Luiz Felipe Pondé é um filósofo ateu da USP, que mantém uma explícita e intencional ambiguidade em relação ao Sagrado. No seu recente livro, A Era do Ressentimento, afirma: “Apesar de não ter fé, considero Deus muito inteligente”, e assim, numa empolgante dialética entre o não-crer, que ele adota, e o crer, que ele contraditoriamente abriga, faz alguns ensaios surpreendente sobre a vida, cosmovisão, ética e religião.
Para ele, esta geração é ressentida, mimada e auto centrada. Acreditando que tudo e todas as coisas devem girar em torno de suas necessidades e desejos, sem conseguir suportar frustrações nem enfrentar crises porque se julgam merecedoras de uma atenção especial, e que não podem ser contrariadas por qualquer motivo porque são facilmente ofendidas. Ele declara que “nossa época, com suas luzes e seus direitos, será lembrada como um período de trevas por conta de nossa irrelevância, causada por preocupações excessivamente pessoais. Gente medíocre a nossa volta que imagina um mundo de gente feliz”, a quem ele chama de “idiotas do bem”.
Pondé descreve um pouco deste cenário: “O filósofo alemão Horkheimer dizia que somos uma raça de abandonados, são vários os sintomas desta raça, entre eles, o ressentimento. Exigimos uma importância maior que temos no universo (...) Os ressentidos culpam os outros ao invés de assumirem a própria vida (...) Daqui a 1000 anos nossa geração será lembrada como mimados, ressentidos e covardes”.
Ele continua: “A elevação dos direitos e benefícios tangíveis leva as pessoas, inevitavelmente, a uma mentalidade vil que oscila entre ingratidão, na melhor das hipóteses – pois porque razão elas deveriam ser gratas por receberem algo que é um direito – e na pior das hipóteses, ressentimento”.
Você já parou para considerar quão perigosa é a armadilha da amargura, ressentimento e vitimismo? Quando adentramos a estrada da auto piedade e auto comiseração penetramos uma rota da ingratidão e perda da celebração. Como dizia Norman Vincent Peale: “Ser agradecido faz todas as coisas melhores!” Já viram pessoas lamurientas com capacidade de celebração? Mesmo quando as coisas estão bem, e as circunstâncias favoráveis, elas logo encontrarão motivos para reclamaram e falarem mal. Não é a situação que está ruim, mas o coração.
Pondé ainda afirma: “Quero apontar o fato evidente de que as manias de luxo dos mimados ocidentais os fazem crer ser possível fazer alguma diferença com suas causas no facebook (...) Nos afogamos em mimos de gente rica e chique que falam de um mundo melhor enquanto tomam vinho chileno com segurança”.
Portanto, tome cuidado com o ressentimento, afinal “O ressentimento é a única emoção humana que pode durar a vida inteira, pois provê infinitas justificativas para suas más ações”.
Rev. Samuel Vieira
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