Devocional baseado em Êxodo 16. 1-3 - E, partidos de Elim, toda a congregação dos filhos de Israel veio ao deserto de Sim, que está entre Elim e Sinai, aos quinze dias do mês segundo, depois que saíram da terra do Egito. E toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra Arão no deserto. E os filhos de Israel disseram-lhes: Quem dera que nós morrêssemos por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! Porque nos tendes tirado para este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão. [Êxodo 16. 1-3]
O povo israelita sai de Elim rumo ao deserto de Sim, diz o texto bíblico em Êxodo 16.1. Ora, caso se passe rapidamente pelo texto não se percebe a riqueza dessa breve narrativa. A terra de Elim era um oásis e ali havia 70 palmeiras e outras plantas, além de 12 fontes donde jorravam 80 litros de água doce por segundo (Números 33.9). A terra de Elim era um paraíso. E o povo estava agora no deserto. O deserto é terra árida, estéril, onde a pouco vida existente é venenosa. Então, o povo de Israel passa da libertação a murmuração.
O que aprendemos dessa história sobre as nossas próprias vidas?
1. Esquecemos facilmente da bondade de Deus. Havia apenas um mês (!) que o povo tinha saído da escravidão do Egito, mas, ao mesmo tempo, já existia murmuração. Nem todo o milagre, até mesmo da abertura do Mar Vermelho, deixou o povo com o coração quieto e pacificado. A nossa memória é fraca para a benevolência, mas não esquecemos o mal feito a nós. Todavia, diante do mal precisamos lembrar-nos da palavra do profeta: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações 3.20 ARA). Um antídoto para o esquecimento é um espírito agradecido: “Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus” (1 Tessalonicenses 5.18); “Dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 5.20); “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Colossenses 3.17).
2. Se é fácil esquecer os grandes milagres, ainda mais o suprimento cotidiano. O povo em murmuração não se lembra da terra de Elim, mas sim do Egito (Êxodo 16.3). Se havia um mês que eles tinham saído do Egito havia apenas alguns dias da saída de Elim.
3. Se o nosso coração está mergulhado na murmuração nem a expectação do milagre nos tira de um ciclo de falta de fé em Deus. É impressionante o número de milagres que os israelitas contemplam, mas na mesma proporção eles murmuram. A frase “murmurar contra” aparece setes vezes no capítulo 16. O murmúrio é fruto de uma cegueira. Diz o apóstolo Paulo: “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Romanos 1.21).
4. A murmuração é um pecado contra Deus. Embora a murmuração fosse direcionada aos líderes do povo (Moisés e Arão), Deus é o objeto último da reclamação (Êxodo 16. 7). O coração cínico, amargo e insatisfeito pode até ofender o próximo, mas no final é Deus quem está sendo ofendido. A falta de esperança e confiança em Deus é um ato pecaminoso. Ora, “sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.” (Hebreus 11.6 NVI).
5. Na murmuração passamos a idealizar um passado inexistente e um futuro improvável. Um escravo raramente comia carne, mas eles passaram a dizer que no Egito estavam juntos às panelas de carnes. Eles passavam grandes necessidades, mas agora diziam que estavam diante de fartura de pão no Egito. O passado, de repente, ficou bom. Eles preferiam a segurança fora da vontade de Deus do que viver pela fé. A murmuração nos prende ao passado.
6. O murmurador faz uma leitura distorcida e maliciosa da realidade. Eles começaram a se enxergar como vítimas de uma conspiração de Moisés. “Observe que não é novidade que as maiores generosidades sejam mal interpretadas e maldosamente descritas como as maiores ofensas” (Matthew Henry).
7. O murmúrio é contagioso e atinge “toda a congregação” (v 2). O murmúrio começa em tom baixo, entre um ou dois indivíduos, mas nenhum murmúrio morre por aí. O murmúrio sempre é contagioso.
8. A murmuração nasce de um desejo de imitação. É comum o murmurador se comparar com o outro. E esse comparação nem sempre é para o melhor. “Até mesmo os dois ladrões crucificados ao lado de Jesus não constituem uma exceção ao mimetismo universal: eles também imitam a multidão, vociferando como ela. Os seres mais humilhados, mais massacrados, comportam-se da mesma maneira que os príncipes desse mundo. Eles uivam com os lobos. Quanto mais somos crucificados, mais desejamos participar da crucificação de alguém mais crucificado ainda” (René Girard).
Por Gutierres Fernandes Siqueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça comentários produtivos no amor de Cristo com a finalidade de trazer o debate para achar a verdade. Evite palavras de baixo calão, fora do assunto ou meras propagandas de outros blogs ou sites.