Um dos maiores temores dos homens é perder o controle de sua própria história. George Steiner, controvertido novelista judeu, escreve seu romance ficcional partindo da ideia de que Hitler não teria morrido nas chamejantes ruinas de Berlim em Maio de 1945, mas teria fugido para a América Latina onde se escondeu na selva durante décadas, até ser finalmente capturado em San Cristóbal.
Os argumentos de Hitler, na ficção de Steiner, são extremamente provocativos. “O meu racismo era uma paródia do de vocês” defende-se Hitler. “Eu o aprendi com Jacob Grill, um rabino polonês em 1910... Julguem a mim e terão de julgar a vocês mesmos, os escolhidos! Houve intenção mais calculada para ferir a existência humana do que a de um Deus onipotente, que tudo vê, mas é invisível, impalpável, inconcebível?”. Neste romance, Hitler insinua que os judeus criaram o conceito da “chantagem da transcendência”, criando um Deus soberano e poderoso.
Admitir a possibilidade de um Deus supremo e absoluto, transcendente e Todo-Poderoso, gera calafrios em muitos, afinal, como afirma Os Guinness, “O Deus do Sinai não proibiu somente ídolos rivais, mas também imagens que o representassem. Ele não permitiu a imaginação”. O Novo Testamento descreve a figura de Jesus de forma direta e sem concessões. “Segue-me!” A resposta do discípulo de Cristo igualmente precisa ser pronta. Um ato de obediência, e não apenas confissão de fé em Jesus.
Como lidar com o Deus que exige obediência e submissão? Certa pessoa chegou mesmo a afirmar: “eu não gosto da ideia de um Deus que quer ser Deus”. Neste diálogo, tive que responder que o único ser que pode fazer reivindicações divinas é Deus, porque só ele possui prerrogativas da divindade. Por isto o primeiro mandamento é “Não terás outros deuses diante de mim”. O Deus judaico-cristão exige exclusividade na adoração. “Não terás diante de mim imagem de escultura, não a adorarás nem te curvarás diante delas”, este é o segundo mandamento. O Shemah hebraico, repetido pelos judeus diariamente era: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor!”.
Na nossa teomania (mania de ser deus), nos assustamos transferir nossos direitos a um Deus que vai além de nós mesmos, afinal, não somos nós os únicos responsáveis pela nossa história? Assim pensamos e assim agimos. Nossa cultura não sente necessidade de Deus. Podemos admitir que existe um Deus, mas na prática somos ateus. Deixar Deus assumir o controle da história, e o simples fato de ter que admitir que não somos senhores do destino, gera profundo desconforto interno. Não queremos deixar que Deus seja Deus.
Rev. Samuel Vieira
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