Mais uma vez está chegando o Natal. Naturalmente surge um clima de agitação e burburinho, reflexo do cansaço e stress alternados com expectativa e planejamento. Hora de balancetes, orçamentos, relatórios, entrega de trabalhos, TCCs, notas, viagens, presentes de natal, agitação das compras, lojas lotadas e supermercados concorridos.
Quando Machado de Assis estava mais velho fez a seguinte indagação: “O natal que mudou, ou fui eu?”. Obviamente o Natal continua o mesmo, mas se não tomarmos cuidado, poderemos esvaziá-lo e torná-lo sem sentido. Qual é a sua mensagem?
Natal é, antes de tudo, a lembrança de um evento histórico e geográfico. Quando os anjos anunciam aos assustados pastores a notícia do nascimento de Jesus, lhes declarou: “Hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador”. Os anjos situam o evento no tempo e no espaço. Não se trata de um mito ou lenda como a de papai noel, duendes e fadas. Naqueles dias, César Augusto era o Imperador de Roma; Quirino era governador da Síria; Herodes, o grande, rei em Israel. Jesus não é um evento a-histórico, metafísico, mas um acontecimento que tem data. Sua geografia também é conhecida, Na cidade de Davi (Lc 2.11,15). Os céus invadem a terra, o não temporal se torna temporal, o espiritual se encarna.
Os anjos ainda anunciam que o natal seria marcado por um sinal quando dizem: “E isto vos servirá de sinal”. Qual é o grande sinal do Natal? Os anjos o descrevem: Uma criança deitada numa manjedoura, num coxo onde os animais se alimentavam. Este é o sinal. Se não o observarmos, perderemos a mensagem. Este sinal aponta para algumas direções:
O primeiro é o de vulnerabilidade. Uma criança, de colo, completamente frágil, nascendo num ambiente insalubre, não esterilizado, dependendo dos cuidados de uma adolescente que afirmava ter sido engravidada pelo Espírito Santo. Não é estranho este mistério da encarnação? Este é o paradoxo do Deus da Bíblia. Um Deus humano, vulnerável, que deixa sua glória para se humanizar. O infinito se torna finito numa pessoa, num local e num tempo específico da história.
O segundo sinal é o da simplicidade. Ele estava deitado num coxo num curral na periferia de Belém, lugar onde abrigavam animais, tudo demasiadamente simples. O Deus que se torna humano, poderia ter nascido em qualquer lugar, mas decide ser acolhido por gente simples como os pastores. A maior revelação de Deus na história se faz sem nenhuma pompa, esta é a característica marcante do natal. A figura da criança revela a fraqueza dos homens e a instrumentalidade divina. Manjedoura é sinal de humildade. Há uma denúncia clara neste nascimento no meio de tanta simplicidade.
Qual deve ser nossa resposta ao Natal? Um dos aspectos mais negativos do Natal, tem sido a reação de descaso com o nascimento deste menino. No meio da agitação do final de ano, tendemos a desviar nossa atenção e a perder o foco. O Papai Noel, figura simbólica do Natal facilmente rouba a cena do evento do Natal.
Muitas famílias estarão se reunindo neste natal. Se não tomarmos cuidado podemos perder de vista o nascimento do Messias. A espiritualidade do Evangelho nos conduz até Belém. Ali está todo mistério de Deus revelado. Este menino revela-nos a imagem de Deus. Percebê-lo como ele é nos faz nos faz aproximar da divindade, e nos torna mais humano, assim como ele é.
Rev. Samuel Vieira
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