Todo ser humano precisa de terapia, em certo nível.
Estou usando o termo “terapia” não necessariamente como uma ajuda profissional, feita por pessoas com alto nível de treinamento acadêmico e psicológico, que certamente é válido e tem um lugar todo especial na saúde emocional, mas refiro-me à capacidade de encontrar espaço e pessoas onde a dor possa ser manifesta, sem que haja condenação e julgamento. Todos precisamos de alguém para poder falar da dor sentida. Se não há ambiente para auto revelação, confissão, admissão de culpa, medo, vergonha ou raiva, é fácil introjetar a dor e adoecer severamente.
Algumas culturas, étnicas, religiosas, familiares e comunitárias, são mais propensas a criar este “espaço terapêutico”, enquanto outras, co-dependentes, legalistas e moralistas, tendem a impedir que a dor seja revelada. O resultado será sempre a amargura, a raiva não elaborada e o adoecimento físico.
Considere por exemplo a cultura negra e a branca nos EUA. Estudos revelam que a psicoterapia profissional teve uma penetração muito mais forte no meio dos brancos que dos negros. Por que? A cultura branca tende a ser mais individualista, valoriza demais a privacidade e a reputação, enquanto a cultura negra é mais comunitária e participativa. Entre as famílias negras, é fácil encontrar a figura de um “conselheiro”, que pode ser o avô, uma tia, ou até mesmo alguém que passa a ser considerado por todos como capaz de orientar, apoiar, censurar e questionar. Este personagem familiar torna-se a referência terapêutica da família, e ajuda muito nos processos de escolha, decisões e crises pessoais ou relacionais.
A Igreja Católica desenvolveu a ideia da confissão, na qual o paroquiano admite seus erros ao sacerdote. Neste ambiente de sigilo e preservação de segredos e privacidade, muitos são curados pelo simples fato de dizer: “Pequei”. A admissão da falha, e a penitência que consiste de alguns atos religiosos, traz cura e catarse, ainda que tais métodos, historicamente, tenham sofrido certas distorções e equívocos.
Precisamos de espaços para admitir a dor, confessar a culpa, expressar a raiva e ressentimento. Precisamos de terapia. Encontrar alguém que nos ouça e eventualmente nos questione e censure, gestos, comportamentos e atos, pode ser libertador. Quando não somos capazes de entrar em contato com a dor, eventualmente explodimos. Por esta razão é que não raramente ouvimos falar de pessoas que tiveram uma crise desproporcional de raiva ou se divorciaram, embora os sinais desta erupção vulcânica emocional nunca tenham sido percebidos pelos amigos e parentes.
Quando isto acontece é porque falta espaço para dizer: “tá doendo!” ou “não sei como fazer”, ou “errei, pequei” e ainda “preciso de ajuda”.
A Bíblia fala da confissão como um meio de cura. Este processo terapêutico, porém, precisa de canais, ambientes, espaços e ambientes. Afinal, todos precisamos de terapia.
Rev Samiel Vieira
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