou vendedor de perfumes mau cheiroso. A atitude é incompatível com a função.
O problema é que todos corremos riscos semelhantes...
É fácil criticar os outros naquilo que nós mesmos somos falhos, e mais fácil ainda criticar os outros naquilo que não erramos. Apontar erros, ser moralista sem moral; falar de caráter aos filhos e ser alguém sem critério moral. O que Jesus mais observou na atitude dos religiosos do seu tempo é que eles pareciam sepulcros caiados que, por fora, se mostravam belos, mas interiormente estavam cheios de ossos de mortos e de toda imundícia (Mt 23.27).
Entre os “ais” que Jesus proferiu, a maioria deles era contra a falsa moralidade. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo...Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo!” (Mt 23.14, 24-26).
Alguns podem pensar que estou justificando o erro, mas o ponto não é este. Acho que precisamos manter um olhar crítico sobre a história, mas um olhar atento sobre nós mesmos. Todas estes fatos recentes na história do Brasil, seriam irônicos se não fossem trágicos, mas ainda há algo mais sério. Precisamos cuidar do coração para que haja real transparência porque diante de Deus não se esconde nada, de bom ou de ruim. Por isto, a transparência deve começar com confissão e reconhecimento de que precisamos de Deus até para sermos íntegros nas afirmações, julgamentos e defesas que fazemos.
Rev. Samuel Vieira
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